Capítulo 26

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Brandon

Respiro fundo antes de entrar no escritório. Eu não sei o que esperar de Larissa, não imagino qual será sua reação, mas eu sei o motivo de sua inesperada visita, meu relacionamento com Danielle agora é público.
Quando abro a porta ela me olha, sentada no sofá, seus cabelos loiros arrumados em ondas soltas sobre os ombros, os olhos azuis vivos meio nebulosos e a boca grossa tensa em insatisfação. Larissa continua sendo uma das mulheres mais bonitas que eu conheço. Ela é exótica, escultural e elegante. Sua postura sempre me atraiu e ela sabe disso, tanto que está ali, sentada em um modo controlado.
Eu fecho a porta a encarando sério.
- Namorando, Brandon? Com a assistente intocável? - ela fala com cinismo.
- Eu não te devo satisfações. - digo com certeza, vendo-a me acompanhar com os olhos até minha mesa.
Ela certamente já viu que substituí sua foto na minha mesa por uma com Danielle. Eu não subestimo a mágoa de uma mulher ferida, achando que foi trocada por outra. Sei que Larissa está se sentindo humilhada.
- Bran, podemos consertar as coisas. Podemos tentar denovo. - ela vem até mim e para em frente à minha mesa.
- Você era feliz comigo, Lissa? - pergunto pensando em todas as coisas que descobri sobre mim mesmo nos últimos dias. - Eu sempre pensei em mim, no que eu queria. Nunca te perguntei se você estava bem ou feliz.
- Eu era feliz, Bran. - ela dá a volta na mesa e tenta me abraçar. Eu afasto meu corpo instintivamente.
Tenho uma atração fora do comum por Larissa, ela é a personificação de tudo que acho perfeito. Mas não consigo continuar perto dela.
- Eu não era. - confesso. Acho que é só assim que ela pode entender meus motivos realmente.
- E você está feliz com Danielle? Mesmo tendo dito repetidas vezes que nunca se sentiria atraído por ela? - Lissa me olha com um jeito congelante. Aí está, a musa de gelo, direcionando toda a frieza pra mim. Demorou pra isso acontecer.
- Eu sei todas as coisas que eu disse sobre Danielle. Mas eu não vou deixar que você, e ninguém mais, diga qualquer coisa que a deprecie. - começo a ficar irritado.
- O que aconteceu com você? - ela pergunta com um pouco de desdém, como se estivesse decepcionada com parte da minha humanização.
- Eu estou apaixonado, Lissa. Talvez você não me reconheça assim porque eu nunca estive apaixonado quando estava com você. - falo no início dessa disputa de egos. E eu aposto que vou ganhar.
- Você não percebe como está se tornando fraco e ridículo. - ela fala irritada.
- Eu te sustento ainda depois de termos terminado e você acha que eu sou o fraco? - ironizo com o máximo de sarcasmo que eu consigo usar. - É isso que você está com medo de perder ou realmente acha que gosta de mim, Lissa?
- Eu não sou interesseira, muito menos vou aceitar que você me trate como uma prostituta, Brandon. - ela parece radicalmente ultrajada.
- Você já aceitou quando seu retorno pra mim era sexo, Lissa. Agora você só está parecendo aposentada mesmo. - falo com um sorriso irônico no rosto.
Ela estica a mão num movimento rápido, com a palma estendida, pronta pra acertar um tapa bem no meio da minha bochecha. Eu seguro seu braço e aperto seu pulso em reflexo.
- Está me machucando. - ela diz tentando se soltar, meus olhos estão arregalados em cima dela e preciso me controlar.
- Nunca mais chegue perto de mim. - eu grito e solto seu pulso com violência.
- Você é um idiota. - ela grita e me empurra e eu tento me defender, a segurando pelos ombros. - Eu odeio você.
- Chega! Parem com isso! - Danielle entra na sala e se apressa em entrar em meio a nós dois.
Larissa continua avançando sobre mim e Danielle a segura. O tapa que a loira ia desferir em mim acerta Danielle em cheio e eu avanço furioso sobre Larissa. Danielle me segura e me faz, aos gritos, cortar o transe violento que me dominava. Ela coloca as mãos no meu rosto e olha em meus olhos, me implorando pra parar. Eu podia machucar Larissa seriamente e meu ódio é testemunha de que eu o teria feito caso não tivesse sido parado.
Larissa pega o porta retratos de cima da minha mesa e arremessa na garrafa de bourbon sobre a mesa de centro, estilhaçando as duas coisas. Jeremy está boquiaberto na porta e Danielle o manda chamar a segurança da empresa.
Larissa vai até o sofá e recolhe suas coisas.
- Eu mesma saio. - ela olha pra nossa direção com raiva. Danielle ainda está com o corpo na minha frente, e minha respiração chacoalha os fios de seu cabelo na altura do meu peito.
Estou bufando de ódio. O olhar de Larissa me acende ainda mais a raiva, mas Danielle me segura mais do que se eu estivesse amarrado com meus próprios acessórios. Ela tem dois arranhões no rosto, feitos pelas unhas de Larissa e quando a encara Larissa ri.
- Vá embora, Larissa, por favor. - Danielle pede.
Lissa bate a porta na saída. Viro Danielle de frente pra mim e analiso a vermelhidão em seu rosto, em seguida peço a Jeremy que traga gelo e avise o pessoal da limpeza.
Danielle senta na minha cadeira e eu enrolo o gelo e encosto com cuidado em seu rosto.
- Está tudo bem, Brandon. - ela fala pela milésima vez.
- Ela machucou você. - digo ainda exasperado.
- Eu já fiz pior com você. - ela sorri, tentando me tirar do estado catártico. Eu acaricio seu rosto e forço um sorriso.
- Preciso fazer umas ligações. - digo pensando em ligar para o banco e cancelar os cartões de Larissa.
Danielle segura o pano com gelo e beija a minha mão que a acaricia. Saio da sala já discando o número do banco e em seguida para meu advogado pessoal. Assim que ele me atende peço que providencie uma ordem de restrição para mim e Danielle em relação a Larissa.

Danielle vai embora mais cedo do escritório e fico até um pouco mais tarde. Ainda estou bravo e insatisfeito com a atitude de Larissa. Sei que a culpa é minha pelo jeito como tudo terminou, sem que eu desse um fim apropriado. Mas dentro de mim há algo estranho, dizendo que ela não vai deixar as coisas como estão.
Tento não pensar muito nisso, não quero construir um sentimento ruim por Larissa, embora esteja muito abalado com a forma que ela se portou.
Chego em casa sem fome e vou direto ao meu quarto. Tomo um banho demorado e relaxante. Era o que eu precisava para me livrar do péssimo dia.
Quando saio do banheiro há uma caixa de presente preta envolta num laço vermelho sobre a minha cama, meu estômago se contorce. eu gosto de surpresas tanto quanto eu gosto de discutir relacionamentos, ou seja: odeio. Ainda mais depois de tudo que aconteceu de maluco neste dia.
Tiro o laço e abro a tampa com receio. Danielle surge na porta do quarto e me arranca um sorriso aliviado.
- Você disse que não usaria isso. - digo tirando a coleira em couro de dentro da caixa.
- E quem disse que sou eu que vou usar. - ela fala num tom malicioso e não resisto em beijá-la demoradamente quando ela se aproxima de mim. Olho o machucado já menos inchado em seu rosto e sinto um amargor me perturbar.
Eu tive medo por ela, raiva em saber que ela se machucou e ainda assim ela aparece com seu humor impagável para salvar meu dia.
Ela pega o objeto da minha mão e me olha de uma forma sensual. Eu começo a derreter com o calor que se forma dentro de mim. É como se ela me queimasse vivo com cada coisa que ela faz.
Ela puxa a tira em couro que sai do enforcador em seu pescoço e entrega na minha mão, repetindo a simbologia do que eu mesmo fiz com ela há pouco tempo atrás.
- Faça o que quiser de mim, senhor. - ela sorri e preciso respirar fundo para controlar a vontade que eu tenho dela. É enlouquecedor.

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