Capítulo 5

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Danielle

A vista do escritório do sr. McAllister é realmente impressionante. É possível enxergar o horizonte ao longe, mesmo com o tempo ainda nublado de chuva. Torço para que o tempo melhore, pelo menos no fim de semana. É mesmo uma pena morar perto de praias incríveis se o clima não colabora, e eu sempre adorei um banho de mar e uma tarde de folga na areia.

Recosto na cadeira e giro para frente, tamborilando os dedos no vidro da mesa. Há uma foto dele com a namorada loira, magra e linda. É impossível não pensar nestes três adjetivos ao olhar pra ela. Pelo menos ela parece mais simpática do que ele.
Ele é sério demais, de um estoicismo entediante. Parece superior ao resto de nós. Ele é assim nas fotos. Eu me preparei para a entrevista certa de que encontraria um homem frio e controlado.
Ao menos uma das coisas foi surpreendente. Ele não é frio. Ao contrário. Ele se irritou muito facilmente comigo e minhas provocações, apesar de fingir bem. Meu novo chefe é esquentado, nada de frio ali.
Já a questão do controle é completamente evidente.
- Eu vou sair e entrar novamente, pra te dar tempo de sair da minha cadeira. - a voz dele soa como um trovão dentro da sala.
O vejo fechar a porta e não movo um milímetro do meu traseiro de sua cadeira. Me estico ainda mais com um sorriso satisfeito.
Ele abre a porta e me encara furioso. Sua presença se faz sentir imediatamente.
Ele é um homem alto e forte, escuro, extremamente escuro com seus olhos, cabelo e barba pretos, mas a pele é alva. Quando falo escuro, acho que estou dizendo mais de sua alma.
Eu não costumo confiar muito em olhos negros. Há um mistério macabro em não conseguir ver a pupila se abrir e fechar numa pessoa. A pupila é como um termômetro da alma. Se dilata no prazer e se contrai frente ao perigo. Brandon não entrega esse tipo de reação, me dando a impressão de ser um sujeito bem peculiar e imprevisível.
Ele é absolutamente bonito, mas sua expressão séria e impávida o faz terrificante. Eu duvido que muitas pessoas ousem discordar dele. Absolutamente ele consegue dobrar até o diabo a fazer o que ele quer.
- Achei que tinha te mandado deixar o sarcasmo em casa. - ele me encara e quase vejo um vermelho de chamas em seus olhos.
- Era isso então? Tive a sensação de estar esquecendo de fazer algo importante hoje. - brinco e me levanto. Eu gosto de joguetes, mas tenho que continuar viva para me divertir com eles. - Sr. McAllister, começamos com o pé errado. Me perdoe por ter dito que seu pau é pequeno. Eu saí completamente da linha. - falo com toda honestidade em mim.
- Você não disse que meu pau é pequeno. - ele tomba a cabeça em estranhamento.
- Ah não disse? Devo ter somente pensado então. - dou um sorriso meio sem graça.
Antes que ele tenha tempo de pensar em me demitir por este último comentário eu viro a tela do computador pra ele.
- Cataloguei suas mídias já avaliadas por data e alfabeticamente, assim o senhor pode encontrá-las com uma pesquisa rápida. Aqui.- aponto a tela. - Eu discordo fortemente de algumas das suas avaliações, e minhas opiniões estarão aqui marcadas com esse sistema de cores, entre verde pra onde eu concordo com você e vermelho, onde discordo.
Mostro as bolinhas ao lado dos arquivos que ele criou.
- Que horas você chegou aqui hoje? - ele me olha surpreso.
- Gostou ou não? - aponto ansiosa para a tela novamente.
- Você sempre deflete as perguntas? - seus olhos sombrios olham dentro dos meus. Acho que ele está curioso.
- E você? - levanto as sobrancelhas. - Nem conseguiu me responder por que não contrata mulheres com uma justificativa decente.
- Me abstenho do drama. - ele cede. Uma resposta é um ponto pra Riggs.
- Drama? Você pressupõe que todas as mulheres sejam dramáticas? Que sexista. - avalio. - Cuidado, sr. McAllister, pode soar um tanto amargurado e misógino.
- Eu sou qualquer coisa menos misógino, srta. Riggs. - ele me dá um meio sorriso. - Mas você não será paga pra ter uma opinião sobre mim. Será para pra me obedecer. - há um insulto bem velado nesta frase que me ferve o sangue.
- Se gosta tanto de mulheres obedecendo, deveria contratar mais delas, apesar do drama. - recolho toda a minha ironia neste comentário e ele ri maliciosamente.
- Não é no trabalho que eu gosto que elas me obedeçam.
"Ah, é?!", penso e minha expressão denota um desconcerto bem evidente. Já na minha cabeça surgem imagens de bondage, com sua loira magra e linda amarrada como um peru de Natal. Um arrepio me percorre, e não é dos bons. Pensando bem, a personalidade dele tem tudo a ver com sadismo.
- Agora que eu te tirei do seu ciclo de autogratificação, srta. Riggs, vá trabalhar. - ele ordena e eu tento obedecer, embora ele não tenha me dado nada especificamente para fazer.
Arrumo as novas mídias que ele precisa avaliar e enquanto me mexo pelo escritório vejo que ele me observa atentamente, apesar de fingir mexer no computador.
Quando você cresce com o bullying se acostuma a ter olhos críticos sobre você o tempo todo. Minha adolescência foi assim. Mas com o tempo, e principalmente após eu descobrir minha sexualidade, eu não me intimido facilmente. Clara foi uma enorme diferença na minha autoestima.
Termino de arrumar tudo para que ele escute as novas músicas.
- Pronto. - afirmo.
- Pronto. - ele me responde, embora eu tenha feito uma afirmação e não uma pergunta. Ele tem que ter a última palavra em tudo. "Clássica síndrome do pau pequeno!", penso e rio sozinha. - E Riggs, meu pau não é nada pequeno.
Ruborizo.

