Capítulo 34

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Brandon

Entendo completamente o choque de Danielle. Eu tive o mesmo tipo de reação quando os médicos me disseram que apesar de seu estado grave e da cirurgia que aliviou o sangramento e a pressão em seu cérebro, o bebê estava bem. Minha primeira pergunta foi: que bebê?
Eu saí chorando da sala, direto para os braços da minha mãe, apavorado com a ideia de perder Danielle e nosso filho de uma só vez.
Ela é mais do que eu mereço.
Eu sempre soube disso.
Danielle é dona de uma força e uma luz que me ofuscaram desde o começo da nossa história, quando eu ainda me achava bom demais para o resto do mundo. Sua forma de ver a vida, sua segurança e a forma como ela adora ser ela mesma me tomaram de surpresa.
Pensar em viver sem ela dói dentro dos meus ossos. Como se a possibilidade de não continuar minha vida amando cada pedaço dela não fosse viver de fato.
Eu nem me lembro quantas promessas eu fiz para um Deus que eu nem acreditava mais existir. Mas eu fiz. Todas possíveis. Com o único objetivo de vê-la acordar, mesmo que ela não se lembrasse de mim, de nós ou ficasse com sequelas graves.
Eu só queria ver o sorriso dela.
Era isso ou eu morreria junto com ela, mesmo que continuasse existindo e respirando.
Mas além de tudo, ainda havia o pequeno ponto de cinco semanas em seu ventre. Um minúsculo pedaço meu e dela cuja existência me arrebatou. Mesmo se ela não pudesse acordar, eu precisava não morrer.
Eu sempre desejei ser pai. É um delírio da minha personalidade narcisista. Ainda mais pai de um filho de Danielle. Provavelmente vai ser a criança mais linda e sagaz de todos os tempos.
Eu só não contava com a péssima reação de Danielle.
- Cinco semanas? - ela me olha denovo e eu somente confirmo com a cabeça.
- Danielle, se acalme. - tento novamente aquietar seu jeito meio desesperado.
- Como você pode estar calmo, Brandon? - ela me olha com os olhos marejados e eu a beijo.
- Eu só estou feliz por você estar bem, Danielle. - a seguro com força. - Eu preciso saber sobre o acidente. Você disse que um carro te empurrou pra fora da estrada. A polícia está tratando como um acidente, como se você tivesse perdido o controle.
- Não foi isso que aconteceu. - ela diz limpando as lágrimas. - Mas não era pra mim, Brandon. Quem quer que tenha feito isso queria atingir você.
Ela me olha tão séria que eu chego a duvidar que ela está feliz por estar acordada. É a primeira vez que Danielle parece frágil perto de mim e estou um pouco perdido com isso.
- Por que você acha isso? - quero entender qual é a lógica de seus pensamentos.
- Eu estava com seu carro, Brandon. Eu saí da garagem. Então o carro que estava atrás não tinha como saber que não era você dirigindo. Eu pensei que pudesse ser Larissa, por que ela me odeia. Mas por que ela ia querer machucar você?
Danielle tem toda razão, e realmente tudo isso faz muito sentido, mas Larissa estava na festa de noivado enquanto tudo acontecia. Minha cabeça não consegue raciocinar claramente.
- Ela foi à festa, Danielle. Larissa estava lá querendo entrar. Será que foi depois do que aconteceu com você? - eu estou perdido.
- Eu não sei. - ela se encosta no travesseiro e suspira.
A enfermeira entra no quarto para levá-la a um exame e avisa que ela precisa comer e descansar.
- Seus pais estão vindo. - eu aviso Danielle e ela faz uma expressão desanimada.
- Por favor, não. - ela pede sinceramente e eu não sei como impedi-los de vê-la. - Eles sabem sobre o... - ela aponta a barriga.
Faço um não com a cabeça. Ninguém sabe. Eu achei que não devia espalhar a notícia sem saber ao certo como ela ficaria.
- Não conte, por favor. - Danielle me olha muito séria.
A encaro desconfiado. Acho que ela não seria capaz de tomar nenhuma decisão drástica sobre o bebê sem me consultar, ou pelo menos sem discutir comigo.
Eu quero este bebê mais do que ela. Isso está claro pra mim. Mas o que eu vou poder fazer caso ela não queira de jeito nenhum? Um arrepio que percorre e penso nas piores coisas. Ela é uma mulher forte e suas opiniões dificilmente mudam. Eu me lembro dela dizer que não queria filhos. Como eu posso obrigá-la a querer agora?
Eu não digo nada até ela sair do quarto, mas milhões de coisas me passam pela cabeça em poucos segundos. Da dúvida sobre o acidente ter sido provocado por outra pessoa, e se era pra eu estar no carro em vez dela até nosso futuro juntos. Ela que está grávida, mas eu que fico nauseado e preciso ir ao banheiro quase vomitando de nervoso.
Eu implorei pela vida dela, não quero ter que implorar pela vida em sua barriga.

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