Capítulo 38

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Brandon

Duas pedras de gelo, uma dose de Bulleit e uma balançada leve no copo. Levo o copo até o nariz e inspiro, é um bourbon ótimo, e me faz concluir que eu realmente ensinei boas coisas a Mark. Até pouco tempo atrás ele não tinha gosto para nada além de cerveja.
Ensinei a ele sobre música, sobre como ser um bom produtor, entreguei a ele as melhores noites de sua vida, a loira que aquece a cama dele a noite e conselhos valiosos sobre minha experiência.
Era de se esperar que a gratidão dele fosse um pouco maior para não querer foder tanto com a minha vida. Mas em algum jeito bem distorcido eu até entendo Mark.
Qual é a pessoa que abriria mão de sexo e dinheiro fáceis? Nem ele, nem Larissa estavam prontos para um corte tão abrupto da minha disposição com eles. Deram um baita azar por eu encontrar mais, muito mais, em Danielle.
Escuto o barulho da porta e continuo virado para a janela. O dia está entardecendo e o céu ganha tons laranjas e rosados que me lembram a tez de Danielle.
Se Larissa era uma rainha de gelo, Danielle é capaz de derreter qualquer um com seu calor próprio. Só a lembrança dela me causa uma sensação empoderada, minha amazona cálida.
Num suspiro volto a me concentrar em tudo que eu vim fazer neste escritório e tomo mais um gole, virando o corpo para a direção de Mark.
- Se soubesse que você viria me visitar eu teria providenciado o seu favorito. - ele diz se servindo também de uma bebida.
- Não sabia? Achei que você conhecia todos os meus passos. - falo observando-o dar um sorriso fingido.
- Quando eu era seu assistente, talvez sim. Mas agora... - ele abre os braços.
- Ah, Mark. Eu realmente gostava de você! Quando foi que você passou a servir mais a Larissa do que a mim? - me sento em sua mesa. É uma mania adquirida, não combina comigo, e ele mesmo franze as sobrancelhas pra mim.
- Eu não estou te entendendo, Brandon. Você sempre foi um entusiasta das minhas interações com Lissa. - Mark responde um pouco nervoso.
- Isso era quando eu achava que vocês dois sabiam seus lugares. - uma leve irritação me invade. Não tem nada que me deixa mais bravo do que uma pessoa que se faz de desentendida.
Ele está visivelmente incomodado e isso me deixa satisfeito. Quero mesmo que ele se sinta pressionado.
- Eu não vou perder meu tempo te explicando motivos, você sabe exatamente porque eu estou aqui. Então facilite para nós dois, recolha suas coisas e pode ir embora. - digo friamente.
- Bran, você não pode estar falando sério. - ele me olha de uma forma raivosa.
- Qual foi a parte que você não entendeu? - pergunto fingindo paciência.
- Você vai se arrepender, Brandon. - ele fecha a cara. Parece que nossa amizade acabou mesmo, declaradamente.
- Está me ameaçando? - eu sorrio cinicamente.
- Você foi um tolo em achar que Larissa te perderia para Danielle e deixaria barato. - ele vira a dose.
- Engraçado, eu me lembro de Larissa de quatro por Danielle e você tendo uma crise de consciência depois de tratá-la mal. Agora ambos desprezam Danielle como se ela fosse menos do que vocês sabem que ela é. - mexe comigo escutar o nome da minha mulher na boca de Mark.
Ele a teve primeiro, e aposto que se encantou irresistivelmente por ela. Mas não teve chance de se redimir, agora a desdenha. Meu corpo se retesa em repulsa por ele. Entre a mulher que ele gostou de verdade e a vida frívola e divertida com Larissa ele escolheu a segunda opção, só não contava que após um tempo nada seria tão divertido quando eu me retirasse da equação.
- Você não imagina o quanto nós rimos juntos do seu romance, Brandon. - ele anuncia a guerra. O moleque é ingênuo o suficiente pra continuar me provocando.
- É mesmo? - pergunto ironicamente enquanto andamos em direções opostas da sala.
- Você sempre tão magnânimo, sendo manipulado por Dany. - ele faz uma expressão de nojo e tenho que me segurar pra não voar em seu pescoço.
- Manipulado? Vejamos o que é ser manipulado. Fazer chantagem, perder um emprego e terminar preso por uma mulher que prefere ter o filho de outro homem só por dinheiro parecem feitos de um homem manipulado, Mark. - digo sabendo que poderia enumerar mais algumas coisas que o desclassificam.
- Preso? Eu não vou ser preso. Você que vai. Larissa vai te denunciar pelas perversões que você a obrigou a fazer. - ele dá uma gargalhada.
- Mark, eu fui seu amigo, então eu vou te explicar exatamente o que está acontecendo. - sirvo mais uma dose de bourbon para cada um de nós e cruzo a sala para entregar o copo a Mark. - Neste momento, enquanto você me ameaça de ter aliciado Larissa, Danielle e Clara estão com meus advogados contando para a polícia tudo que você e Lissa fizeram. Chantagem é algo baixo demais até pra vocês dois. E alugar um carro que provocou um acidente com o seu cartão foi muita burrice.
Ele pega o copo da minha mão e me encara com um olhar vacilante. Eu percebo que ele não tem mais a mesma empáfia de segundos atrás. Tomo um gole e sorrio. O sofrimento dele me alivia.
- Então, há pelo menos 10 minutos, minha assessoria de relações públicas liberou imagens de você e Larissa juntos, em situações comprometedoras. Embora que não possa negar ou confirmar que estas imagens foram gravadas dentro da minha casa, parece que o estilo da decoração é muito peculiar. - eu me encosto novamente na mesa dele, ou melhor, antiga mesa. - E também estão sendo liberadas algumas imagens minhas com Larissa, para mostrar que nossa interação era consensual. Assim vai ser difícil convencer alguém que eu sou o pervertido da história.
O vejo engolir em seco.
- Sabe, Mark, eu pensei em ir atrás de você e de Larissa e fui impedido por Danielle. Ela sabe que violência não leva a nada. Embora ela mesma tenha se atracado com Larissa. - olho no relógio e concluo que estamos próximos no fim dessa discussão. - Quando você for armar algo pra alguém, certifique-se de ser mais inteligente do que a vítima. Ou então, que pelo menos a sua parceira seja. - pisco pra ele e termino a bebida.
Mark está me olhando com tanta raiva que chego a sentir meu interior queimar. A porta se abre e vejo os seguranças da empresa.
Mark joga o copo em sua mão na minha direção e eu desvio por alguns milímetros. Então ele avança em mim e abaixo o corpo, derrubando-o pelas pernas no chão. Sei que minha atitude é reprovável, mas subo sobre ele dou alguns socos em seu rosto. Eu grito para liberar a minha raiva e só paro de bater nele quando os seguranças me puxam para trás. A polícia entre logo em seguida.
Vieram buscá-lo para um depoimento simples, que ele pode se recusar a prestar. Dois policiais o ajudam a se levantar do chão e aplico o golpe derradeiro.
- Ele me atacou, vocês viram! - digo deslavadamente. - Eu o confrontei sobre ter dormido com Larissa e ele me atacou.
Pronto. Agi em legítima defesa, e tenho testemunhas. Danielle é dotada de uma mente extraordinária. Ela pensou em todos os detalhes. A reação de Mark foi exagerada, mas imaginamos que ele apelaria para a violência. Foi fácil solicitar um horário à segurança para comparecer na sala dele sob o pretexto de escoltá-lo para fora após a demissão.
Minhas mãos doem e estão machucadas. Mas meu ego está adocicado e alegre. Coloco as mãos no gelo e ligo para Danielle, sua saudação despreocupada ao telefone já aumenta minha tranquilidade. Significa que o ofereceram um acordo a Clara, como os advogados previram.
Finalmente Larissa e Mark estarão fora do nosso caminho.

Danielle entra no quarto com uma expressão aliviada e feliz após ter deixado Clara no quarto de hóspedes.
Ela vem pela cama e sobe em mim, pega minhas mãos e beija os inchaços dos socos que desferi. Houve uma época que comentários como o que Mark fez sobre minhas constantes concessões a Danielle me incomodariam profundamente.
Eu nunca gostei de ser julgado submisso e fraco.
Mas eu me sinto exatamente o oposto.
Ela está no meu sangue, na minha cabeça, no meu coração e me faz alguém que eu reconheço com orgulho.
Eu a puxo para beijar minha boca, faminto por tê-la em mim, como se ela pudesse ocupar fisicamente o espaço do meu corpo.
- Você foi o que me aconteceu de melhor na vida. - confesso sentindo meu peito disparar com seu sorriso.
Ela me beija novamente, com seu corpo inteiro e me recebe ávida, molhada e em meio a gemidos que me enlouquecem.
Se eu sou manipulado por essa mulher tenho que me lembrar de que ser manipulado é a melhor coisa que eu já senti.

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