Capítulo 30

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Brandon

Passar o dia inteiro com Danielle é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Ela está sentada no sofá do escritório de casa, tocando meu violão autografado por Joe Perry, mas desta vez em vez de irritado eu fico admirando a forma como ela dedilha e canta. Me sinto um cara de sorte, encantando com sua forma de ver a vida, tão diferente de mim, tão distante de tudo que eu sou, mas ainda assim tudo que eu quero.
Eu nunca mais consegui trabalhar do mesmo jeito depois que ela entrou na minha vida. De alguma forma ela me convence que eu posso ser um cara de segundas chances e isso não é necessariamente ruim pra mim. Já assinamos dois bons artistas pela insistência dela. Eu ainda pareço comigo, mas me sinto melhor do que nunca.
Danielle me olha. Estou tão perdido nos meus pensamentos enquanto a observo que pareço platéia para seu pocket show na minha própria casa. Ela sorri um sorriso lindo, que me faz suspirar. Se houver alguém mais apaixonado do que eu no mundo deve estar num estado catatônico. Eu já me sinto nas nuvens e meio bobo a maior parte do tempo.
- Vou ter que cobrar o ingresso se você quiser continuar olhando. - ela brinca e deixa o instrumento de lado.
- Eu quero me casar com você. - digo e ela arregala os olhos num susto.
- Não acha precipitado? - ela tomba a cabeça em estranhamento e se encolhe sobre o sofá. Não é exatamente a reação que se espera a um pedido de casamento.
- Danielle, eu não quero te assustar. Mas pra mim é isso. Eu não quero que você vá pra sua casa no final do dia. Quero que more comigo, use minhas roupas, me deixe louco com sua mania de deixar suas coisas pelo caminho, sentar nos lugares onde não é pra sentar e virar a minha cabeça quando faz amor comigo. - é a melhor relação de argumentos parecida com declaração de amor que eu consigo fazer.
- Esqueceu de dizer que eu sou intratável e desobediente. - ela sorri como se não acreditasse no que acabei de dizer.
- E teimosa. - digo me levantando da cadeira e indo em sua direção. - E do jeito que as coisas são nossos filhos vão nascer iguais a você, pra me deixar com os cabelos brancos antes do tempo.
- Quem disse que teremos filhos? - ela me lembra que não pensa em ter uma família. Quando questionei ela foi enfática "Com o modelo de mãe que eu tenho, é melhor poupar o universo de um filho meu.".
- Eu não consigo ganhar uma, Danielle? - digo deliciado pela sua forma de remedar tudo que eu digo. Ela me provoca e eu gosto cada vez mais da sua firmeza e independência.
- Já me ganhou, senhor. Dê-se por satisfeito. É realmente algo inédito. - ela brinca e quando me vê ajoelhar na sua frente e me puxa para cima do sofá. - Não se ajoelhe. Eu te quero do meu lado.
- Então é um "sim"? - eu a seguro no meu colo e mal posso esperar para beijar sua boca.
- Sim. - ela concorda comigo facilmente pela primeira vez. Sem a acidez costumeira. Sua boca agrada a minha e não resisto em morder seu lábio inferior.
- Eu disse que você era minha. - a seguro firme.

