Uma parede sólida do teto ao chão se assomou contra nós. Um feixe de luz lá em baixo indicava que ainda existia um dia fora dali.Nós descemos para solo firme e minhas pernas tocaram a água rasa que nascia bem na passagem da saída da caverna e eu tive que ajudar o Ramon a se equilibrar para que não se desmontasse bem ali. Nós saímos da gruta para uma região de terra seca e árida.
O céu.
Foi a coisa mais linda que eu já vi na minha vida. Ver o céu azul e limpo acima da minha cabeça quase me fez chorar de felicidade. Afastamo-nos da cadeia montanhosa de onde havíamos saído, arrastando nossos corpos ocos e esvaziados pelos ecos podres e atormentado com passos pesados de chumbo negro, e adentramos a savana que se estendia nua adiante de nossos olhos.
A rocha melancólica lá atrás chorava, suave e triste.
Caminhamos em silêncio até estarmos bem distantes da entrada da gruta. Não sabíamos se aquelas coisas feitas de rocha azul esverdeado iriam nos seguir até ali. O calor do sol abrasava a pele e a secura do ar contrastava com a umidade do interior da caverna. Isso era revigorante. Pelo menos o meu corpo tinha conseguido se livrar daquele ambiente.
Nunca mais vou entrar lá! Precisaríamos encontrar outro caminho que nos levasse de volta para casa, porque eu realmente nunca mais entraria lá.
Sentamo-nos em baixo da sombra esparsa de uma árvore de copa baixa, emocionalmente exaustos. Tenho certeza que nunca vou conseguir esquecer por completo aqueles sons. Aqueles ecos.
O sol estava nos deixando, tingindo o horizonte já desbotado e amarelado de fortes tons de laranja, vermelho e rosa.
— Estou cansada. Minhas asas estão doloridas. — Elisa falou. — Sinto como se tivesse voado um dia inteiro sem intervalos. Eles realmente acabaram comigo.
— Quanto tempo será que ficamos lá dentro? — Natan perguntou.
— Eu não sei. — falei.— Pareceu uma eternidade.
A sudoeste de onde estávamos, todos nós ficamos observando o verde que se erguia lentamente ao longo da paisagem até culminar em um bosque a perder de vista. Era para lá que deveríamos seguir.
— Não sei se tenho forças para andar até lá. — a voz do Natan saiu pesada, como o meu espírito. — Deve levar a noite toda para chegarmos.
— Vamos passar a noite aqui. — ela não tardaria a nos fazer companhia. —Montamos turnos de vigília, como da outra vez. — declarei.
— Vou caçar alguma coisa. — ele se levantou. — Quem não quiser vir comigo, dê um jeito de acender uma fogueira.
Elisa e eu nos levantamos atrás dele. Ocupar a mente para que ela parasse de pensar era tudo o que eu precisava. Quando voltamos já era noite. O fogo da fogueira aqueceu o ar frio que se instalou com a chegada da escuridão e a gazela encheu nossos estômagos famintos.
Os olhos pesaram e a mente implorou pelo sono. Eu estava exausto, mas pedi para ficar com o primeiro turno de vigília. Não queria dormir, tive medo dos pesadelos. Ainda conseguia, mesmo acordado, ouvir os ecos daqueles gritos dentro do meu cérebro.
Elisa se sentou ao meu lado, abraçando os joelhos.
— Estamos quase lá. — ela falou. — Nós vamos conseguir. Mais meio dia de caminhada, Gael. — a moça sorriu para mim.
— É. — falei observando aquele rostinho loiro. Elisa não precisava estar ali. Ela poderia estar em casa, confortável e segura, mas escolhera estar ali, arriscando a vida voluntariamente para me ajudar, para me proteger. — Eu amo você, loirinha catarrenta.
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Tempo Quebrado | 2
RomanceA maçã tem o gosto do pecado... e a cor do sangue. Gael Ávila e Alma Ferraz conquistaram o direito à liberdade e ao amor que nasceu como um fruto proibido. Mas um romance assim, sempre cobra o seu preço! Uma decisão foi tomada, um sacrifício foi fei...