Déjà Vu

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Uma sensação reviver o mesmo momento passou por Thierry assim que ele deparou-se com Marlon assim que acordou. Ele estava sentado na mesma poltrona do mesmo quarto e o encarava com a mesma expressão preocupada.


- Pensei que demoraria mais para acordar desta vez. Sabe por quantas horas dormiu?


- O suficiente para não precisar dormir nunca mais, espero. - respondeu Thierry com um suspiro. - Suponho que tenha passado a noite nesta poltrona novamente.


- O que posso fazer? Ela é extremamente confortável.


Marlon se movimentou de um lado para o outro na poltrona fazendo-a ranger. Thierry reprimiu um sorriso, algo que nunca pensou que faria em toda sua vida. Diferente da última vez que estivera naquele quarto, a sua memória estava perfeitamente intacta, mas ele estava ainda em dúvida entre o que havia sido sonho, o que havia sido delírio e o que havia sido realidade.


- Sinto muito por ter batido em você. - ele murmurou. O pedido estava mais para uma tática para descobrir a realidade do que qualquer outra coisa. - Estava fora de mim. Não quis machucá-lo de verdade.


- Sei disso.


Thierry aguardou que Marlon completasse alguma coisa, mas ele parecia saber de sua confusão e estar divertindo-se com aquilo. Ou talvez não estivesse. Não dava para ter plena certeza.


- Certamente o senhor não estava esperando pelo que fiz. Devo tê-lo pego de surpresa. - ele esperava que Marlon compreendesse o duplo sentido da frase.


- Devo dizer que realmente fiquei bastante pasmo.


- Pasmo?


- Jamais esperei tal atitude vinda do senhor.


- Não?


- Se bem que o senhor sempre me deu alguns sinais... E sempre me pareceu alguém bastante impulsivo. Mais impulsivo que eu mesmo.


Thierry havia se confundido em seu próprio jogo. Agora não sabia mais sobre o que estavam falando. Sobre o soco ou sobre o beijo?


- Como foi a sensação? - aquilo o ajudaria bastante.


- Não sei se existe alguma palavra que possa descrever. - Marlon levou a mão ao queixo, parecendo pensativo.


- Então invente uma, oras. - resmungou entre os dentes. Já estava farto de toda aquela confusão.


- Por que o senhor mesmo não me diz?


Aquilo sim parecia promissor.


- Por incrível que pareça, nunca levei um soco. - ele arqueou a sobrancelha de um modo sugestivo. - Mas não é disso que estamos falando, não é?


Os cantos da boca de Marlon ergueram-se em um sorriso sutil e contido. Thierry olhou para ela e depois para Marlon como que fazendo um pedido para que não se reprimisse. Não queria que fosse como ele. O fato de não reconhecer qualquer traço de sua personalidade complicada em Marlon era o que o tornava tão especial.


Como de costume, Marlon foi incapaz de conter-se por mais um minuto sequer e sorriu. Thierry desejava vê-lo deste mesmo modo desde que havia acordado ao seu lado na manhã anterior.


- Lógico que não estamos.


Marlon estendeu sua mão para Thierry e este a segurou com força. Agora não havia mais motivos para esconderem o que sentiam um pelo outro. Tudo estava como deveria estar. Tudo estava certo.


Bom, nem tudo. Uma pendência ainda precisava ser resolvida.


O Mundo Que As Sombras EscondemOnde histórias criam vida. Descubra agora