Capítulo Cinco - Parte 01

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Assim eles foram até a manhã seguinte. Anahí não fugiu mais, e Alfonso não passou a noite toda acordado perguntando-se se ela ainda estava lá. Ele chegou a pensar em ligar o alarme, para o caso de Anahí abrir a porta da rua, mas depois resolveu o contrário. Ele não queria que ela se sentisse presa, e ele precisava confiar nela. Anahí disse que ficaria. Então, ele lhe concedeu o benefício da dúvida e, pela manhã, ela ainda estava lá. Assim que acordou, ele a viu de pé, imóvel, no jardim, coberta da cabeça aos pés no seu roupão, admirando o mar calmo e tranqüilo, e Alfonso sentiu algo no peito que não que­ria analisar.

Ele apertou o controle da janela para "nuvens", uma coisa que nunca fazia, e depois de tomar banho e se vestir desceu para colocar a chaleira no fogo e a viu lá fora, com a cabeça ligeiramente inclinada para ver o céu.

— Bom dia — ele disse, e ela voltou para casa, os pés descalços sobre a grama molhada.

— Bom dia. Estava sentindo o ar do mar no rosto.

— Então, ficará por um bom tempo.

— Mas vale a pena, isso é lindo.

— Você dormiu bem?

— Sim, estava cansada.

— O dia foi difícil, ontem.

— Foi sim. — Ela fez uma pausa. — O jardim é todo cercado?

— Completamente.

— Então Pebbles não vai fugir se eu a deixar sair da casa?

— Só se os portões estiveram abertos, mas normalmente não estão. E se a deixar no jardim dos fundos, ela não vai poder chegar à parte da frente da casa. Ela ainda consegue pular? Há uma parede com uma porta junto à garagem, e outra parede do outro lado; ela não pode descer para a praia a não ser que o portão esteja aberto.

— Então ela pode passear pela sala e pelo jardim?

— Pode.

— Ela vai adorar. Ela costumava se deitar no telhado para pegar sol e ver os passarinhos, durante horas. Creio que há muito tempo não consegue pegar os bichos, mas ela gosta de apreciá-los mesmo de longe.

— Tenho certeza de que sim. Deixe-a sair, coitada, vai lhe fazer bem esticar as pernas.

Anahí abriu um largo sorriso e se encaminhou para seu apar­tamento, deixando pegadas molhadas ao pisar no piso de pedra. Logo depois, Pebbles apareceu ao seu lado, olhando tudo com muita cautela, pronta para correr ao menor sinal de perigo.

— Chá ou café? — ele perguntou.

— Chá seria ótimo. Mas não era eu que devia estar prepa­rando o café da manhã?

— Você ainda não aceitou o emprego.

O silêncio entre eles se estendeu demais, e ele chegou a pensar que tinha estragado tudo, até que ela sorriu.

— Vou fazer o chá.

E ele respirou aliviado e sorriu também.

— Cuide da sua gatinha. Não estou certo se o café da ma­nhã tão cedo assim se enquadra nas suas funções — ele dis­se. E logo entrou em casa, cantarolando alegremente, mas sem querer saber o motivo de tanta alegria.

— Qual é o horário da reunião com os advogados?

— Não tenho certeza. Talvez dez.

— Ah! — Ela consultou o relógio e mordeu o lábio. Pre­tendia passar suas roupas na noite anterior e separar algo para vestir, mas com toda aquela confusão.

— Qual é o problema?

— Todas as minhas roupas estão úmidas e malcheirosas. Eu tinha planejado lavá-las ontem à noite. Não posso ir a essa reunião vestida de jeans e camiseta.

— Tem alguma roupa de grávida?

— Tenho apenas algumas calças de moletom e camisetas. Minha calça antiga não cabe mais em mim, mas é a melhor roupa que tenho, e ela foi lavada ontem, graças a você.

— Posso perguntar a Alice se ela tem alguma roupa para lhe emprestar.

— Não quero dar trabalho. Vou usar minha calça jeans.

— Vamos fazer compras logo depois da reunião, está bem? Vou lhe comprar umas roupas.

— E isso vai ajudar muito quanto à minha fama de golpis­ta — ela falou baixinho.

— Bobagem, pense que é seu uniforme de trabalho.

Ela não comentou nada, mas seu rosto deve tê-la denun­ciado, porque ele riu.

— Não do tipo de empregada francesa. Mas você precisa­rá de roupas se vai me ajudar a receber convidados. Até por­que, você não vai ficar escondida na cozinha, não é mesmo? E depois, o teto do anexo era de nossa responsabilidade, por­tanto, você poderia reivindicar uma indenização.

Lógico. Inteligente da parte dele, e uma saída para o orgu­lho dela, apesar de estar em pânico quanto a receber os ami­gos. Receber quem, por exemplo? Tomara que não fosse a irmã dele. Mas Alfonso a observava, esperando por uma respos­ta, então não ia pensar nisso agora.

— Só poucas peças — ela concordou. — Até eu receber meu salário e poder comprar o que preciso.

— Certo. — Ele balançou a cabeça. — Então vamos nos aprontar. Quero sair dentro de meia hora, é tempo suficiente para você se arrumar?

Ela quase caiu na gargalhada. Ela levaria dois minutos para fazer o que era possível, ou dois dias, se fosse se arru­mar apropriadamente com corte de cabelo, sapatos decentes, maquiagem. A lista era longa, mas Anahí não tinha tempo para pensar nisso agora. Parecia que estava deixando tudo para depois.

— Meia hora será suficiente.

Ao chegarem ao escritório dos advogados, dois homens vie­ram recebê-los. Anahí deduziu que fossem Augusto e Daniel. Ela reconheceu Augusto da TV, onde ele aparecia fazendo reporta­gens pelo mundo, e Daniel não lhe era totalmente estranho. Devia tê-lo visto pelo hotel antes da morte de George, só que nunca soube dimensionar sua importância.

Ambos pareciam sérios, ela pensou, e um pouco sem jeito na sua presença. Principalmente Augusto, pois fora a sua espo­sa que a aborrecera na noite anterior. Ela tentou não pensar nisso, então endireitou os ombros e se aproximou deles com a mão estendida.

— Olá, sou Anahí Puente.

— Augusto Kavenagh. Alice me encarregou de lhe pedir desculpas por ela.

Anahí sorriu. Ela nem tinha certeza se Alice realmente tinha pedido tal coisa ao marido, mas resolveu lhe dar um crédito por isso. Apesar de ter pedido desculpas a Alfonso pelo telefone, na noite passada, e dizer que queria vir na casa dele, mas...

— Daniel Barron — disse o outro, que sorriu para ela. — Lembro-me de você. Estava trabalhando na recepção quan­do conheci George Dawes.

— Na recepção e qualquer outro lugar — ela disse. — Sorte minha por saber fazer coisas variadas.

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