Nimbus relinchou alto assim que viu Marlon entrar no estábulo da casa de Thierry, o que assustou Joseph. O homem virou-se na direção deles com um salto e tinha uma faca ensanguentada em mãos.
- O que significa isso? - gritou Thierry ao ver a lâmina.
- Mil perdões, senhores. A sua chegada repentina acabou assustando-me e...
- Estou falando desta faca, idiota! De quem é este sangue nela?
- Faca? - Joseph olhou surpreso para as mãos sujas de sangue como se só agora tivesse se lembrado da arma perigosa que carregava. - Não é minha, senhor. A encontrei enfiada no novo cavalo de seu pai. A fera nos atacou novamente.
- Fera? - perguntou Marlon.
- Joseph acredita que uma fera esteja atacando nossos animais.
- Tenho a mais absoluta certeza. O senhor também teria se a visse. Ela parece uma pessoa extremamente idosa e é surpreendentemente pálida. Não tenho muitos mais detalhes porque só a vi de longe duas vezes. A primeira, quando esperei amanhecer para contar tudo ao seu pai, e a segunda, ontem à noite. Desta vez tomei coragem e corri até a criatura. Ela fugiu, mas, como estava tudo muito escuro e eu saí em disparada atrás dela, só fui perceber agora a faca enfiada no pobre animal. - as palavras de Joseph saíam rápidas e atropeladas. Gotas de suor escorriam por sua testa enquanto ele gesticulava e contava toda história com os olhos fixos em um ponto qualquer entre os pés de Marlon. Ele parecia completamente insano.
Thierry espantou-se em como a descrição de Joseph sobre a fera condizia perfeitamente com a do velho que atacara Thierry dentro da floresta. A única diferença entre os dois eram as queimaduras causadas pelo sol. Por isso a fera que matava os seus animais os atacava à noite, ela queria ter certeza de que estaria protegida.
Contaram-me que, em cidades do interior, muitas pessoas têm sido mordidas por estas bestas também. Ninguém está seguro. Então teria sido esse o motivo de Thierry ter sido atacado? Porque, diferente de quando ele estava na cidade, ali ele não possuía qualquer proteção?
A fera não atacava animais por preferência, mas por falta de opção. No fundo, ninguém estava realmente seguro.
- Sinto muito que tenha passado por isso, Joseph. - Thierry não ficou surpreso por Marlon saber o nome de Joseph. - Eu... Eu tenho que ir, então... Não posso partir sem Nimbus. - concluiu ele parecendo constrangido por pedir seu cavalo de volta depois do ocorrido. Marlon apenas queria sair dali o mais rápido possível antes que sua expressão denunciasse que ele reconhecera a adaga ensanguentada. A ceifá era uma lâmina extremamente fina feita de prata pura. Algumas facções de vampiros Primários as confeccionavam para defenderem-se de lobisomens e para apunhalar suas vítimas, uma vez que suas presas são frágeis demais para perfurar a pele animal.
- Certamente que não pode. - confirmou Joseph.
Marlon esperou que Joseph fosse buscar Nimbus ou simplesmente saísse da sua frente para que pudesse ele mesmo pegá-lo, mas o homem ficou estático como se esperasse que ele dissesse mais alguma coisa.
- Joseph, eu preciso do meu cavalo. - repetiu Marlon lenta e suavemente para tentar fazer-se entender.
- Sei disso, senhor Marlon.
- Joseph! Vá buscar o cavalo do senhor Marlon! - bradou Thierry, fazendo com que Joseph se assustasse pela segunda vez antes de sair correndo até Nimbus.
- Não precisava falar assim com ele. - sussurrou Marlon assim que Joseph se afastou.
- Só pegue o cavalo e vá embora com Recife de uma vez. Saber que ele está lá fora sem ninguém vigiando e perturbador.
- Não precisa disfarçar todo seu ciúme, Thierry. Não é como se eu não soubesse sobre ele.
- Apenas cale a boca.
Assim que Joseph entregou as rédeas de Nimbus para Marlon, ele saiu em silêncio do celeiro, puxando o cavalo em direção à Recife. O tritão se encontrava a alguns metros de distância, olhando para toda aquela extensão verde como se procurasse algum sinal de água. Marlon logo ignorou o pensamento tolo. Tritões não podiam sentir ou controlar a água. Apenas sereias possuem esta capacidade.
Marlon abriu a boca para chamar Recife, mas interrompeu-se ao sentir a mão de Thierry tocar seu ombro. Ele sabia que estava sendo seguido. Simplesmente podia ouvir seus passos sobre a grama.
- Veio pedir desculpas pela grosseria? - perguntou, virando-se para ele.
Ele inspirou profundamente antes de tomar coragem para dizer o que queria a Marlon.
- Só queria saber se você vai voltar amanhã.
- O que o faz pensar o contrário?
Thierry fitou Marlon e pensou no que ele lhe dissera na floreta sobre beleza relativa. Para alguém como Thierry, que aprendera a se conformar desde cedo que ninguém fora de sua família chegaria sequer a suportá-lo, era difícil acreditar em alguém dizendo amá-lo. Depois de tudo pelo que passaram juntos, tinha receio de que se deixasse Marlon partir ele nunca mais voltaria.
Mas, se ele realmente quisesse que aquilo desse certo, ele precisava confiar que voltaria.
Ele queria acreditar que voltaria.
- Nada. - respondeu.
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O Mundo Que As Sombras Escondem
FantasyO mundo está longe de ser como você imagina. Não significa que porque você nunca viu algo que ele necessariamente não exista. Sou a prova viva disso. Mas vamos ao que realmente interessa, pois esta história não se trata apenas de um mundo do q...