Lawrence bate na porta depois que ignoro os toques do interfone. Estou acomodado entre as pernas de Danielle, beijando-a quando ele pede licença.
- Sr. McAllister, eu lamento incomodar. - ele diz sem graça e me irrito. Danielle aperta um botão no controle remoto e desliga a música que fazia trilha para nosso momento juntos.
Eu me levanto do sofá e ela se ajeita.
- Vai me dizer o que é tão importante? - digo bufando enquanto me levanto do sofá e vejo Danielle sentar, se arrumando.
- A srta. Kegan está aqui. Eu disse que o senhor não queria recebê-la, mas ela se recusa a sair. - ele fala com a educação de sua posição, mas certo de que vou ficar muito bravo com isso.
Eu suspiro e esfrego o rosto. Larissa está ultrapassando todos os limites da minha paciência. Danielle me olha insatisfeita.
- Por favor espere aqui. - eu peço lembrando que o último confronto delas acabou machucando Danielle no rosto. Não tenho nenhum interesse em transformar essa situação em um caso policial.
Ela concorda, mas tenho certeza que é somente para não discutir comigo justamente agora.
Quando entro na sala Larissa está tomando um copo de bourbon. Ela odeia a bebida, sempre preferiu champagne e vinhos frizantes. Só a sua imagem já me causa uma sensação adversa, como se meu corpo estivesse me alertando pra ficar longe dela. Em flashes eu me lembro da noite de sexta feira e um gosto amargo toma a minha boca.
- Seja rápida. - ordeno. Estou completamente sem disposição para os joguinhos que Larissa está se propondo a jogar.
- Vim só agradecer pela noite que tivemos. - ela me dá um sorriso malicioso, com seus olhos azuis vidrados em mim. - Eu vi que agora você é um homem que gosta de praia e passeios vespertinos. Achei que a sua namorada não soubesse que você teve uma recaída comigo.
- A única recaída aqui devia ser a sua com seus psicotrópicos, Larissa. - digo prendendo a mandíbula em nervoso. Não posso deixar que ela me afete.
- Eu mesma quis contar pra ela. - ela diz indo até o bar e servindo mais bebida, eu a acompanho com os olhos, mantendo meu corpo imóvel com a repulsa nauseante que estou sentindo.
Eu já me descontrolei com Larissa uma vez e ela parece não ter medo disso.
- Eu não vou entrar no seu jogo, Larissa. O que você quer? Está brava porque cortei seus cartões? - falo após contar mentalmente até dez.
- Isso me deixou chateada, meu amor. - ela fala docemente. - Mas não importa porque se tudo der certo em nove meses eu não vou precisar pedir. Você que vai. - ela espreme os olhos e me desarma.
Minha cabeça dá um nó, igual ao que acontece no meu estômago com as palavras dela, que mais pareceram um soco.
Como eu pude ser tão estúpido?
É mais do que óbvio que Larissa não está preocupada em me reconquistar por me amar demais. Ela ama o que eu tenho.
A culpa é mesmo minha por ter construído um relacionamento baseado em coisas superficiais, mas me enoja entender finalmente como funciona a cabeça da mulher em quem eu confiei nos últimos anos.
- Boa tarde, Larissa. - escuto a voz de Danielle surgir do corredor. - Que surpresa você não ter esperado o meio da noite para entrar.
Larissa a cumprimenta com um sorriso cínico.
- Que surpresa você saber que Brandon transou comigo e fingir que nada aconteceu. - a loira responde impassível.
- Você não acha baixo montar guarda na frente da casa de alguém só esperando uma oportunidade de armar alguma coisa? - Danielle tira o copo da mão de Larissa e toma o bourbon.
- Você não se cansa que querer o que eu tenho, Danielle? - Larissa reclama. - Daqui a pouco vai engravidar também, só pra me imitar.
Danielle me olha e faz uma expressão de dor. Ela entendeu tanto quanto eu que a provocação de Larissa está num nível acima do que pensávamos. Sabemos que é cedo demais pra ter certeza que não é só um blefe de Larissa.
- Me avise quando você botar o ovo. Eu te mando um presente. - Danielle diz sarcástica.
- Larissa, já disse o que tinha pra dizer, pode ir embora. - digo chateado por toda a situação que se criou e achando que já se arrastou demais.
- Quando você se cansar de comer gordura e quiser voltar a comer caviar, me ligue, querido. - Larissa provoca e vejo Danielle a encarar raivosa.
- O que te ofende mais, Larissa? O fato de Brandon preferir a mim mesmo eu sendo gorda, ou o fato de você também ter gostado de mim no começo? - Danielle coloca o copo de lado.
Larissa não responde.
- Eu dormi com seu namorado. Agora você dormiu com o meu. - Danielle conclui. - Vamos acabar com isso. Por favor.
- Não estamos nem perto do empate, Dany. - Larissa ironiza.
Danielle respira fundo como quem tenta se acalmar.
- É verdade. - Danielle diz e num movimento rápido acerta as costas da mão no rosto de Larissa.
A loira cai no chão com o impacto e antes que Danielle voe sobre ela eu a seguro pela cintura. Larissa se levanta e a ataca, segurando em seus cabelos.
As duas são uma mistura de cabelos e gritos. Eu viro as costas para Larissa, afastando-a de Danielle e gritando por Lawrence. Em pouco tempo ele aparece e ajuda a controlar a situação.
Larissa grita descontrolada e solto Danielle, olhando seu rosto para ver se ela está machucada. Ela bufa e observa Lawrence tirar Larissa da casa com a ajuda de um dos seguranças.
- Você está bem? - pergunto tentando fazer Danielle me olhar.
- Não. Quero bater mais nela. - ela diz com um ódio desmedido.
- Danielle, calma, por favor. - peço e a seguro num abraço.
- Eu nunca briguei na minha vida. Nem quando era mais nova. Eu fui bem? - ela me olha inquisitiva e eu rio de sua preocupação.
- Você foi ótima. Um excelente tapa. - digo olhando as costas avermelhadas da sua mão.
- Acha que ela pode mesmo ter engravidado? - ela me encara e não tenho coragem de dizer que sim.
- Pode ser um blefe. - respondo.
- Ou ela pode ter pensado em tudo com antecedência. Mesmo que você não tivesse bebido aquela noite. Se esse era o objetivo dela, ela iria tentar de qualquer jeito. - Danielle racionaliza e eu só consigo tremer com a possibilidade de ser pai de um filho de Larissa.
De todas as formas que eu imaginei a paternidade, essa é a pior possível. Mas caso aconteça de verdade, vou precisar que isso não afaste Danielle de mim, mesmo sabendo que teremos que suportar Larissa para sempre. Que pesadelo.
- Eu preciso que você seja você, e se preocupe com isso quando de fato for um problema. - digo assertivo.
- Ok. - ela concorda indo para a cozinha. Eu a sigo.
- Ainda quer se casar comigo? - pergunto meio inseguro.
- Eu acabei de bater na cara da sua ex namorada. Acho que isso foi mais um sim do que meu próprio sim, não é? - ela me remeda.
Minha Danielle teimosa e sagaz está ali, colocando gelo na mão e me respondendo mal. Ela é ela denovo. Respiro aliviado.

