Danielle
Depois de uma semana de trabalho, e da companhia mais do que intensa de Brandon McAllister, eu só preciso de um pouco de descanso, uma taça de vinho para sexta à noite e uma praia no sábado.
Minha definição de fim de semana perfeito começará em exatamente uma hora e eu mal posso esperar, até penso em sair quinze minutos mais cedo. Não que vá fazer grande diferença, mas pelo menos meu caminho até minha casa será mais tranquilo.
Faço mais algumas anotações para a avaliação de Brandon e separo as mídias que acho mais interessantes. Apesar dele ser um chato perfeccionista, está levando em consideração as minhas opiniões, e isso me faz ficar bastante orgulhosa. Mark disse que demorou pelo menos dois meses até que ele o escutasse dizer "bom dia".
Criei raízes neste escritório, consumida pelo ambiente austero. À noite com álcool no sangue e depois de um banho vou começar a me livrar da aura pesada de tudo que ele me chamou essa semana.
Devo ter carregado mais uns vinte quilos só do peso das palavras dele.
Brandon e Mark entram, me tirando dos meus pensamentos. Eles conversam animados, muito diferentes de mim, e extremamente cafeinados para uma sexta feira.
- Pronta para a sexta, Dany? - Mark me olha entusiasmado.
- Deveria? - pergunto repassando a minha agenda mentalmente e McAllister o olha prendendo a mandíbula.
- A produtora está patrocinando mais um show hoje. Achei que você tinha recebido o convite. É uma festa incrível, depois de todo seu trabalho duro você merece um bom descanso. - Mark fala enquanto Brandon sai do meu campo de visão.
- Ele está aqui atrás te fazendo um sinal pra não me convidar, não é? - pergunto apontando para minhas costas e Mark encara nosso chefe atrás de mim. Ele me olha e somente dá um sorrisinho sem graça.
- Eu não tenho nenhuma objeção. - Brandon diz quando me viro para encará-lo.
- Eu estou te convidando. - Mark me faz olhar pra ele novamente. - Quem liga para o que o chefe pensa, certo?
Começo a arrumar minhas coisas considerando se devo trocar meus planos silenciosos por uma derradeira provocação à mania de McAllister em controlar tudo. Eu sei bem o que faria uma pessoa completamente em posse de sua razão e dignidade. Mas resolvo contrariar isso.
- Ok, eu vou. - digo vendo Brandon cerrar os dentes.
Em casa ainda penso em desistir. Minha cama parece tentadora e meu vinho está na temperatura ideal para meia hora de celebração à Baco. Mas minha teimosia me faz entrar na melhor roupa de balada que eu tenho, um vestido quase vermelho e saltos enormes. Arrumo o cabelo e a maquiagem. Na figura do espelho sei que estou bem, mas o reflexo da semana inteira de massacre à minha autoestima me atinge como um soco no estômago. "Ele vai me chamar de tubo de ketchup.", esmoreço. "Pra frente, Dany!", me convenço a não retornar às velhas inseguranças.
Nessa gangorra emocional eu fico mais uns minutos, ora pendendo pro meu time, ora devastada pela imagem fora dos padrões que me acompanha pelos últimos 30 anos, até que meu celular toca.
- Mark? - atendo meio incerta. Talvez ele tenha desistido do meu convite.
- Me manda seu endereço por mensagem. - ele pede.
- Eu vou Uber, táxi ou qualquer coisa. - digo certa de que ele não vai se importar se eu chegar uns minutos atrasada.
- Apenas me mande, Dany. - ele pede e me lembro de seu rosto.
Mark é um homem incrível, lindo, com a pele negra mais reluzente de toda a cidade. Sua barriga, eu imagino, deve ser a própria definição de chocolate. Quadradinhos perfeitos alinhados em uma cor deliciosa de cacau com leite. Ok, sei que é bem coisa de gordo associar um abdômen definido a comida. Mas honestamente eu adoraria ver esse chocolate derretendo com o calor dos meus dedos.
Estou solteira há um bom tempo. Heloise, minha última namorada tinha sido o relacionamento mais longo da minha vida, chegamos a cogitar um casamento, mas infelizmente nos separamos por uma rotina péssima de brigas e discussões. Não que eu ache que Mark quer algo comigo. Mas estou falando somente de uma boa diversão entre colegas, que mal haveria se ele pudesse olhar além do fato de eu não ter gominhos na minha barriga, certo?
Desligo o telefone e mando o endereço. Em quinze minutos a limousine para na frente na minha casa.
"Santa mãe de Deus!", digo antes da porta se abrir e Mark me dar um sorriso lá de dentro.
Entro e cumprimento Larissa e Brandon no banco ao outro lado do imenso veículo. "Deve ser maior que meu apartamento!", não consigo evitar de olhar tudo meio boquiaberta.
- Eu e Mark insistimos em pegar você. - Larissa diz simpaticamente. Eu acho que esta mulher deve fazer tudo com essa forma naturalmente magnética e sedutora. Um breve filme passa na minha mente de Larissa no ginecologista agindo sedutoramente. No mercado escolhendo pasta de dentes em câmera lenta com um vento a balançar seus cabelos e por aí vai.
Não me admira que ao menos com ela o insuportável Brandon McAllister seja condescendente.
- Muito obrigada. Imagino o trabalho que deu. - levanto a sobrancelha pra Brandon e ele continua impassível, me observando.
"Será que está cedo pra piada do ketchup?", suspiro ainda o encarando. Sua boca máscula e firme desenha um breve sorriso, ou pelo menos eu acho que seja um sorriso, e ele vai tomando o ar. Me preparo para o golpe.
- Você está muito bonita, Riggs. Esta cor ficou ótima pra você. - sua voz é suave, embora firme.
"Oi?"
- É? - pergunto surpresa.
- Realmente. - Mark complementa e sorrio pra ele.
"Uau. Ponto pra Riggs!".
- Bem, vocês todos estão ótimos. - digo num sorriso que chega a doer meu rosto de satisfação. Talvez sair tenha sido uma boa ideia, afinal.O clube é imenso e a música é ótima, se você gosta do tipo eletrônico. Não é dos meus favoritos, mas tem um ditado que diz "Uma vez no inferno, abrace o capeta.". Eu não pretendia abraçar meu chefe, piadinhas à parte. Mas já que estava lá, achei melhor dançar e me divertir. E assim fiz, com Mark, a noite toda e incansavelmente.

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Peculiar
Historia CortaDanielle é peculiar. Com a ajuda de Clara, sua amiga da adolescência, ela se tornou destemida, encarando de frente os desafios de sua vida e a incansável luta de ser uma mulher fora dos padrões. Ela prefere ser chamada de gorda mesmo. Por que? Porqu...