Capítulo Um - Parte 01

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— Que diabos está fazendo?! — Alfonso perguntou, atônito, segurando a chave do carro enquanto a observava. Ela estava prestes a fazer uma besteira, lutando com um colchão, tentando colocá-lo dentro de uma caçamba de lixo, e ele se viu obrigado a interferir. — Deixe-me ajudá-la. — Alfonso colocou a chave do carro no bolso e segurou o colchão para suspendê-lo.

— Não! – ela falou. Para alguém tão pequena, ela era bem forte. — Não é assim! — ela gritou e correu para o outro lado, puxando o colchão. — Não é para colocá-lo dentro da ca­çamba, estava tentando tirá-lo!

Ele parou e olhou para ela. Examinou seu rosto sem ne­nhuma maquiagem, os cabelos presos num rabo de cavalo, olhos determinados e lábios viçosos.

— Como assim?

— Eu disse que estou tirando...

— Eu ouvi, só não entendi. É um colchão velho, por que quer tirá-lo da caçamba?

— Porque é melhor do que o meu. Não está manchado e pelo menos não estaria se não o tivessem jogado na caçam­ba. Vou aproveitá-lo.

— Aproveitar? — Ele cruzou os braços e os apoiou sobre o colchão, encarando-a. — Quer mesmo este colchão?

— Isso mesmo, e só temos alguns minutos até o seguran­ça aparecer por aqui novamente. Ou você me ajuda ou sai daí para eu puxá-lo sozinha antes que ele volte!

Alfonso olhou para a cabine do segurança e depois para ela.

— Está me pedindo para ajudá-la a roubar um colchão?

— Não é bem um roubo, pois ele foi jogado fora. Vai me ajudar ou não?

Ele demorou demais para responder e ela já estava puxan­do o colchão. Mas não poderia deixar que ela fizesse aquilo, ela era tão miudinha. Droga!

— Saia do caminho — ele disse de repente enquanto olha­va para a porta dos seguranças. — Para onde devo levar?

Não era muito longe, mas o suficiente para pesar. Um dos lados do colchão bateu no chão e ele suspendeu e lembrou-se de aceitar a oferta de Daniel para usar sua academia de ginás­tica. Seus bíceps estavam mostrando que precisavam de exercícios, ou então aquele colchão era muito bom. O que era uma surpresa, pois nada que vinha do antigo hotel era grande coisa. De repente ela parou.

— É aqui. — Ela abriu uma porta na parte dos fundos do hotel e deixou que ele a seguisse pela escada. — Cuidado, não tem luz aqui, eles cortaram a energia deste lado — avi­sou, chegando ao topo e entrando num quarto.

Ele parou no meio da escada para recuperar o fôlego e sentiu um cheiro esquisito. Cheiro de umidade. Não era à toa que ela precisava de um colchão novo, ele pensou ao bata­lhar para passar com o colchão pela porta e se perguntar se tinha perdido o juízo. Claro que havia. Ele não devia estar fazendo isso, facili­tando a permanência dela. Daniel e Augusto iam querer matá-lo. Com a pouca iluminação que tinha da rua, ela empurrou algumas coisas do caminho para abrir espaço e colocar o colchão.

— Ali vai ficar ótimo. — Ela se endireitou e, pela primei­ra vez, ele pôde vê-la direito sem o colchão entre os dois. Ela estava grávida?

Instalada no hotel deles, atrapalhando a reforma, atrasan­do os prazos, estourando o orçamento e ainda por cima grá­vida. Ah, meu Deus. Isso ia de mal a pior!

Ele colocou o colchão no chão porque era melhor do que ficar segurando, e ela prontamente deitou-se sobre ele, de barriga virada para cima, dando um grande suspiro e sorrin­do. A camiseta tinha subido, revelando os alfinetes que seguravam o fecho da calça jeans. Ele vislumbrou a pele branca da sua barriga e sentiu-se tentado a passar a mão sobre a protuberância e fazer promessas. Mas ela estava com as mãos debaixo da cabeça e os olhos fechados. Ela tateou o colchão e sorriu.

— Isto é maravilhoso! Tão mais macio do que o chão! Venha, experimente!

Experimentar? Deitar do lado dela? Ela estava maluca!

Ele começou a listar mentalmente as razões que o impedi­riam de experimentar: 1) o colchão era roubado; 2) roubado da caçamba da sua própria obra; 3) ela estava deitada sobre ele. Além de ser uma grávida sensual e estar atrasando sua obra, ainda lhe pedia para se deitar do lado dela? Ele recuou até a porta.

— Não posso. Não tenho tempo. Preciso dar um telefo­nema.

Para contar para Daniel e Augusto que tinha conhecido sua inquilina. A sua inquilina grávida! Rapidamente ela se levantou e se dirigiu até o quarto ao lado.

— Faça-me um favor, sim? Jogue isto fora para mim, está cheirando mal.

— O que é isso? — Ele foi atrás dela.

— O colchão velho, o que mais poderia ser?

Claro, ele pensou, o que mais?

— Está me pedindo que jogue um colchão fedorento na caçamba de lixo? — ele indagou, sentindo-se subitamente cansado e confuso, e se perguntando o que fazia com uma mulher grávida que ocupara o hotel deles e atrapalhava todo o cronograma da reforma.

— Bem, na verdade, é apenas uma troca. Tenho certeza de que, diante de todo o transtorno que estou causando aos construtores, eles não vão se importar com um colchão mal­cheiroso. Ele já não era grande coisa, mas, depois que o re­boco do teto caiu na outra noite, ficou ensopado.

Então o reboco do teto tinha caído sobre o colchão de uma mulher grávida? Alfonso ficou espantado com aquilo e pen­sou na repercussão negativa que isso poderia causar, e a se­guiu pelo quarto.

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