Faço uma reunião com a segurança e explico que não quero Larissa perto da casa. Danielle foi embora para seu apartamento, mesmo com meus pedidos para que ela ficasse.
Então aproveito para instruir minha equipe e incomodar meu advogado e em seguida meu terapeuta. Mesmo assim, sinto uma necessidade de conversar com alguém que não esteja envolvido em toda essa merda, para uma perspectiva externa.
Ligo para Mark e saio para tomar uns drinks com ele em um bar. Fazíamos isso com frequência antes de toda minha vida virar de pernas pro ar.
Ele ri com as histórias de brigas entre duas mulheres, se preocupa com minha segurança, e apesar de eu saber que ele teve sentimentos confusos por Danielle, fica feliz por mim.
- Ela é uma mulher e tanto. Na verdade você sabe que meu voto sempre foi de Larissa. Pra mim você é louco. - ele dá de ombros entre risadas.
- Não me fale em loucura. Já tive muita nos últimos dias. - peço conseguindo rir da minha própria situação. - Você entende de mulheres o mesmo tanto que entendia de música quando eu te contratei.
- Parece que não tenho mais como aprender. Agora que você vai usar uma coleira. - ele brinca e me arrepio instantaneamente com a lembrança de Danielle e seu presente.
Estou longe dela tem apenas algumas horas e já sinto sua falta irremediavelmente.

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