17 - Descoberta

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Depois da apresentação daquela noite, Alma não estava mais brava, mas estava bancando a difícil, se fingindo de ofendida. Estávamos jantando no salão do hotel. A pista de dança adjacente estava cheia e a batida da música fazia com que ela não ficasse quieta na cadeira.

— O que vai querer de sobremesa. — perguntei.

— Não quero sobremesa. — respondeu seca.

— E qual é a graça de jantar e não comer a sobremesa?

— Eu não quero! — ela me lançou um olhar desafiador.

Chamei a garçonete. A bela dama estava precisando de um pouco de açúcar para adoçá-la! Li o nome no crachá da atendente e perguntei o que ela poderia me sugerir. Ela voltou com três mini doces dentro de uma bandeja e uma taça com água, se inclinou com um sorriso gracioso e começou a explicar as sobremesas em voz baixa. Talvez ela estivesse um pouco perto demais. A escuridão lampejava de ódio do outro lado da mesa.

Eu peguei o primeiro doce e pus na boca. O chocolate tinha gosto de licor de cereja. Muito bom! A moça cujo nome eu já tinha esquecido, superprestativa, recomendou que eu tomasse um gole de água antes de continuar. Acatei levando a bebida à boca. Antes de engolir, Alma me deu um chute com toda a força por baixo da mesa bem na canela. Eu engasguei e tossi. Respingos acertaram a moça que me atendia.

— Perdão! — disse de olhos esbugalhados.

Alma não se conteve e explodiu em risadas do outro lado. Provavelmente tinha saído melhor do que ela esperava. Ela não conseguia parar de rir.

— Desculpe. — ela disse para mim ainda entre risadas. — Estou com espasmos musculares!

Já chega. Eu dispensei a atendente. Ela ganhou de novo. Sem sobremesa dessa vez. Levantei da mesa e lhe estendi a mão.

— Vamos dançar.

— Não estou a fim. — Alma me desafiou mais uma vez.

— Você não querer dançar, é como o sol brilhar de noite. Impossível.

— Na verdade estou cansada. — Alma arrastou a cadeira para trás. — Acho que vou mais cedo para a cama hoje. — a criatura selvagem ergueu o rosto antes de se levantar da mesa e deu de cara comigo. Que boca linda! E que cheiro maravilhoso.

— Não foi um convite, Srta. Ferraz. Você vai dançar comigo.

Segurei na mão dela e a conduzi, ligeiramente à força, até a pista de dança. Eu apoiei a mão livre na base das costas dela — uma pena que estavam cobertas —, e a apertei contra mim, mais do que o necessário, mais do que o correto. Ela tentava ganhar algum espaço e eu a apertava ainda mais. Teimosa e arredia! O corpo dela se mexia de encontro ao meu tentando se soltar com irreverência.

— Tsc, tsc, tsc. Uma protagonista tão bela quanto você, com ciúme de meras coadjuvantes. Que ridículo! — olhei aqueles lindos olhos escuros e debochados. — Negro como o ébano — o batom carmim resaltando a sensualidade daquela boca. — Vermelho como o sangue. — eu provei o sabor doce e fresco daquela pele macia abaixo da orelha. — Branca como a neve.

— Eu não sou a branca de neve, estranho lindo. — Alma sussurrou para mim. Já não estava mais tentando se libertar. Eu ri na pele dela.

— Não, você não é. — a ponta da tarraxa do brinco dela acariciando a minha língua dentro da boca. — E eu não sou o lobo mal.

Ela se comportou muito bem o restante da noite. Sorriu e dançou cheia de vida e alegria. O problema era que isso estava me matando! Ela era tão linda e tão sensual. A intensidade daquele olhar poluía o meu espírito. Eu precisava me afastar um pouco dela. Precisava parar de tocar o corpo dela. Já estava suando e sem fôlego.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora