32 - Meia-noite

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Esperávamos na cabana no meio da floresta, no dia e horário marcado pela filha da lua. A noite mais longa do ano, que trazia consigo o início do inverno. Por favor, que isso não fosse um mal pressagio! Supliquei mentalmente.

O frio entrou pelas frestas na madeira palpitando o meu coração. Afastei o pensamento moribundo que me traspassou. Era só o frio do inverno chegando, mais nada. E não o frio da alma que anuncia a chegada do fim. Alma está bem. Ela vai esperar até eu voltar. A esperança de voltar a sentir o calor dos olhos dela me fez relaxar. Impossível é só uma palavra, uma palavra que não seria mais forte do que todos nós. Uma palavra que pode ser quebrada, exatamente como tudo na vida.

— Onde ela está? — inquiri a Ramon.

— Ela não vai demorar. — respondeu.

A porta de madeira velha rangeu e o manto branco entrou. O pelo branco e imaculado da raposa albina, repousando sobre o fogo do ruivo vivo dos cabelos dela. Selva observou o grupo sem curiosidade, seus olhos em tom de verde profundo expressavam o desperdício que ela considerava ser tudo aquilo. Um sacrifício inútil.

— Sigam-me. — ordenou.

Foi tudo o que ela disse. Seguimos em silêncio atrás da nossa guia. Esperava que fossemos adentrar zonas desconhecidas da floresta, mas Selva nos conduzia por trechos pelos quais eu já tinha passado milhares de vezes. Foi uma caminhada de não mais de uma hora.

— É aqui. — uma voz sem um sorriso.

A jovem de cabelo vermelho parou sem se voltar para nós. Estávamos na floresta. Só isso. Rodeados pela vegetação típica no meio da floresta. Não via absolutamente nada de diferente. Nenhuma entrada, nenhuma reentrância oculta. Nada! Eu não sei o que faria se tudo não passasse de uma brincadeira.

— Não estou vendo nada! — Elisa deu voz aos meus pensamentos, olhando em volta.

— Paciência, ainda não está na hora. Se alguém quiser reconsiderar, com exceção de você Ramon — o olhar foi gélido —, esse seria um bom momento. — a filha da lua recomendou.

Silêncio. Entreolhamo-nos sem dizer uma palavra em voz alta, mas a ousadia e a segurança que via neles me fortaleciam.

— Nós não vamos recuar. — Natan declarou se dirigindo à guia.

— Muito bem, então. — Selva puxou o que carregava ao pescoço, oculto sob as vestimentas. — Fiz uma chave para vocês. — ela colocou um colar ao pescoço de Natan, outro em Elisa e o último em mim. — Com isso vocês poderão abrir a porta do outro lado para voltarem para cá. Uma peça para cada um, caso se separem ou percam um dos cristais. Se perderem todas as chaves ficarão presos lá para sempre.

Não passou despercebido a nenhum de nós que Ramon era totalmente ignorado. Selva se dirigia ao grupo como se ele não fizesse parte do mesmo. Ele não recebeu um colar. Sua mestra estava demonstrando que era melhor para ele se não mais voltasse para casa.

Peguei o pingente de cristal pendurado na ponta da corrente de metal. Uma pedra bem lapidada em cinco lados, fina e comprida, uns quatro centímetros de extensão, piramidal, mais fino em cima e alargando em direção à base. Um cristal comum. Rubis. As três chaves eram feitas de rubis. A cor preferida da criatura sagrada. Vermelho como o fogo. Vermelho como o sangue.

— Nós estamos cercados de energia. Tudo a nossa volta é feito de energia. A matéria, nada mais é do que pura energia. Energia em contínuo movimento e transformação. Os cristais que carregam no peito são apenas cristais comuns. Quando a luz se solidifica, formam as pedras preciosas. Estas aqui foram energizadas por mim. A chave para o mundo perdido é a energia magnética da luz cristalizada. — Selva explicou.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora