Marlon não conseguia acreditar no que via, ou melhor, no que ouvia. Thierry estava realmente gargalhando?
Conteve, a muito custo, o próprio riso. Tinha plena consciência do quanto caçoar do pobre homem bêbado desmaiado era errado, porém o som da risada de Thierry era incrivelmente contagiante.
Percebendo que estava sendo observado por Marlon, Thierry conteve-se em sua euforia.
- Pare de olhar-me assim. - pediu ele já com sua típica impaciência na voz. - Tem que admitir que isto tem lá sua graça.
- Pensei que não achasse graça em coisa alguma. Não que eu esteja reclamando. Longe disso! Eu apenas... - a frase de Marlon perdeu-se em meio ao seu sorriso de puro encantamento.
- Fique sabendo o senhor que, vez ou outra, abro algumas exceções. - admitiu Thierry, parecendo um pouco desconfortável enquanto passava as mãos pelos cabelos e pelas roupas, recompondo-se. Não queria que Marlon o visse daquele modo relaxado. Ele já presenciara demais de sua vulnerabilidade para um único dia. - E este caso é particularmente digno delas.
- Bom, por mais que eu queira prolongar esta conversa, acredito que não seja muito adequado deixar Claude jogado no chão.
- Claude? - perguntou Thierry.
- Não me diga que não sabe o nome do seu próprio cocheiro.
- Não lembro o nome da maioria das pessoas que conheço. Mas estou surpreso que você saiba o dele.
- Deveria conversar mais com as pessoas, sabia? Teria mais amigos com um pouco de esforço. - aconselhou Marlon. Thierry permaneceu inexpressivo. Não parecia alguém disposto a fazer amizades. - Agora, ajude-o a ficar em pé enquanto levo a galinha para dentro.
- Eu levo a galinha. - disse Thierry enquanto tomava a ave morta da mão de Marlon. - Você pode cuidar dele. - falou enquanto ganhava distância dos dois rapidamente.
O lobisomem não ficou surpreso com a atitude de Thierry. Era óbvio que ele preferiria carregar uma galhinha morta a ajudar uma pessoa.
Marlon passou um dos braços de Claude por cima de seus ombros com a mão direita enquanto o segurava pela cintura com a esquerda. Não seria um trabalho difícil. Claude era bastante leve.
Um barulho vindo de dentro da floresta chamou sua atenção. Marlon virou a cabeça para o local de origem do ruído e respirou fundo. O cheiro forte de sangue invadiu suas narinas. Ele não precisava de muito mais informações. Sabia que Henry estava em algum local próximo e que se alimentara recentemente de algum pobre coitado.
- Não pôde esperar não foi? - sussurrou, sabendo que ele ouviria. - O que foi isso? Um aviso? Uma ameaça?
Nenhuma resposta. Claro que não haveria. Henry não arriscaria ser visto.
- Encontre-me à meia-noite. - foi a última coisa que disse antes de entrar na estalagem de Jacques e fechar a porta.
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O Mundo Que As Sombras Escondem
FantasyO mundo está longe de ser como você imagina. Não significa que porque você nunca viu algo que ele necessariamente não exista. Sou a prova viva disso. Mas vamos ao que realmente interessa, pois esta história não se trata apenas de um mundo do q...