24 - As cores de um outono

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Alma ficou H - I - S - T - É - R - I - C - A quando viu os ingressos! Então imaginem o escândalo quando viu o rapaz no palco! Não me lembrava de ter assistido a uma reação tão explosiva de felicidade da dama em relação a mim.

Isabel, Natan e Elisa também foram convidados para o espetáculo e acabou sendo um passeio entre amigos.

— Cadê aquela amiga que eu vivo quase conhecendo mas nunca consigo de fato encontrar? — o Natan estava entediado ao meu lado, esperando eternamente pelas duas meninas. A Alma estava lá dentro, ajudando a Elisa a pegar as coisa dela para pôr no porta-malas.

— A Isabel? A mãe dela não deixou ela vir. Talvez tenha ficado com medo de uma orgia juvenil. — dei de ombros. — Afinal seríamos dois homens e três mulheres.

— Olha a mente perturbada! — nós dois rimos.    

O Natan e a Isabel, vira e mexe, quase se esbarravam, mas ainda não tinham dado de cara um com o outro. Uma hora era um que não aparecia, outra hora era o outro.

— Você mora perto da casa dela, por falar nisso. — completei. 

— Curioso. Será que o destino está conspirando para nos manter afastados?! — ele deu aquela risada típica, divertida e relaxada.

— Pronto! — o vestido cor de rosa falou. — Agora já podemos ir.

— Nós vamos ficar um dia, não um ano! — o Natan caçoou das malas dela. — Não vai caber tudo isso no carro.

— Qual é a sua mala, Natan?— Elisa perguntou.

— Para que você quer saber?

— Para eu tirar e colocar a minha! Por que você faz perguntas tão estúpidas?!

— Vai sonhando, peste!   

E assim, de bilhetes comprados, e malas prontas, rumamos imediatamente para o sul.

Aos poucos, o cinza do aço e do concreto da cidade grande, harmoniosamente começava a ceder lugar aos cenários bucólicos que deixavam no ar um cheiro de sentimento, um gosto de paz, simplicidade e serenidade. Enquanto atravessávamos várias cidades, pequenas casinhas despontavam ao longo do trajeto na beira da estrada. Era fácil deixar a imaginação correr, imaginar quem viveria ali, como seria a vida naquele lugar.

Há muito o colorido das flores tinha deixado de bordar o cenário, o outono enchia o início de junho, anunciando a chegada do inverno dentro de algumas semanas. O verde se misturava aos tons terrosos das folhas das árvores em um novo espetáculo de cores. As estradas, lindamente emolduradas de ambos os lados por plátanos, estavam pintadas em matizados intrincados e rebuscados numa aquarela perfeita de amarelos, alaranjados e vermelhos. Um novo quadro, um novo espetáculo, uma nova obra de arte natural a cada curva virada na viagem.

O meu tudo no assento do passageiro olhava o seu entorno com uma extasiante satisfação. Demorou um pouco para ela se recuperar do choque da beleza.

— Eu nem sabia que no Brasil existia um outono assim. Eu nem sabia que estávamos no outono! Não é sempre verão?! — ela deu uma boa risada olhando o que estava do lado de fora da janela. — É... surreal.

— Esse é um país de belezas infinitas. Existem coisas maravilhosas espalhadas de uma ponta à outra. A natureza foi muito agraciada nessa larga e imensa extensão de terra onde você nasceu.

— Queincrível! — ela apertou as bochechas para controlar o sorriso que não parava decrescer. — Não, incrível não é adequado. Eu não sei qual adjetivo seria.

Paramos em uma pousada muito intimista e charmosa. Alma abriu a porta do carro, mas fechou de novo correndo.

— O que foi? — perguntei.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora