18 - Confissão

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— Gael, por favor, eu posso explicar.

Pode?! É mesmo?! Como? Não tem explicação para isso. A guardiã estava com o ventre limpo, sem o seu sinal. A minha mente estava em pânico total! Não tem explicação para essa merda aqui!

— Tem alguma ideia do que você fez? — a minha voz saiu fria e cortante. — Sabe as consequências disso? — ela se encolheu sob a minha acusação.

— Não tive escolha. — um sussurro.

— Não teve escolha?! — quase um grito.

— Por favor, Gael, me deixa explicar.

— Por quê?! Por que fez isso? Por que escondeu isso de mim?!

Senti uma tontura enjoativa. Eu precisava sair dali. Precisava de ar.

— Porque você ia ficar furioso, como agora, se eu tivesse te contado. — ela torcia as mãos nervosa. — Eu precisei porque...

— Eu não quero mais ouvir. Não me interessa, não quero saber. Pode ficar com a sua explicação. Não quero ouvir nada do que tenha a me dizer. — desci da cama sem olhar para ela.

— Gael. — ela segurou o meu braço.

— Não toque em mim! — puxei o braço. — Quantas vezes perguntei se estava escondendo alguma coisa de mim?! Há meses você tem olhado dentro dos meus olhos e mentido pra mim bem na minha cara!

— Eu não tive escolha! — a voz dela começou a ficar mais enérgica.

Dei uma risada sinistra e tão amarga que assustou até a mim mesmo. A minha alma estava negra como o carvão. Eu queria gritar. Queria quebrar alguma coisa sob meus punhos até que tudo virasse pó.

— Você teve sim. — encarei a bela criatura que vinha me fazendo de idiota. — Se tem uma coisa que você fez, é isso: uma escolha. E você fez isso pelas minhas costas. Tudo pode ser tirado de você à força, até a vida, mas a magia não. Você vendeu a sua marca, guardiã. Você vendeu a sua magia. E isso só pode ser feito de um único jeito: com toda a sinceridade de um coração. Você escolheu isso.

— Deixa eu começar do começo, Gael. — ela implorou.

Não me importei com a dor na voz dela. Eu só tinha consciência da minha própria dor. A minha vida estava deixando o meu corpo e evaporando pelos meus poros. E isso dói.

— Eu não quero saber dos seus motivos. Provavelmente serão um monte de mentiras. Tem mentido pra mim há meses. Será que alguma coisa que já saiu da sua boca até hoje é verdade? Ou você só sabe mentir?

— Não quer saber pelo que eu troquei? — a lágrima que lhe escorreu pela face quase me fez fraquejar. Quase.

— Você enche a boca para dizer que não está doente. Que eu estou exagerando e imaginado coisas! Você mente na minha cara dizendo que não tem nada, que não é feita de vidro e não vai se quebrar. Você realmente não está doente. — falei baixo, bem perto do rosto dela: — Você está morrendo. E está me fazendo assistir!

Dizer as palavras em voz alta fez o meu estômago se revirar em ânsias furiosas. Eu tinha que sair dali. Eu tinha que sair dali.

— Eu vi você morrer por minha causa! — ela gritou atrás de mim. Estava tremendo para controlar o choro que escorria em silêncio ao invés de começar a soluçar.

Eu queria segurá-la no meu colo, fechá-la dentro de uma cápsula de vidro para que ninguém nunca pudesse feri-la. Queria tirar as lágrimas daqueles olhos lindos e substituir por um sorriso, mas o meu corpo não me obedeceu.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora