Bourreau de Poulet

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Marlon estava sentado à mesa com Jacqueline à sua direita e Jacques à sua esquerda. Os dois conversavam animadamente, pedindo detalhes sobre a missão de Marlon, mas este só tinha olhos para o corredor formado pelas portas dos quartos. Apesar de pai e filha repetirem o tempo todo que Recife não oferecia qualquer risco a Thierry, pois o tritão tinha perfeita consciência do risco que corria trancado no mesmo ambiente em que dois lobisomens, Marlon permanecia receoso. Estava certo de que, no momento em que sua atenção vacilasse, Recife sairia de seu quarto e entraria no de Thierry a fim de ter uma última refeição antes da viagem.

- Se tem tanto medo de que a fome torne Recife perigoso, por que não o alimenta? Temos muitas galinhas no quintal. Não será para ele a mesma coisa que carne humana, mas o manterá estável. - disse Jacques ao perceber o quanto a mente de Marlon estava distante dele e de sua filha.

Marlon assentiu e seguiu até o corredor.

- Aonde vai? - perguntou Jacqueline.

- Chamar Thierry. Quero ficar de olho nele.

- Podemos fazer isso por você. - disse Jacques.

- Sinto muito, mas ele é responsabilidade minha. - desculpou-se ele sem querer dizer que não tinha mais tanta confiança na proteção que os dois poderiam oferecer. Os Jacques nem sequer deram-se ao trabalho de procurar por Thierry quando este não voltou mesmo após Marlon pedir que o protegessem. Tudo bem que nenhum dos dois aparentava ter gostado muito da personalidade Thierry (algo que Marlon era incapaz de compreender), mas o que custava suportá-la por alguns minutos?

Marlon bateu repetitivamente na porta do quarto onde seu Beliz estava e aguardou que ele a abrisse.

- O que quer? - perguntou Thierry após abrir a porta com força. Aparentemente, a aventura na floresta não era exatamente o que Thierry precisava para despertar seu bom humor, apesar dele, segundo o que contara a Marlon, acreditar que havia desmaiado de repente.

- Quero que venha comigo. Irei matar uma galinha. - Marlon falou como se fosse a coisa mais divertida do mundo. Ele não tinha a mesma fraqueza quando o assunto era morte de animais. Não há espaço para isso quando se trabalha com o pai em um açougue.

- E o que tenho com isso? Quer que eu faça os votos fúnebres?

- Vamos. Será, no mínimo, interessante.

- Sabe o que seria mais interessante? Nós dois saindo deste lugar e voltando para casa.

- Não chegaríamos em casa antes do sol se pôr e as estradas daqui são muito perigosas a esta hora da noite. Além do mais, seu cocheiro não está em condições de viajar.

- Como se eu não soubesse disso. Da próxima vez, diga aos seus amigos que é bastante indelicado da parte deles sair por aí embebedando cocheiros alheios durante o horário de trabalho.

Marlon engoliu em seco. Embebedar o cocheiro fazia parte de seu plano. Ele sabia que não convenceria Thierry a ficar sem um bom motivo. Era isso ou eles se deparariam com vários vampiros Primários caminhando despreocupadamente em meio à estrada quase sempre deserta à noite.

- Ao menos ele se divertiu.

- Ele não é pago para se divertir.

- Ora, Thierry. Não é o fim do mundo. - Marlon sussurrou próximo a ele. - Olhe pelo lado bom. Nós passaremos mais uma noite sob o mesmo teto.

- Sim. Eu, você, seus dois amigos esquisitos, um completo estranho e meu cocheiro. Estou realizando um sonho!

Marlon respirou fundo. Tudo bem. Talvez ele entendesse um pouco o porquê dos Jacques não gostarem de Thierry.

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