Depois do ensaio, ela tomou um banho rápido e se deitou para descansar alguns minutos. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Alma sempre ficava uma pilha de nervos antes de subir ao palco.Olhei a praia gloriosa do Rio pela janela do hotel. Continuava linda, mesmo escondida sob as cores da noite.
— Carissimi. — ela continuava enfiada em baixo das cobertas. — Hora de acordar.
— Só mais cinco minutos. — falou sonolenta.
Eu ri. Já era a terceira vez que ela dizia isso. Abandonei a vista e me aproximei da cama.
— Você vai se atrasar assim. — falei alisando seu rosto. A pele estava fervendo. Estremeci. — Alma? — eu a sacudi de leve. — Olha para mim. Abra os olhos.
Não obtive resposta. Ela continuava dormindo calmamente. Descobri o corpo dela e um vapor quente me atingiu com força. Ela se encolheu. A pele estava vermelha e em chamas. Ardia com uma febre abrasadora. Tentei sentá-la na cama, mas ela estava mole. Mas que droga era essa que estava acontecendo?!
— Alma? Está me ouvindo? — o desespero me estapeou.
Com o peso do corpo apoiado contra o meu braço, mal sentada sobre o colchão, a cabeça dela pendia frouxa para o lado de olhos fechados. Eu comecei a suar só de estar perto da temperatura alta dela. Levantei-a no colo e fui até o chuveiro. Abri a água numa temperatura morna. Alma não estava inconsciente como uma pessoa desmaiada, balbuciava palavras inaudíveis e ininteligíveis que eu não sabia se era resultado de falta de força ou delírio de febre.
Ela não conseguiria sustentar o peso do próprio corpo, então a coloquei em baixo dos jatos de água que caiam. A moça arfou com a temperatura batendo contra sua pele febril. O corpo todo tremia de frio no meu colo e ela apoiou o testa no meu ombro.
— Está-tá m-muito f-f-fria. — sussurrou.
— Não, não está. Está morna. E vai te fazer bem. — falei.
Pelo menos ela estava recobrando a consciência e assumindo algum controle do corpo. A água morna encharcava a nós dois da cabeça aos pés.
— Fala comigo. Olha pra mim, Alma. — a escuridão daqueles olhos começavam a apresentar sinais de lucidez. — O que está acontecendo com você? — meu coração martelava no peito.
— Talvez tenha pegado um resfriado. — a voz não passava de um sussurro.
— Resfriados, hemorragias, dores de cabeça, palidez, enjoos. Você não é uma pessoa de saúde frágil e nos últimos meses tem me feito passar por testes de cardíacos. Quase desmaiou semana passada na aula e voltou a sangrar o nariz. Alma? — olhei fundo nos olhos dela. — Está escondendo alguma coisa de mim?
Ela negou tentando descer. Não olhou para mim. Deixei as pernas dela tocarem o chão e elas ficaram firmes. Isso é bom. Segurei o maxilar dela, obrigando-a a olhar para mim. Os olhos dela escrutinaram os meus.
— Está escondendo alguma coisa de mim? — repeti.
— Não. — a resposta dessa vez veio com firmeza.
Senti um alívio instantâneo por dentro. A pele do pescoço dela ainda estava mais quente que o normal.
— Você nunca teve isso, por que agora?
— Sei lá. Stress? — ela deu de ombros, a voz tinha voltado ao normal.
— Como está se sentindo?
— Bem. A água não está mais tão fria, mas podia esquentar um pouquinho.
— Não, não, não. — falei tirando a mão dela da regulagem.
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Tempo Quebrado | 2
RomanceA maçã tem o gosto do pecado... e a cor do sangue. Gael Ávila e Alma Ferraz conquistaram o direito à liberdade e ao amor que nasceu como um fruto proibido. Mas um romance assim, sempre cobra o seu preço! Uma decisão foi tomada, um sacrifício foi fei...