Elisa tinha resolvido erguer o garoto e segurá-lo pela cintura depois de ver que ele estava mesmo ficando verde. Nós pousamos numa região mais aberta, a luz do sol entrava largamente pela cobertura verde. Mesmo sendo ao ar livre, ninguém mais queria ficar enclausurado, mesmo que fosse pela vegetação densa da selva. Quanto mais céu aberto pudéssemos ver acima de nossas cabeças melhor.— Já pode me soltar, Ramon. — Elisa falou olhando o rapaz.
O garoto continuava com os braços enlaçados no pescoço dela, se aninhando contra o seu corpo.
— Tem certeza? — ele respondeu com uma careta.
— Os seus pés já estão no chão. — ela apontou.
— É eu sei, mas... e se tiver algum animal selvagem por aqui, e precisarmos fazer uma saída de emergência?
Elisa olhou para ele de cara feia.
— Eu posso garantir que se não tirar essas suas mãos de mim vai mesmo aparecer um animal selvagem por aqui. Sai! — e abriu o sorriso mais hipócrita que eu já tive o prazer de ver!
Ele foi inteligente e se soltou dela, mas não se afastou muito. Ela ia pisando duro e limpando a roupa enquanto ele ia seguindo-a com o olhar.
Paramos e nos sentamos um pouco, apreciando o sossego e o relaxamento do ambiente tranquilo. O chilrear dos passarinhos enchia a brisa fresca e leve. O ar puro da mata me fazia lembrar de casa. Se eu fechasse os olhos, podia me sentir lá. Uma saudade estranha me atingiu. Sentia falta de estar em um lugar assim e nem sabia disso.
— Primeiro desafio cumprido. Atravessamos o templo e entramos na selva de Shambala. O que vem agora, mesmo? — Natan questionou.
— Agora seguimos para o norte, até encontrarmos a entrada para o poço das almas. — Selva declarou. — Subindo o caminho do rio, na direção contrária à correnteza até chegarmos à cachoeira. Passando pelas árvores que choram, vamos encontrá-la logo em seguida.
— Não gosto desses nomes. — o caçador declarou.
— Ufa! Ainda bem! — Ramon suspirou e declarou com um sorriso enorme. — Estou bem mais aliviado agora! Achei que fosse só eu.
Poço das almas. Que raio de lugar será esse? Espero realmente que o nome não esteja sendo literal!
Nós seguimos viagem pelo ar. Avistamos o leito do rio com facilidade e subimos na direção indicada. Adiantamos caminho pelo céu até vislumbrarmos a cascata de água que descia pela parede rochosa. Paramos na margem e observamos o nosso entorno.
— Aí está a cachoeira. Agora faltam as árvores que choram. — Elisa declarou. — Não estou vendo nenhuma.
— Como são exatamente essas árvores? — Natan perguntou.
— Eu não sei. — Selva respondeu. — A única coisa que eu sei é o nome delas.
— Ótimo! — Elisa desdenhou. — Isso ajuda muito.
Selva deu uma olhada torta e mal encarada para a loira que sequer prestou atenção. As duas nunca foram grandes amigas, mas preciso admitir que sempre foi Elisa a mais encrenqueira. Ela gostava de cutucar.
— Tudo bem. — falei. — Árvores que choram. — comecei a dar voz aos meus pensamentos. — O que são? — a floresta parecia completamente normal. — Troncos com feições? Olhos vertendo lágrimas? O que são árvores que choram?
Ao nosso redor o que se destacava era a beleza da água que escorria pela face rochosa da parede natural que a sustentava formando a queda d'água. O som de água corrente era relaxante e tranquilizador. Às margens do rio a floresta crescia saudável e reverdeceste.
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Tempo Quebrado | 2
RomanceA maçã tem o gosto do pecado... e a cor do sangue. Gael Ávila e Alma Ferraz conquistaram o direito à liberdade e ao amor que nasceu como um fruto proibido. Mas um romance assim, sempre cobra o seu preço! Uma decisão foi tomada, um sacrifício foi fei...