57 - Pulsações

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É claro que ele não precisaria oferecer duas vezes! Toda e qualquer ajuda era muito bem vinda. Qualquer coisa que pudesse nos levar para casa mais rápido seria prontamente aceita.

Nós seguimos o homem e ele nos conduziu até uma área dentro do bosque na saída da cidade. Uma parede coberta de musgo e trepadeiras estava abandonada bem ali no meio da mata verde. Ele retirou parte da vegetação e os tijolos dourados reluziram à luz do sol. Uma grande parede toda feita em ouro, mas sem nenhuma porta.

— Aí está. — falou todo satisfeito dando espaço para que examinássemos o objeto inanimado.

— Essa parede de ouro vai nos levar para casa? — Natan falou tocando o metal enquanto todos nós analisávamos de perto a superfície.

Ninguém sabia o que era aquele amontoado de ouro, nem para o que servia, nem aonde iria dar.

— Essa coisa vai nos ajudar a chegar até a entrada do templo da perdição? — Ramon perguntou cheio de esperança, querendo pular toda a diversão do caminho.

— Não era exatamente essa a porta que estavam procurando? — a voz do homem soou atrás de nossas costas.

— Mas que porta, não tem... — eu olhei para trás.

Os outros me imitaram e espelharam o meu silêncio de espanto. Nós estávamos completamente sozinhos, bem no meio do deserto escaldante e árido. O bosque verdejante se fora. O homem desapareceu. Voltei-me para o muro de ouro atrás de mim e ele tinha sumido. Em seu lugar, estava uma parede feita em pedra, com uma porta larga de madeira cheia de arabescos incrustados. Uma estátua de dragão se apresentava em cada lateral. De costas um para o outro, observando as dunas do deserto segurando seus grandes rubis entre os dentes.

— Aí está ela. — Natan falou com um sorriso. — Ainda bem que alguém consertou!

— Uhuuu! — Ramon soltou um grito de felicidade jogando os dois braços para cima. — É isso aí! Agora eu gostei de ver!

— Tava se borrando todo hein, moleque! — Natan deu-lhe uma cotovelada nas costelas.

— Claro que não, senhor. Eu enfrentaria tudo novamente de forma brava e destemida! Mas chegar até aqui por esse atalho foi demais! — respondeu com compostura.

— Sei. — ele gozou mais um pouco. — Nada de chimpanzés gigantes dessa vez.

— O que eu posso fazer? É um dom com o qual nasci! — Ramon respondeu com um ar travesso.

— Então vamos sair logo daqui. — Selva falou olhando seu entorno desconfiada. — Esse lugar é cheio de surpresas e eu realmente não estou querendo encontrar mais nenhuma.

Nisso ela tinha razão. Por que esperar a nossa passagem para casa desaparecer tão misteriosamente quanto havia aparecido? Vamos logo para casa. Elisa pegou a chave de esmeralda e a colocou na encruzilhada dos sulcos demarcados no centro da porta. O cristal brilhou e a sua luz se espalhou enchendo as linhas do centro para as extremidades, exatamente como fizera comigo do outro lado, quando estávamos de chegada. A madeira começou a ficar transparente e mostrou a imagem escondida do outro lado. A floresta de casa abriu os braços em nossa direção numa saudação saudosa.

Nós cruzamos a fronteira e saímos no terreno conhecido. A passagem se fechou atrás de nós e a grande árvore estava intocada. Seu tronco largo de madeira escura estava perfeito, sem nenhuma cicatriz, sem nenhuma ranhura sulcada, sem nenhuma fechadura para outra dimensão. Apenas no ano seguinte, quando o frio retornasse e trouxesse consigo a noite mais extensa, o reino de Sambala poderia ser revisitado.

Ao meu redor notei de imediato a falta do frio que deixáramos ali. A vegetação estava viçosa e com um verde brilhante e vivo. Flores coloridas eram vistas por todos os lados.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora