Pelo grande buraco na camisa de Natan, observava-se a ausência de um colar com pingente de rubi. Ele deve ter ficado preso na presa da serpente e arrebentado quando esta quase lhe rasgara o peito. Toquei a minha pedra oculta pelo tecido da blusa. A nossa última chance. Não posso perdê-la.— Agora precisamos encontrar a trilha de pedras que levarão ao vale. — Selva respondeu de olhos fechados, sentada de pernas cruzadas em meditação.
— Encontrar uma trilha de pedras bem no meio de uma floresta parece a mesma coisa que procurar uma agulha em um palheiro. — Natan falou.
Selva abriu os olhos e sorriu.
— Não se preocupe. Vai saber quando se encontrar com uma delas. Elas não são exatamente... pedrinhas.
Descansados, de estômago abastecido e espírito renovado, partimos à procura do próximo obstáculo da nossa jornada e a tarde já passava bem mais da metade. Não encontramos as pedras que nos levariam ao vale, mas nos deparamos com rastros de uma tribo indígena.
— Olha isso aqui. — Natan falou. — É uma armadilha bem grande. Provavelmente pertence a algum tipo de povo caçador-coletor.
Era um buraco imenso cavado no chão. Todo coberto por vegetação nativa. Lá dentro, ao final da queda, o animal seria encravado em lanças afiadas de madeira.
— Acha que eles podem nos ajudar? — Elisa perguntou.
— Com toda essa hostilidade aí?! — Ramon olhava as pontas afiadas de madeira da armadilha. — Eu preferiria não saber!
— Isso não é para a gente! Medroso. — ele ganhou um tapa na nuca. — Isso é para os animais que eles caçam. Aqui eles são diferentes dos nossos, servem de comida uns para os outros e para as pessoas também. — Elisa explicou.
— É verdade! Tinha me esquecido. Cadeia alimentar. — ele falou com a lembrança.
Eu observei a facilidade da intimidade entre eles. Não gostei!
— Com certeza conhecem bem essa região. — falei observando o moleque que não tirava os olhos da loura. — Provavelmente sabem onde as pedras que estamos procurando ficam.
— Vamos seguir esses rastros então. Aproveitamos e pedimos abrigo para passar a noite, não vai demorar muito para escurecer. — Elisa sugeriu.
— Tomem cuidado, Ramon e Selva, vocês em especial. — Natan alertou. — Deve haver mais armadilhas por aqui. Não se afastem muito de nós.
Seguimos as trilhas deixadas pelos nativos na floresta. Encontramos mais algumas armadilhas pelo caminho e ao que tudo indicava, nenhuma delas tinha sido armada. O jantar de hoje seria vegetariano. Quando as sombras trazidas pelo adeus do sol encheu a mata, ouvimos um farfalhar à nossa esquerda. Um garotinho saiu correndo de dentro da folhagem e parou bem na minha frente.
— Olá. — falei enquanto ele me analisava em silêncio.
A criança tinha o rosto coberto de branco e vários desenhos em tons terrosos desenhados pelos braços e pernas.
— Onde estão as outras pessoas da sua tribo? Você está sozinho aqui? — tentei começar um diálogo.
O menininho continuava sem dizer nada, apenas analisando o nosso grupo.
— Talvez não entenda o que está falando, Gael. — Elisa comentou.
O menino deu um grande sorriso e começou a saltitar de alegria sem sair do lugar, gritando coisas ininteligíveis aos meus ouvidos.
— É, acho que você tem razão. Você entende a língua dele Selva? — olhei para a garota um pouco à minha frente.
— Não. — disse franzindo as sobrancelhas. — Mas com certeza ele não faz parte da tribo que estamos procurando.
Voltei os olhos para o rapazinho de dentes brancos e expostos. Ele começou a remexer nas pregas do tecido de sua roupa e tirou um tubinho de lá. Começou a apontar para a floresta atrás de si, ainda sorrindo radiante.
— Desculpe, amiguinho. Não entendo o que esteja tentando me dizer. — declarei.
O garoto levou o tubo à boca e o soprou na minha direção. Senti instantaneamente uma picada. Uma pequena farpa espetou o meu pescoço. Levei a mão e arranquei o objeto da pele. Vi a ponta suja de sangue. Um alerta me atingiu de repente. Isso não era nada bom. Gritos indecifráveis ecoaram dos arredores da floresta em alto e bom som, misturando-se ao grupo de vozes que eu conhecia bem.
Senti a mesma picada atingindo o meu braço e a minha nuca. A minha mente rodou, o meu estômago se contorceu, os meus joelhos fraquejaram. Ai não. Um bando de pessoas tingidas com desenhos semelhantes ao da criança pequena invadiu o espaço. Fomos cercados pelos nativos. Uma vertigem muito mais poderosa do que eu me nocauteou e eu apaguei.
Olá amados!
Capítulo fresquinho, espero que gostem. Bjos!
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Tempo Quebrado | 2
RomanceA maçã tem o gosto do pecado... e a cor do sangue. Gael Ávila e Alma Ferraz conquistaram o direito à liberdade e ao amor que nasceu como um fruto proibido. Mas um romance assim, sempre cobra o seu preço! Uma decisão foi tomada, um sacrifício foi fei...