No elevador vejo Mark dar uma pequena corrida e seguro a porta até que ele entre. Ele agradece e arruma o terno perfeitamente cortado. Da forma como se ajeita em seus músculos, tenho certeza que o costume foi feito sob medida. Ele sorri pra mim.
- Bom ver você por aqui novamente. Adorei sua espontaneidade. - ele elogia. - Achei que até a hora do almoço ele já teria te mandado embora.
- Ele me demitiu umas dez vezes. Mas sei que "vaca estúpida" é só o jeito dele dizer que está gostando do meu trabalho. - eu rio.
- Nossa, ele foi até carinhoso. - ele pondera e rimos juntos. - Persista. Ele é ótimo nisso e tem muito a ensinar.
- Meu pai é militar. Gritos e caretas não me assustam mais. - pisco pra ele.
- Ótimo. Vou gostar de te ver diariamente. - ele desvia timidamente do meu rosto pra dizer isso. - Tem um cachorro quente ótimo na região, se quiser podemos almoçar juntos.
- Odeio junk food. - saio com ele do elevador.
Ele fica meio pensativo enquanto as pessoas passam por nós.
- Estou zoando você, Mark! Eu pareço alguém que recusa carboidratos simples e embutidos? - digo meio feliz por ele ter considerado mudar sua opção de almoço pela minha companhia. - Me mostre essa salsicha!
As pessoas ao redor nos olham com estranheza depois desta última frase.
- Ela não quis dizer isso... - ele tenta se explicar aos passantes. Talvez minha espontaneidade seja um pouco demais pra ele.
- Por que vocês homens são obcecados com seus pintos? - digo seguindo ele no meio das pessoas.
- É a segunda vez que nos vemos, não sei se é apropriado termos essa conversa. - ele brinca.
- Que fique registrado, eu estava falando de salsichas. - falo e ele dá uma gargalhada gostosa.
Prevejo ótimos almoços com Mark. Isto é, se eu não for demitida de verdade em breve.

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