Peculiar

Capítulo 29

Danielle

Acordo com a cabeça latejando, entre o vinho, o friozinho da caminhada e a tragédia que chamamos de "jantar com os pais" do dia anterior me sobrou uma inacreditável enxaqueca.
Meu sistema processa certas coisas devagar. Especialmente as que vem dos meus pais. Não é algo voluntário, é como uma indigestão que se arrasta por muito tempo, causando um desconforto que vai passando aos poucos, com muita paciência.
Eu fiquei puta com o fato dos dois terem controlado a minha vida, me afastando de Clara. Mas isso tem mais a ver com o fato de odiar saber que fui manipulada do que com minha contraparte.
Eu e Clara teríamos ficado juntas até hoje caso pudéssemos ter continuado nossa história sem interrupções externas? Pra ser bem honesta eu acho que a resposta é não. Quantas pessoas passam a vida com seus romances adolescentes? Acontece, claro. Mas é exceção e não regra.
Uma parte de mim sempre vai amar Clara incontestavelmente. Mas estou apaixonada demais por Brandon pra pensar no que poderia ter sido com outra pessoa. Eu não quero mais ninguém.
Tomei meu estoque de vinho quando cheguei em casa, e me arrependo de não ter conversado com Brandon, mas eu sou assim. Preciso resolver minhas questões sozinha primeiro, esmiuçar meus sentimentos e depois deixar que outra pessoa participe do meu processo.
Escuto as mensagens que ele me deixou. A maioria delas com a voz mole, atropelando as palavras. Parece que ele se refugiou no álcool tanto quanto eu pra esquecer uma noite que não deveria ter acontecido. Disco o número no celular e espero alguns segundos, ele atende com a voz sonolenta.
- Desculpe por ontem. - me adianto sentindo saudade de acordar com ele.
- Danielle, precisamos conversar. - ele suspira.
- Eu sei que meus pais são impossíveis, mas o que aconteceu não tem nada a ver com o que eu sinto por você. - falo sentindo o telefone vibrar contra o rosto.
- Posso ir até sua casa? - ele pede enquanto eu afasto um pouco o telefone.
- Claro. - digo franzindo as sobrancelhas ao ver a tela. - Por que Larissa está me mandando mensagens?
- Deus... Danielle. - ele fala meio atordoado. - Por favor não tire nenhuma conclusão até eu chegar.
Abro as mensagens de Larissa, algumas fotos dela na cama de Brandon, semi nua.
- Acho bom você chegar logo então. - digo sentindo o sangue começar a ferver nas veias.

Quando abro a porta não sei qual de nós dois está com a pior aparência. Brandon está pálido e abatido, eu descabelada e como se tivesse tomado uma surra, física e psicologicamente. Ele entra incerto se deve me abraçar, eu sinto tanta saudade dele que me jogo em seus braços.
- Que diabos aconteceu? - pergunto enquanto ele me aperta em seu peito.
- Larissa apareceu na minha casa, eu estava completamente fora do ar. - ele diz com um ar culpado e triste.
Eu não sou criança, muito menos ingênua em pensar que Larissa deixaria toda história dela com Brandon para trás tranquilamente. Se alguém tivesse vindo se enfiar na minha cama esta noite, eu provavelmente não teria reagido diferente de Brandon e entendo isso.
Mas sinto um ódio mortal de Larissa. Cada vez que penso nela me lembro das duas marcas ainda não cicatrizadas no meu rosto. Respiro fundo nos braços dele. Eu sempre achei que quando a briga é muito grande pra ficar com alguém, provavelmente não vale a pena. Neste caso tenho uma oponente de peso, mas não estou disposta a dar o que ela quer. E sei que Brandon vale cada minuto da mais árdua luta que eu possa travar com a loira linda e magra que ele namorava.
- Danielle. Eu fiquei com ela. Eu transei com Larissa. - ele fala e aperto meus olhos.
Tenho uma sensação corrosiva no peito. Minha vontade é gritar todos os palavrões que eu conheço muito, muito alto, mas me contenho. Em vez disso eu só o aperto mais forte. Eu sei que ele me ama. Ele provou isso mais de uma vez.
- Ela ainda tem a chave e os códigos de segurança da sua casa. - afirmo após um longo suspiro ele confirma com a cabeça. - Vamos trocar tudo.
- Você me desculpa? - ele parece mais confuso do que nunca.
- Larissa está seguindo você desde a briga no escritório, Brandon. Ela não desistiu. - digo meio irritada. - Se eu terminar com você vou estar fazendo exatamente o que ela quer que eu faça.
- Eu não sei como isso aconteceu, Danielle. - Brandon está arrasado.
- Ela aproveitou a oportunidade que demos. Eu por ter deixado você sozinho e você por ter apagado bêbado. - concluo. - Temos que ser mais espertos que isso.
- Por favor, senhor. - levanto a cabeça e olho em seus olhos. - Vamos apagar a noite passada das nossas cabeças. É só o que eu quero.
- Tem certeza que não quer falar sobre isso? - ele me encara e consigo ver como está preocupado com a minha reação. - Eu não quero te perder.
- Brandon eu já te vi transando com outra pessoa e não mudou nada pra mim. Estou muito brava, muito mesmo por ser Larissa. Mas eu escutei suas mensagens, eu entendo que você estava mal e ela se aproveitou disso. Esse acesso fácil dela a você precisa acabar.
- Vai acabar. - ele respira aliviado.
- Você é meu. - digo tomada por um sentimento meio incontrolável.
Ele sorri e não discute.
Minha cabeça ainda pesa com as imagens de Larissa, mas sei que a dele também deve pesar com as imagens de Clara. Estamos acertando nossos pontos, e eu nunca achei que seria fácil.
- Vamos à praia? - peço com certeza que ele não é uma pessoa que gosta muito disso.
- Não pode ser na piscina? - ele me dá um meio sorriso e nego com a cabeça.

Acho que no fundo Brandon gostou do nosso dia com os pés na areia e com alguns mergulhos ocasionais na água salgada. Ele fica completamente fora de seu ambiente à beira mar. Seu gosto por decorações escuras, couro, vidro e a parte industrial dos metais e concreto queimado em todos os ambientes não tem nada a ver com locais naturais, cheios de luminosidade.
Mas eu o vi sorrir genuinamente quando o abracei dentro da água e quando o observei com um assobio sobre os óculos escuros enquanto ele comprava água. Ficamos deitados na esteira juntos e conversando sobre todas as coisas que não temos tempo de falar quando estamos nus juntos.
Suas perguntas sobre mim são sempre profundas, do tipo "você quer ter filhos um dia", "como se imagina em dez anos", coisas que eu geralmente não me dedico a pensar muito sobre. Eu pergunto a ele coisas como "prefere sorvete de morango ou chocolate", e deixo o resto pra descobrir enquanto vamos vivendo.
Ele é intenso em tudo o que faz e vive. Talvez por isso tenha mergulhado em mim muito antes que eu nele. Brandon não tem leveza em nada do que faz e isso é fascinante.
Ele desamarra meu biquíni debaixo da água morna do chuveiro e segue as marcas do sol no meu peito com os dedos. A forma como ele me olha é uma das coisas mais poderosas que eu já vi, sempre como se estivesse me observando atento e sério.
O deixo terminar de tirar minhas roupas, ele passa as mãos em mim e sinto a aspereza da areia entre sua pele e a minha. Tiro sua bermuda e nos beijamos sentindo os pingos escorrendo nos nossos corpos, encosto no azulejo atrás de mim. Nossos corpos emanam um calor gostoso absorvido do sol e entre a água doce e o vapor não conseguimos soltar nossas bocas.
Brandon dá apoio a uma perna minha que acomodo ao redor de seu quadril. Quando ele entra em mim eu fecho os olhos e encosto a cabeça em seu ombro, soltando um gemido profundo. Eu o desejo tanto que chego a perder o fôlego com seu corpo tão perto do meu.
É a primeira vez que nosso ritmo é lento. Como se quiséssemos aproveitar cada segundo da experiência de estarmos juntos. Estamos passando por testes de nós mesmos, nossas preferências, nossos limites. Estamos testando até onde chegamos um pelo outro.
Nossa química é indescritível. Eu envolvo Brandon com os braços enquanto ele pressiona minhas costas na parede com seus movimentos em mim. Nosso sexo é vertigem. Eu vou a sensações que desconhecia em mim mesma, aperto levemente suas costas e ele responde num gemido que me aguça. Eu levanto a cabeça e o beijo. A língua dele me encontra e me derreto ao redor dele. Quente, excitada, molhada e cheia de certeza que eu chegaria muito longe por ele.

No domingo eu olho satisfeita as fotos de Brandon e eu na praia nos sites de notícias. Ele está lindo e eu usando o menor biquíni que eu poderia com meu corpo. Deitados ao sol, dando beijos tórridos e rindo um para o outro. Uma bela sequência.
Ele sai do banheiro e se surpreende por eu estar tão cedo no celular. Então olha para a tela depois de me dar um beijo rápido.
- Danielle, não ligue pra essas notícias, por favor. - ele pede e se senta à minha frente.
- Estou feliz com elas. - digo sorrindo.
- Está? - ele estranha e me olha curioso.
Faço um sim com a cabeça e admiro o homem à minha frente.
Nos jornais somos um casal feliz, o que deve ter provocado Larissa indubitavelmente. Ela vai atacar denovo. Vai tentar denovo. Mas dessa vez vai me encontrar pronta pra guerra.
- Ficamos bem nesta foto. - viro o celular e aponto a foto que estamos nos beijando.
- Não sei. - vejo seus olhos se avermelhando em chamas. - Me mostre denovo essa pose. - Brandon toma meus lábios pra ele.