14 - Artimanha

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O caminho para casa foi silencioso e lento. Quase sugeri ao meu sogro que eu mesmo dirigisse, mas aí o homem ficaria traumatizado e não deixaria a filha sair comigo outra vez.

Mandei uma mensagem para Elisa com tudo o que eu precisaria.

E onde é que eu vou arrumar isso? — ela devolveu.

Eu não sei! Se vira. — rebati.

O que você está aprontando? Não quero ficar de fora! — sempre curiosa!

Depois explico. Agora anda rápido, já estou quase chegando.

Eu não fazia a mínima ideia de onde ela iria conseguir aquelas coisas uma hora daquelas, mas era a Elisa, então...

— O que está acontecendo, afinal de contas? — a loura perguntou assim que me viu. — Eu liguei para a Alma e ela disse que não é nada grave. Ela disse que deve ser anemia.

— Eu ainda não sei. O sangue dela está ruim. — a minha apreensão não se escondeu no tom de voz. — Acho que vão fazer mais exames nela para descobrir a origem do problema. Eu... — a jovem a minha frente me encarava com um semblante pesado. Talvez ela sentisse o mesmo que eu. — Estou com medo, Elisa.

— Talvez fosse melhor levá-la para o mundo Natural. Os botânicos podiam dar uma olhada nela, não confio muito nos curandeiros daqui. A ciência deles é muito jovem ainda.

— Isso é uma excelente ideia! — uma ideia que me encheu de esperanças. Eu ainda não tinha pensado nisso. — Vou sugerir isso, com certeza.

— Agora vamos ao que realmente importa: a treta! — ela esfregou as mãos. — O que está aprontando, maninho?

— Você conseguiu tudo o que eu pedi?

Ela bufou e emburrou a cara, colocando as mãos na cintura.

— Vou fazer de conta que você não me fez essa pergunta, porque é óbvio que a sua mente ficou perturbada com o que aconteceu com a Alma. Então vou fazer de conta que você esqueceu que está falando comigo: Elisa!

Mesmo com toda a minha tensão ela conseguiu me fazer rir.

— Você nunca desaponta, lourinha!

Expliquei para ela o que eu tinha em mente. A gente não sabia se o plano iria funcionar, mas seria no mínimo divertido tentar.

— Você não vai contar pra ela, vai? — Elisa perguntou com um sorriso travesso enquanto me levava de volta ao hospital.

— De jeito nenhum! Ela vai me matar!

— Que ótimo! Então eu vou contar!

— Você não vai fazer isso!

— Lembra aquela vez que você contou para o Natan que fui eu que soltei os craturos que ele caçou?

— Elisa! A gente tinha dez anos! — o rapaz tinha perdido a disputa na época, porque a peste da Elisa tinha sabotado a gaiola dele de madrugada.

— Eu sou vingativa e rancorosa! — ela respondeu com um imenso sorriso debochado de cobra naquela cara de anjo do inferno!

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora