58 - A maca

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O ar finalmente conseguiu entrar em meus pulmões e eu ofeguei, cansado e tremendo. Aos poucos a minha visão foi clareando e as coisas foram voltando ao normal. A dor raleou e desvaneceu. Eu me sentei, fraco, no chão.

— O que aconteceu? — Natan perguntou de olhos arregalados. — O que é que foi isso?

Ele e Elisa me encaravam com espanto e preocupação estampados nos rostos.

— Eu... eu não sei. — falei massageando o peito. — Eu não sei. Parece que... eu não conseguia respirar.

— Isso foi muito estranho. — Natan fez uma careta.

— Idiota! — Elisa emburrou a cara depois que viu que eu estava bem. — Não faça de novo ou vou quebrar a sua cara! Eu avisei que era para você relaxar. Olha só no que deu! Está aí tendo crises de ansiedade enquanto tenta me matar do coração! Senta ali e fica quieto! — ela ordenou apontando o lugar.

— Eu já estou melhor. — me coloquei de pé.

— E eu te perguntei alguma coisa por acaso?! Eu mandei você sentar!

— E desde quando é que você manda em mim, pirralha?

— Desde sempre! Agora senta! — a voz dela só ia crescendo de tom e volume.

— No seu lugar eu sentaria. — Natan falou tentando esconder um sorriso. — Ela pode ficar bem violenta às vezes.

Eu olhei para a garota loura me encarando de braços cruzados, batendo o pé.

— Tudo bem, tudo bem. — falei. — Se vai fazer você se sentir melhor, fazer o que?! Realmente, sempre me disseram que os piores venenos vêm em pequenos frascos.

Ganhei um tapa estalado na nuca quando passava por ela. Elisa tinha sido uma criança pequena e agora também não era muito alta. Sempre impliquei com o tamanho compacto dela.

— Senta logo! — ela cuspiu.

Nós três esperamos sentados até que, finalmente, a ausência da lua assumiu o seu lugar de direito no céu limpo e estrelado. As águas da cachoeira começaram a rolar, de baixo para cima, no sentido inverso ao da gravidade. Dei o primeiro passo e as cortinas se abriram.

A noite no mundo da realidade me acolheu quando deixei a escuridão do mundo da fantasia. Casa. Eu me sentia agora realmente em casa, só por estar no mesmo espaço dimensional que ela, a minha carissimi.

Uma hora depois estávamos adentrando pela porta do hospital.

— Boa noite. — cumprimentei a funcionária na recepção. — Eu gostaria de visitar uma paciente. Alma Ferraz.

— Desculpe, não estamos em horário de visitas. — respondeu. — A próxima entrada será apenas pela manhã.

— Mas é muito importante! É realmente urgente! — declarei.

— Sinto muito. — a moça jovem me deu um sorriso triste. — São as normas do lugar. Eu deixaria você subir se pudesse, de verdade, mas não posso mesmo.

Mas o que é isso que está acontecendo? Todos se juntaram contra mim e resolveram que vão me mandar esperar?! Primeiro Selva, depois Elisa e agora essa estranha?! De jeito nenhum vou me sentar e ficar olhando! Eu vou subir e ver a Alma agora mesmo, nem que para isso eu precise dar a volta e entrar voando pela janela do prédio!

Olhei a moça que me encarava com pesar. Gael, Gael. Você está perdendo o jeito meu amigo. Me debrucei levemente sobre o balcão e observei a mão apoiada sobre a mesa. Sem aliança. Perfeito!

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora