Capítulo 20

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Brandon

Acordo no domingo ainda insatisfeito e odiosamente fixado na imagem de Danielle abraçando a morena em frente à sua casa. Eu não quis ligar, nem pensar demais no assunto. Mas foi inútil tentar ocupar minha cabeça com outra coisa se o cheiro de Danielle ainda está na minha memória, nos meus lençóis e na minha pele.
Ela lê meus pensamentos mesmo de longe e quando pego o celular sua mensagem me coloca um sorriso no rosto.
> Dormiu bem, senhor?
>> Pior do que ontem.
Eu respondo torcendo para que ela continue conversando comigo. Foi a melhor coisa até agora de uma manhã tediosa e sem graça. Ela demora e eu ligo. Não gosto de mensagens apesar de ter vibrado com a dela.
- Bom dia, senhor. - ela me atende com sua voz de sorriso.
- Bom dia, Danielle. - também sorrio. - Posso te fazer uma visita? Gostaria de almoçar com você.
- Ainda estou tomando o café. Não é suntuoso como na sua casa e também não tenho alguém que me sirva, mas está ótimo. - ela brinca.
- Acredito. Você faz várias coisas ótimas. - quero vê-la, mas não estou certo que é isso que ela quer.
- Nós dois fazemos. Mas hoje estou comprometida a levar Clara para um passeio na cidade. - ela conta e sinto um mal estar repentino. Clara, eu já ouvi este nome.
Danielle me contou sobre sua primeira namorada, a garota que a beijou no provador de roupa. Eu tenho uma boa memória, infelizmente. A história sobre como ela sofreu por esta garota me corrói por dentro. Agora ela está de volta.
- É a mulher de ontem? Da frente da sua casa? - pergunto já com o tom de voz alterado.
- Ela mesma. Me achou graças a um artigo sobre você na internet. - ela fala com normalidade e eu me contorço, cerro o punho que não segura o telefone, mas sou capaz de quebrar o aparelho com a pressão dos meus dedos.
Maldita hora que eu não deixei Danielle se preocupar sobre nosso futuro juntos. Eu devia tê-la deixado em sua casa certa de que somos mais do que parceiros de sexo. Quero Danielle pra mim.
- Que perspicaz. - é só o que eu consigo dizer.
- Vou dedicar o dia a ela, já que veio de longe pra me ver. Nos vemos amanhã? - ela pergunta pronta para desligar o telefone e eu pronto para ter um ataque cardíaco.
- Claro. Tenha um bom domingo. - digo e desligo, nem espero que ela responda.

Eu não consigo entender como eu me sinto. Tento racionalizar meus sentimentos mas isso é como secar um bloco de gelo com um pano. Inútil e desgastante.
Os últimos dias tem sido um inferno e um paraíso. Lembro das palavras de Larissa quando eu disse a ela que estava tudo acabado. "Você ainda vai sofrer muito, Brandon.".
Eu não subestimo mais as palavras daquela deusa de gelo. Parece que ela tinha um livro aberto em sua frente onde lia meus pecados e minha cruel danação futura.
Ela primeiro tentou analisar suas próprias culpas. Depois concluiu que foi Danielle o meu motivo para o término. Em anos de namoro com Lissa eu nunca tinha ficado com outra mulher, até Riggs bagunçar minha cabeça.
Eu não neguei. Mas não prolonguei sua possibilidade de dar um ataque de ciúmes, jogando nela as dezenas de vezes que ela transou com outras pessoas.
"Você gostava. Você pedia.", ela gritou comigo, me tirando do sério. E eu respondi com meu sarcasmo "Ah, e você não gostou nem um pouco sequer?".
Entre xingamentos horrorosos e irreprodutíveis ela sentenciou meu sofrimento como se fosse uma satisfação me ver mal e triste.
Eu não tirei nada dela. Ela se acostumou com a vida que eu proporcionei. Sem trabalhar, com muitas festas e possibilidades de exibir sua figura irrestritamente.
Me propus a continuar dando a ela o que ela quisesse financeiramente, desde que ela deixasse de achar que tinha qualquer direito sobre mim. Foi o caminho fácil, comprar sua saída da minha vida para evitar lidar com a verdade. Eu não sei administrar conflitos.
O irônico é que estou no maior dos conflitos, entre a mulher que eu quero e sua indisponibilidade. Danielle não está investida em mim como estou nela. Não tem a mesma inclinação a gostar de mim como tem a gostar de Clara, a quem ela já conhece e já amou.
Admitir que estou sofrendo é doloroso e triste. Eu não gosto de ser patético e me sinto exatamente assim.

Já é noite quando largo o livro que estou lendo e me estico na cadeira do escritório. Olho o relógio e sirvo um pouco de bourbon num copo. Lawrence me chama pelo telefone.
- Sr. McAllister a srta. Riggs está aqui para vê-lo.
Após um dia inteiro solitário eu sinto um pouco de alívio. Eu sempre adorei ficar sozinho, sempre achei fácil conviver comigo mesmo e me bastar. Hoje foi atípico e senti uma angústia insistente, como se o tempo demorasse a passar.
Saio do escritório e quando chego à sala Danielle se levanta do sofá. Ela está linda com uma roupas bem diferente das que usa diariamente, uma calça larga e a blusa justa em seu corpo, sem saltos e os cabelos soltos. Eu tenho o impulso de cumprimentá-la com um beijo, então vejo Clara se levantar também.
Ela é justamente o tipo de mulher que eu sempre gostei, não fosse pelos cabelos curtos e tatuagens. Clara é alta e esguia, com pernas e braços longos. Suponho que ela fique estonteante num vestido, mas duvido que seja seu tipo favorito de roupa. O rosto é delicado e ela é realmente linda. Isso me deixa ainda mais propenso a não gostar dela.
- Clara quis conhecer você, espero que não estejamos atrapalhando. - a voz de Danielle continua me encantando, é uma pena que esteja falando de Clara.
- Parece que Clara consegue tudo o que quer.- digo tomado pelo ciúme, mas em tom de brincadeira.
- Este seria você, senhor. - Danielle me remeda enquanto aperto a mão da minha rival não declarada.
- Ah Danielle, este não sou eu hoje. Pode ter certeza. - falo com um amargor aparente.
- Só queria conhecer minha concorrência de perto. - Clara finalmente abre a boca e declara nossa rivalidade. Ela teve coragem. Respeito isso.
Danielle ri nervosamente.
- Isso foi uma péssima ideia. - ela diz para si mesma.
- Posso oferecer um bourbon pra vocês? - resolvo não deixar Danielle numa posição ruim e fingir que não ouvi Clara, mas meu estômago queima em nervosismo.
- Eu preciso fingir que vou ao banheiro pra deixar vocês dois um pouco mais à vontade. - Clara fala e Danielle aponta o caminho pra ela. - Depois eu aceito a bebida.
Conforme Clara se afasta eu me aproximo de Danielle, ela se vira de frente pra mim e me abraça, dando um beijo delicioso na minha boca. Eu não entendo o que isso significa e por que ela teve que esperar Clara sair para essa demonstração de saudades.
Seguro sua nuca por cima do cabelo e não quero desgrudar de sua boca. Ela aperta as mãos nas minhas costas levemente, e eu suspiro. Estou tenso, obviamente.
- Fique comigo. - peço antes de beijos curtos em sua boca.
- Não posso. Clara está dormindo na minha casa. - ela fala ainda de olhos fechados.
Eu me afasto dela, meio indignado com aquilo. Ela me encara tão seguramente que eu tenho certeza que vai embora no primeiro sinal de minha vontade de controlar sua vida, ou quem pode dormir em sua casa. A impotência diante disso me deixa furioso.
Por que diabos essa garota tinha que me conhecer? Por que Danielle concordou em trazê-la aqui sabendo como eu sou?
- Você dormiu com ela? - não consigo segurar a pergunta ciumenta na minha boca.
Danielle continua parada assistindo a minha luta interior enquanto eu ando de um lado a outro da sala.
- Danielle, você transou com Clara? - falo entre os dentes, extremamente raivoso com seu silêncio e a vejo respirar fundo.
Tenho certeza que ela se arrependeu dessa visita neste momento.

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