49 - Caminhos do coração

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Assim que estávamos longe o bastante da escultura os macacos nos deixaram em paz e pararam de nos perseguir.

— Então, o que significa a charada que recebemos? — perguntei.

— Um monte de sentimentalismo! — Natan bufou com raiva.

— Bom, partindo do princípio de que não seja só mais uma brincadeira, — Ramon falou. —, acho que seguir o sol nascente significa seguir o curso do sol no céu. Devíamos seguir para oeste.

Fazia sentido. Como nenhum de nós teve nenhuma ideia melhor, optamos por seguir essa direção e ver no que iria dar.

Depois de caminhar algumas horas sem encontrarmos nada, a esperança começou a fraquejar dentro de mim. Sem um cheiro especifico para seguir, poderíamos ficar rodando ali dentro daquela floresta por tempo indeterminado. Poderíamos até mesmo nunca encontrar essa porcaria de trilha.

Somos caçadores, temos algumas habilidades desenvolvidas em relação a outras criaturas. Perseguimos coisas com facilidade, mas não pedras! Pedras não se caçam! A frustração estava me cansando mais do que a jornada em si.

— Ali, ali, ali! — Ramon ficou todo feliz de repente puxando o braço de Elisa. — O coração! O coração!

Olhamos para a direção que o garoto apontava. O caminho segue, por onde o coração ordena!

— Ah, moleque! — Natan bagunçou o cabelo dele. — É assim que se faz!

Olhando para baixo, na direção em que o jovem apontava eufórico. Numa pequena encosta ao nosso lado, uma árvore toda retorcida assemelhava-se nitidamente à forma de um coração. Só podia ser aquilo. Um coração no meio da floresta. Ter asas aquele momento ajudou a vencer o declive com mais facilidade. Ramon chegou com algumas folhas enlaçadas no cabelo da capotada que dera bem no final.

Inspecionamos a árvore com o formato inusitado. Um pouquinho à frente dela via-se os rastros quase apagados de uma trilha. Seguimos o caminho ordenado pelo coração, exatamente como a estátua do símio nos orientara mais cedo.

Paramos para repor algumas energias, descansar e comer um pouco. Aquele era um lugar bonito, tinha algumas flores espalhadas aqui e ali, bem acomodadas sobre os troncos das árvores. Tranquilo e calmo. Uma borboleta ou outra se espreguiçava num banho de luz. Perguntei-me se Alma teria gostado daquele lugar. Ela era mais do tipo que gostava de ver do que de tocar. Preferia apreciar a natureza com alguma certa distância, mas com certeza teria adorado a árvore.

Renovados — na medida do possível. —, seguimos viagem. Selva ia empoleirada no ombro de Natan, cochilando. Uma bola branca abanando o rabo preguiçosamente. Eu era o último do grupo e estava na companhia dos meus próprios pensamentos até ver Ramon arrancar uma flor branca de cinco pétalas com um miolo amarelo e entregá-la à garota loira que caminhava ao seu lado.

— Pra você. — ele falou com um sorriso.

Elisa olhou para ele e franziu o cenho.

— Por que está me dando isso? — a moça perguntou.

— Porque ela cheira tão bem quanto você. — disse na maior sinceridade.

Natan soltou uma gargalhada sem nenhuma vergonha, tão alta que assustou os passarinhos. Elisa ficou vermelha.

— Para de bobagem! — deu um empurrão no aprendiz. — E vê se sai de perto de mim.

— E como é esse cheiro, Ramon? — Natan pôs mais lenha na fogueira. — Doce como o mel ou fresco como o vento?

— Ah, é suave como a lavanda e o jasmim. — respondeu sem perceber a armadilha.

Elisa caiu em cima dele. O garoto se defendia dos tapas que levava da melhor forma que podia.

— Ai, ai, ai! Por que ficou tão zangada, senhorita? Eu só disse que o seu cheiro era bom. Foi só um elogio!

— Para quando é o casamento? — Natan estava se divertindo horrores.

— Cala a boca, Natan! — Elisa apontou o dedo para ele numa ameaça clara.

— O que é que eu fiz?! Só estou curioso! — uma falsa inocência e um sorriso malicioso.

Elisa se virou para Ramon em ponto de pegar fogo.

— Retire já toda essa baboseira que você disse! — ela estava mesmo muito brava com ele.

— Tudo bem, então. — Ramon falou franzindo as sobrancelhas. — A senhorita fede. Tem um cheiro péssimo!

Eu não consegui mais segurar. O riso me escapou e Natan se curvou em gargalhadas, segurando a barriga até chorar.

— Seu miserável! — Elisa voltou a bater nele.

— Mas o que foi que eu disse agora? — falou enquanto fugia. — Foi a senhorita que mandou! Eu não sei o que quer que eu diga!

Ela o agarrou e achei que fosse estrangulá-lo. Eles tropeçaram num tronco caído na beira da trilha e caíram no chão. O solo deslizou e os dois despencaram ladeira abaixo. Os risos foram interrompidos e nós corremos para ver se estavam bem.

— Elisa? Ramon? — Natan chamou.

— Vocês estão bem? — perguntei enquanto voava através da ribanceira.

As duas figuras emaranhadas começaram a se mover lá em baixo.

— Ai, a minha cabeça. — Ramon começou a se levantar com a mão na testa.

— Sai de cima de mim! — Elisa voltou a estapeá-lo. — Sai logo! Sai! Sai! Sai!

— Desculpe senhorita, desculpe! — ele se afastou enquanto ela levantava num pulo ágil.

— Ainda vou matar você quando isso tudo acabar! — a loura falou limpando a roupa e encarando-o de cara emburrada.

— É isso aí pombinhos. Mas tentem guardar a lua de mel para depois. — Natan passou e empurrou Ramon de propósito, que se desequilibrou em cima da loira. — Agora temos outras coisas para fazer. — ele segurou um emaranhado de folhas e cipós e deu um puxão vigoroso, descobrindo a superfície cheia de musgo da rocha. — Você tinha razão, raposa. — falou para Selva sem tirar os olhos do objeto. — Não é uma pedrinha.

Nós todos olhamos a grande rocha que se mostrava majestosa à nossa frente. Encontramos a trilha das pedras.

 Encontramos a trilha das pedras

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E por hoje é isso amados. Espero que tenham gostado.

Vamos seguir essa trilha e nos vemos semana que vem no "Vale das pedras que gemem" Uuuuuuuhhhh

Uma ótima semana e um monte de bjos!

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora