15 - Copacabana

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Alma se recusou terminantemente a voltar ao mundo Natural. Quando ela não teve mais desculpas para dar, disse que estava com medo daquele lugar e pronto. Mas ela estava mentindo. Eu sabia disso e a Elisa também. Nós só não sabíamos a razão. O nosso mundo não era mais um perigo para a guardiã e dava para ver a saudade nos seus olhos de noite estrelada quando falávamos de lá.

Então, como ela não teve mais nenhuma crise, Elisa e eu resolvemos dar uma folga para a moça, que vinha ficando muito acuada com a nossa insistência.

Em meados de maio, a bailarina estava se apresentando num evento em um hotel de luxo em Copacabana, no Rio de Janeiro. O ballet Dolabela fora contratado para homenagear o grupo de empresários que estaria negociando um contrato milionário com a rede hoteleira.

Cinco dias e nada de escola. Apenas praia, mar, areia, sol, dança e Alma Ferraz. Posso viver com isso!

— Vamos logo. — ela me arrastou até o calçadão de areia.

O dia estaria livre até o meio da tarde, quando a equipe começaria os ensaios para a próxima apresentação.

—Não importa que você venha de um mundo perdido de fantasia, estranho lindo, isso aqui — Alma mostrou o horizonte à nossa frente. —, são praias brasileiras! Uma forma de fantasia totalmente diferente. E sem sereias comedoras de gente!

A areia fina, macia, fofa e dourada como o ouro do sol se estendia com graça diante de nós para se mesclar ao manto líquido azul salgado que se fundia ao azul celeste no final do horizonte, num dia limpo e claro de um céu sem nuvens. O calor do sol, o frescor da brisa, o cheiro da maresia. Um cenário perfeito, deslumbrante e exuberante.

Foi uma tarde muito tranquila. O grupo do ballet era muito jovial e divertido. Alma pegou bastante sol. Eu gostaria muito de tê-la enfiado debaixo de uma sombra com um livro na mão. Ela desfrutaria da leitura e eu da sua exposição de pele. Alma tinha optado por um maiô ao invés de um biquíni, a frente do corpo estava toda coberta mas... ainda assim, era muita pele exposta para admirar! Muitas curvas bem marcadas para seguir com o olhar. Mas o máximo que consegui foi fazê-la usar um chapéu de abas bem largas. Ela preferiu ficar enfiada dentro da água. Aquela garota era praticamente um peixe!

O pessoal todo decidiu se divertir com as ondas fracas, então me sentei sozinho na cadeira de praia e fiquei só observando. De vez em quando a cabeça dela desaparecia e o meu coração disparava até ela emergir de novo. Por que ela precisava ficar tão fundo? Não podia ficar mais no raso? Tinha medo de tirar os olhos dela e ela se afogar. Eu realmente estava ficando paranoico. Droga! Precisava relaxar.

Ai, ai, ai, ai, ai. Não gostei nada do coreógrafo colocando a mão na pele macia e lisa das costas nuas dela. E também não gostei nada daquele olhar. Nada profissional. Olhar de um homem para uma mulher bonita. A mão desceu alguns centímetros. Merda!

Eu estava apertando um coco vazio com muita força e a respiração já começava a desregular. Era melhor eu não ficar olhando. Vou pegar outra bebida dessa e vou me concentrar no gosto bom que ela tem. É isso. Decidido.

Peguei a camisa do chão, sacudi a areia e vesti. Levantei, colocando o boné na cabeça, e fui até o quiosque ali perto. A atendente me serviu outro coco gelado, escolhi uma mesa vazia e fiz questão de me sentar de costas para a praia. Não sou obrigado a ver!

A textura fina da areia sob meus pés descalços me ajudava a relaxar. Pedi também uma porção de frutos do mar, que eram novidade para mim. Estava com fome — de novo!—, percebi na hora.

— Oi, posso me sentar aqui? — uma garota, e sim, ela era bonita, com a pele num tom forte de bronze de tanto se expor ao sol se aproximou.

— À vontade. — indiquei as outras cadeiras vazias.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora