Henry estava sedento por sangue.
Há dias que não tinha uma refeição descente. Apesar de ser um vampiro Secundário e possuir certas regalias, como andar despreocupadamente em plena luz do sol, não era muito fácil para ele encontrar um alvo solitário e vulnerável o suficiente para saciar sua sede.
Ele retirou do bolso da calça e, mais uma vez, releu atenciosamente o bilhete que Marlon lhe enviara. Quem diria que um dia aquele poço de sedução e ignorância se daria ao trabalho de aprender a escrever? Se, por um lado, aquilo lhe despertava o interesse, por outro, o aborrecia um pouco. "Quanto mais rústico e leigo, melhor!" Era o que sempre repetia para si mesmo.
Encontre-me na floresta onde nos conhecemos.
Tenho um serviço para você e estou certo de que
sabe perfeitamente qual será o pagamento.
Marlon
Henry voltou a guardar o papel no bolso. Seu olfato extremamente aguçado ainda sentia o cheiro de Marlon no bilhete. Ele quase podia visualizá-lo escrevendo-o, com seu braço roçando no papel. O seu braço musculoso e cheio de veias que pulsavam com seu delicioso sangue de lobisomem, o melhor tipo de sangue que existia. Apenas algumas gotas deixariam Henry saciado por semanas.
Conteve o impulso de lamber os lábios. Não queria que Marlon percebesse o quanto estava louco por sangue. Não poderia mostrar fragilidade ou Marlon o usaria o máximo possível.
Não que a ideia o desagradasse de algum modo.
Marlon surgiu em meio às árvores logo depois. Ele mudara pouco desde a última vez em que se encontraram. O cabelo e a barba estavam mais curtos, mas era apenas isso. Possuía os mesmos cabelos castanhos, os mesmos olhos escuros, as mesmas sobrancelhas grossas e o mesmo porte atlético de sempre. Não era muito diferente do estereótipo da maioria dos lobisomens, contudo, eram poucos os que conseguiam atingir um nível de aparência tão apresentável quanto o dele.
- Bom dia, Marlon! - cumprimentou Henry assim que o viu. Mesmo de longe, Marlon conseguiu enxergar o brilho avermelhado em sua íris. - Senti sua falta.
- Sentiu minha falta ou falta do meu sangue? - Marlon sempre fazia esta mesma pergunta para ele, porém, se inicialmente soava como uma brincadeira, com o passar dos anos, passou a parecer uma acusação.
- Não tente confundir-me. Sabe que gosto de imaginar vocês dois como uma única coisa. Fica mais fácil para mim. - brincou ele tentando, inutilmente, fazê-lo rir. Marlon ficava mais bonito quando sorria, pois perdia sua carranca de lobo raivoso que sempre surgia quando estava próximo a qualquer vampiro Secundário. Existiam apenas duas coisas que Henry não detestava nos lobisomens e elas eram seu sangue e Marlon. - Recebi seu bilhete. Parece que alguém aprendeu a escrever. Só precisa melhorar um pouco a estética da letra. Quase confundi seu f com um j.
- Não vai querer saber qual é o serviço que tenho pra você? - como sempre, Marlon evitou entrar em qualquer outro assunto com Henry. Não queria distrações e quanto mais rápido se livrasse da companhia dele, melhor.
- Estou mais interessado no pagamento.
Em um piscar de olhos, Henry sumiu da árvore onde estava encostado e reapareceu bem na frente de Marlon. Ele sentiu a mão de Henry envolver seu pulso e erguê-lo até a altura dos lábios.
- O que acha de oferecer-me um pagamento adiantado?
Com um movimento brusco, Marlon soltou o pulso da mão de Henry.
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O Mundo Que As Sombras Escondem
FantasíaO mundo está longe de ser como você imagina. Não significa que porque você nunca viu algo que ele necessariamente não exista. Sou a prova viva disso. Mas vamos ao que realmente interessa, pois esta história não se trata apenas de um mundo do q...