Capítulo 11

2.6K 291 10
                                        

Danielle

Meu coração dispara quando escuto o barulho da porta do escritório abrir. Eu pensei a noite toda sobre como Brandon McAllister é, como ele mesmo diz, peculiar. Eu pensei em não voltar pro trabalho e confesso que imaginar ele me observando com Mark me dá uma sensação esquisita.
Ele repetiu constantemente que eu sou a última mulher do mundo que poderia despertar nele qualquer interesse. Foi por isso que ele me contratou. Então se ele me considera tão repulsiva, por que me observaria? Por que diabos tentaria me beijar?
Ele deve ser aquele tipo de gente esquisita que aparece em documentários bizarros. Sinto um calafrio me percorrer. Ele é controlador, dominante em qualquer coisa que faça na vida. Deve ser uma puta briga com seu ego estar inclinado a me achar um ser humano de verdade. Deve ser bem difícil pra ele me olhar através dos conceitos que ele tem sobre meu corpo.
Eu concluo que ele pode até gostar de mim APESAR de eu ser gorda. E isso me ofende profundamente.
Ele já me chamou pejorativamente de todos os apelidos de gorda que existem no mundo. Já fez piada com o tamanho da minha bunda, dos meus peitos. Já me diminuiu absurdamente, desprezando minha inteligência só pela minha forma física. E mesmo assim eu voltei. Eu o acho louco, mas a louca aqui sou eu. Eu queria ser o tipo de pessoa que desiste fácil das coisas nessas horas. Mas não sou. Então, aqui estou, sentada no sofá da sala do homem mais obnóxio que eu já conheci na vida. Não sei se sou tão diferente dele.
Ele gosta de mim apesar de eu ser gorda. E eu gosto dele apesar dele ser odioso.
Eu decidi fingir que nada aconteceu, e é assim que eu pretendo passar este dia. Fiz um acordo comigo mesma, se eu sobreviver a hoje sem nenhuma menção ao que ocorreu, eu continuarei trabalhando aqui. Afinal, eu mesma ignorei a política da empresa, dizendo que o que ocorre lá fora não interfere no lado profissional.
- Bom dia. - minha voz sai meio vacilante e Brandon me encara duramente, me cumprimentando com a cabeça, mas vejo um certo alívio na forma como ele suspira.
Sei que ele não está envergonhado. Talvez ele esteja só feliz por ter conseguido me fazer obedecer denovo, afinal eu vim hoje, não é?
- Separei umas mídias pra você. Estamos atrasados com o trabalho de ontem. - falo apontando a caixa catalogada sobre a mesa dele.
- Obrigado. - ele se senta e vira a cadeira de costas para olhar pra fora.
- Senhor. - falo me levantando do sofá e sem nenhuma menção provocativa desta vez, embora o ouça respirar fundo. - Podemos começar?
- Sim. - ele continua de costas e não consigo evitar uma careta com sua frieza. Até sinto saudade dos xingamentos. - Tem um jantar na minha casa hoje, é para poucas pessoas, com outros produtores. Gostaria que você fosse. Será bom pra você fazer contatos.
- Estritamente profissional? - antes que eu possa pensar muito sobre o assunto já perguntei.
Ele vira a cadeira e me encara assentindo. Está com tantas olheiras quanto eu e e parece mais pálido. A barba perfeitamente aparada. Controle. Irrestrito controle.
- Pode me encaminhar o endereço então. Estarei lá. - concordo e seu olhar me dá uma sensação peculiar.

Desço do táxi boquiaberta. A casa de Brandon é grande como seu ego. É uma impressionante construção em concreto e vidro. Ele tem obsessão pela transparência do vidro, aparentemente. Talvez porque sua alma seja completamente opaca e obscura.
Há uma pequena escada contornada por arbustos, cujo verde contrasta com o cinza do cimento. A porta é opulenta, como se fosse dar passagem a seres imensos em vez de pessoas.
"Bom, agora vai dar passagem a um ser imenso, pelo menos.", rio de mim mesma ao tocar a campainha. Um homem perfeitamente trajado me atende e se oferece pra segurar meu casaco. Eu sinto até um pouco de frio quando fico somente de vestido, já que o ambiente é grande e climatizado.
Sigo o mordomo até outro ambiente, e ele chama a atenção de Brandon para minha presença. Ele se encarrega de me apresentar aos demais convidados.
Pego uma taça de bebida e fico próxima ao bar, olhando a piscina iluminada lá fora.
- Você não imagina as festas que fazemos aqui. - a voz inconfundível da loira magra e linda Larissa me tira a atenção da água lá fora.
- Ah, posso imaginar. - levanto as sobrancelhas pra ela.
- Meu Deus, você não cansa de ficar estonteante nesses vestidos. - ela coloca a mão na minha cintura.
Eu adoro este vestido, ele é justo, mas não me deixa parecendo tão enorme. É verde esmeralda com algumas flores delicadas. Toda vez que uso qualquer roupa nesta cor me lembro de Clara. Agora não é diferente, com uma mulher linda me dizendo que fiquei bem num vestido. Sorrio para Larissa e sinto minhas bochechas darem uma leve corada.
- Obrigada, Larissa. Você também está... Qual foi a palavra? - tento lembrar exatamente o que ela disse.
- Estonteante? - ela me fita e o azul de seus olhos é completamente sedutor. Eu a acho completamente atraente.
- Larissa! - a voz de Brandon é grave e grosseira.
Ela tira a mão da minha cintura e os sorrisos de nós duas se escondem como duas crianças prestem a tomar uma bronca.
- Com licença. - ela diz se afastando.
- Claro. - digo olhando Brandon meio de canto de olho. Ele parece furioso como sempre. Extremamente mau humorado.
- Noite agradável não? - Mark se aproxima de mim e reviro os olhos disfarçadamente, viro o corpo de volta para o vidro pra observar a piscina.
- Estava até agora. - digo terminando meu drink.
- Dany. - ele fala baixinho como se fosse me contar um segredo. - Podemos por favor conversar sobre o que aconteceu na outra noite?
- Na verdade... - falo baixinho e me aproximo dele. Ele inclina o corpo na minha direção e abaixa o ouvido próximo da minha boca. - Não. - eu sussurro antes de sair para achar qualquer outra pessoa para conversar.
Quando vamos para a mesa para finalmente jantar, Mark se senta ao meu lado. Eu disfarço e troco de cadeira, conversando com um homem bastante simpático que trabalha numa produtora concorrente e percebo que Brandon me observa da ponta da mesa.
Eu não consigo entender porque concordei em vir a este jantar, afinal. Ao menos a comida é excelente e a companhia das pessoas próximas consegue ser uma ótima distração. Depois que recolhem as louças da sobremesa eu vou novamente à área perto do bar e puxo o celular da bolsa para chamar um táxi.
"Inacreditável, Dany! Sem bateria.", é óbvio. Só porque quero ir embora o mais rápido possível. Esse tipo de coisa é muito típica do meu eu adolescente. Esses últimos dias com Brandon, Mark e tudo mais me fizeram lembrar de todas as minhas inseguranças.
A maioria dos convidados começa a se despedir após os drinks digestivos. Quem sabe posso até conseguir uma carona. "Não, chega de inventar conversas por hoje.", nada de caronas, quero me jogar num táxi e ir sorumbática até minha casa. Brandon está ocupado se despedindo e resolvo que não deve ser difícil achar um telefone pela casa. Começo a andar pelo lugar com curiosidade. O lugar tem a cara de Brandon, não sei explicar, mas consigo encaixá-lo perfeitamente em todos os ambientes por onde passo.
Entro no que parece ser o escritório dele. O piso é grafite escuro e há um tapete de pelo alto branco no chão. Poltronas em couro preto em uma borda do tapete, que suspeito sejam suas peças favoritas de decoração e um settee que me lembra um divã do outro lado. Eu sinto o cheiro dele ali dentro. Sua personalidade está toda estampada na forma como essa sala está disposta. Não é aconchegante, mas impressiona.
Eu me sirvo de um pouco de bourbon de uma garrafa igual à que ele tem na empresa e cheiro o copo. São as mesmas notas amadeiradas do perfume dele. Tomo um gole. A parede inteira oposta à sala é de vidro, obviamente. Estou chegando perto dela quando ela se ilumina de uma luz que vem de baixo.
Hesito, mas minha curiosidade se aguça e vou chegando devagar até o vidro.
O que se pode ver abaixo é um cômodo inteiro de vidro. Como uma caixa acrílica. Até o chão é transparente. No meio exatamente há uma cama e é nela que Larissa se deita nua, enquanto Mark beija suas pernas e vai subindo pelas coxas até que ela alcança sua cabeça e pressiona entre o meio das pernas.
Eu puxo o ar e não consigo me afastar. Entendo um pouco a cabeça de Brandon agora. Minha excitação é evidente, eu sinto o entumescimento do meu sexo aquecer e umedecer minha lingerie.
Mark faz Larissa gemer alto quando a penetra e instintivamente eu mordo meu lábio inferior, apertando o copo de bourbon na mão.
Eu não preciso olhar pra trás pra saber que Brandon está parado exatamente atrás de mim. Sinto meu corpo arder numa forma completamente dolorosa e encosto a cabeça no vidro quando ele tira o copo da minha mão.
O casal lá embaixo está enlouquecido em um sexo meio desconectado, mas quente.
- Senhor. - minha voz quase não sai, eu mal consigo respirar.
- Danielle. - Brandon fala e eu estremeço.
- Eu entendo porque você gosta de olhar. - suspiro longamente.
Fecho os olhos ainda com a testa no gelado transparente do vidro e sinto as mãos dele encostarem nas minhas coxas. Ele espera uns segundos apertando os dedos sobre o tecido do vestido. Tenho certeza que está esperando eu dizer que não deve me tocar. Mas eu me calo. Empurro o corpo contra o dele, encostando a bunda em seu quadril. Ele pressiona seu corpo em mim e respira fundo enquanto eu gemo baixo apertando mais os olhos. Estou completamente ciente que é a pior ideia do mundo.

PeculiarOnde histórias criam vida. Descubra agora