O ar finalmente conseguiu entrar em meus pulmões e eu ofeguei, cansado e tremendo. Aos poucos a minha visão foi clareando e as coisas foram voltando ao normal. A dor raleou e desvaneceu. Eu me sentei, fraco, no chão.— O que aconteceu? — Natan perguntou de olhos arregalados. — O que é que foi isso?
Ele e Elisa me encaravam com espanto e preocupação estampados nos rostos.
— Eu... eu não sei. — falei massageando o peito. — Eu não sei. Parece que... eu não conseguia respirar.
— Isso foi muito estranho. — Natan fez uma careta.
— Idiota! — Elisa emburrou a cara depois que viu que eu estava bem. — Não faça de novo ou vou quebrar a sua cara! Eu avisei que era para você relaxar. Olha só no que deu! Está aí tendo crises de ansiedade enquanto tenta me matar do coração! Senta ali e fica quieto! — ela ordenou apontando o lugar.
— Eu já estou melhor. — me coloquei de pé.
— E eu te perguntei alguma coisa por acaso?! Eu mandei você sentar!
— E desde quando é que você manda em mim, pirralha?
— Desde sempre! Agora senta! — a voz dela só ia crescendo de tom e volume.
— No seu lugar eu sentaria. — Natan falou tentando esconder um sorriso. — Ela pode ficar bem violenta às vezes.
Eu olhei para a garota loura me encarando de braços cruzados, batendo o pé.
— Tudo bem, tudo bem. — falei. — Se vai fazer você se sentir melhor, fazer o que?! Realmente, sempre me disseram que os piores venenos vêm em pequenos frascos.
Ganhei um tapa estalado na nuca quando passava por ela. Elisa tinha sido uma criança pequena e agora também não era muito alta. Sempre impliquei com o tamanho compacto dela.
— Senta logo! — ela cuspiu.
Nós três esperamos sentados até que, finalmente, a ausência da lua assumiu o seu lugar de direito no céu limpo e estrelado. As águas da cachoeira começaram a rolar, de baixo para cima, no sentido inverso ao da gravidade. Dei o primeiro passo e as cortinas se abriram.
A noite no mundo da realidade me acolheu quando deixei a escuridão do mundo da fantasia. Casa. Eu me sentia agora realmente em casa, só por estar no mesmo espaço dimensional que ela, a minha carissimi.
Uma hora depois estávamos adentrando pela porta do hospital.
— Boa noite. — cumprimentei a funcionária na recepção. — Eu gostaria de visitar uma paciente. Alma Ferraz.
— Desculpe, não estamos em horário de visitas. — respondeu. — A próxima entrada será apenas pela manhã.
— Mas é muito importante! É realmente urgente! — declarei.
— Sinto muito. — a moça jovem me deu um sorriso triste. — São as normas do lugar. Eu deixaria você subir se pudesse, de verdade, mas não posso mesmo.
Mas o que é isso que está acontecendo? Todos se juntaram contra mim e resolveram que vão me mandar esperar?! Primeiro Selva, depois Elisa e agora essa estranha?! De jeito nenhum vou me sentar e ficar olhando! Eu vou subir e ver a Alma agora mesmo, nem que para isso eu precise dar a volta e entrar voando pela janela do prédio!
Olhei a moça que me encarava com pesar. Gael, Gael. Você está perdendo o jeito meu amigo. Me debrucei levemente sobre o balcão e observei a mão apoiada sobre a mesa. Sem aliança. Perfeito!
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Tempo Quebrado | 2
RomanceA maçã tem o gosto do pecado... e a cor do sangue. Gael Ávila e Alma Ferraz conquistaram o direito à liberdade e ao amor que nasceu como um fruto proibido. Mas um romance assim, sempre cobra o seu preço! Uma decisão foi tomada, um sacrifício foi fei...