4 - Primeiros passos - Parte I

507 105 97
                                    


No meio de março, a pior fase do calor já tinha passado, era sexta-feira à noite e a dama poderia me matar, isso era óbvio! Poderia me estripar depois, na verdade. Isso se eu sobrevivesse ao obstáculo inicial! Mas quem não arrisca não petisca, esse é o ditado. Os maiores prêmios da vida são os mais difíceis de conquistar. E a minha belíssima namorada estava mesmo precisando de um incentivozinho, então...

Já que Alma está com tantas dificuldades assim, me ofereço para dar uma mãozinha. Não me importo de ser eu a dar o primeiro passo, afinal alguém precisa mesmo dá-lo, ou vamos passar o resto da vida empacados nesse mesmo impasse. Hora de avançar.

Eles sempre jantavam rigorosamente às oito da noite. O meu relógio marcava dezenove e trinta e cinco. Ui, ela ia ficar uma fera! Tive o privilégio de estar algumas vezes à mesa com eles. A mãe dela já tinha percebido alguma coisa. Ela parecia realmente gostar de mim, isso era bom, ao menos uma aliada. Já o pai... — shiii — esse ia ser duro na queda! Ele era extremamente ciumento. Tinha se interessado pelo meu hobby, carros antigos. Já tinha me ajudado com o motor de um deles uma vez e também parecia simpatizar comigo, mas, é claro, o meu amor estava em cima das máquinas e não da bela filha única. A simpatia dele poderia mudar drasticamente depois.

Parei de frente à porta do apartamento. A gola da camisa tinha ficado tão apertada de repente. Puxei com um dedo para aliviar. Não melhorou muito. É, mas vai ser desse jeito mesmo. Não seja frouxo! Seja homem, Gael. Respirei fundo. Ouvi o som oco dos meus dedos batendo na madeira. É agora que eu deveria começar a rezar, não é? O Sr. Henrique veio me receber e abriu um sorriso me saudando.

— Oi, meu rapaz. Venha, entre. — ele me convidou.

Eu entrei e... — droga! Ele fechou a porta. Teria de fazer uma saída de emergência pela janela então, caso fosse necessário. Lá se vai o segredo de que não sou normal! ¾ Ele continuou:

— Vou avisar as meninas que veio para o jantar.

— Não, não. — interrompi seus passos em direção à cozinha. — Hoje não vou ficar para jantar. Obrigado pelo convite.

— Ah. Então está precisando de alguma coisa? Algum problema com as máquinas?

— Não. A reforma do meu projeto atual já está quase pronta. — declarei.

— Então em que posso ajudá-lo? — perguntou prestativo.

Dei uma olhada rápida na direção da janela aberta.

— Na verdade eu... gostaria de levar a sua filha para jantar hoje, senhor.

Silêncio. Ele me olhava sem dizer nada.

— O que foi que disse? Acho que não ouvi bem.

Ai, senti uma ameaça velada no tom de voz dele, mas as mãos estavam livres. Ufa! Sem armas, menos mal.

— Eu gostaria que me desse permissão para levar sua filha para jantar, senhor. Isso é claro, se ela aceitar o meu convite.

— Mas você é muito abusado mesmo. Eu abro as portas da minha casa para você e em troca você fica dando em cima da minha filha?!

— Com todo o respeito, senhor. Não estou dando em cima da sua filha — eu fiz isso o ano passado —, é só um simples jantar.

— Eu sei muito bem do que você gostaria — ele apontou o dedo na minha cara. — e não tem nada a ver com um simples jantar.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora