Capítulo Sete - Parte 03

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— Ah, sim. Brinquei muito na praia. Mas ela era maior no meu tempo. Estivemos lá e vimos que o trecho de areia está menor do que costumava ser.

— Mas foi muito bom poder revê-la. Havia anos que eu não chegava até o final do terreno. Desde que Tom morreu, em 1990, o mato cresceu muito, pois eu não pude pagar um jardineiro.

— Deve ter sido sofrido viver aqui tanto tempo sem ele — Anahí disse baixinho.

— Foi sim. Foi muito tempo, e eu o decepcionai, não cui­dei como devia. Mas você fez um belo trabalho, Alfonso, ele teria adorado ver.

— Obrigado. Isto foi o melhor elogio que ouvi sobre a casa até hoje.

— Apenas a verdade. Fez uma casa adorável. Você é mui­to agradável, Alfonso Herrera. Um bom homem. Tomara que existam outros arquitetos iguais a você.

Alfonso percebeu que Anahí estava com uma xícara de café nas mãos, provando que não havia se esquecido do que ele disse no outro dia sobre não agüentar mais ver chá, e ele pegou o café sem dizer nada, sorriu para ela e aceitou o pedaço de bolo para acompanhar.

Alfonso colocou na boca um bom pedaço do bolo e em se­guida olhou para ela.

— É bolo de cenoura. Bastante saudável — ela disse com um sorriso, e em seguida se afastou.

Ele mastigou e engoliu o bolo e depois sorriu.

— Muito gostoso — admitiu ele. — Obrigado.

— Que bom que gostou. Fiz para Alice, quando trabalha­mos no jardim interno.

— Jardim interno?

— O pequeno jardim interno que tem perto do quarto de Anahí — disse, risonha, a sra. Jessory. — É onde Tom sempre teve sua horta. Anahí vai começar a sua amanhã. E a cascata vai ficar linda.

— Certo.

Cascata? Ele já sabia dos planos para fazer uma horta, mas jardim interno? Com uma cascata? E ervilhas? Juntos?

Isso era para ele aprender a dar mais atenção a sua paisagista e a sua empregada. Ele deu mais uma mordida no macio e delicioso bolo de cenoura e deixou de sorrir.

— Tenho muitas fotos da construção da casa — Joana disse. — Eu as estava revendo com meus netos quando ela foi destruída pelo incêndio, por isso ficaram intactas. Muitas coisas foram salvas do incêndio.

— Menos a casa.

— Não faz mal. — disse a sra. Jessop. — Eu não podia mais ficar aqui sozinha, e ela precisava de reforma. Já tinha sido muito útil para nós e, para ser sincera, estou feliz que não exista mais. Ela era tão nossa que não me pareceria cer­to outra pessoa viver nela. A casa tinha muito de Tom nela.

Alfonso a entendia perfeitamente. Havia tanta coisa dele nes­ta casa que a ideia de vendê-la um dia era inaceitável. Será que foi por isso que construiu uma casa tão grande? Anahí ti­nha lhe perguntado isso no outro dia e ele não disse a verda­de, talvez porque não soubesse a resposta. Seria porque ele achava que um dia traria uma esposa para esta casa que lhe daria filhos, filhos que dariam vida à residência?

Uma mulher como Anahí? Este pensamento o assustou.

— Você chega lá — disse a sra. Jessop acariciando sua mão, como se pudesse ler seus pensamentos.

Os dois se olharam e sorriram.

— Quem sabe? Anahí já lhe mostrou a casa toda?

— Ah, não. Isso seria demais. Ela nos mostrou seu aparta­mento aqui embaixo e depois o jardim. Não deixai que nos mostrasse o resto.

— Quer me dar esse prazer?

— Adoraria, mas não consigo mais subir escadas.

Alfonso olhou para a senhora e calculou que ela não pesas­se muito mais do que a gatinha de Anahí.

— E se eu a carregar no colo?

Ela riu.

— Nossa, faz muito tempo que não sou carregada no colo por um homem.

— Então, sra. Jessop? Quer vir conhecer os meus aposentos?

A sra. Jessop teve de rir.

— Sabe de uma coisa, meu jovem? Acho que vou que­rer, sim.

— Desculpe-me.

— Não peça desculpas, ela é encantadora. As duas são, e nem foi tão ruim assim, não é mesmo?

— Mas elas voltarão com as fotos — ela disse, aliviada.

— Pode durar para sempre.

— Dificilmente — ele salientou, e Anahí concordou.

— Tem razão. Mas ela estava certa ao dizer que você é um bom homem, Alfonso Herrera.

— E sujo. Vou subir para tomar um banho e depois vou querer comer e beber algo que não seja chá.

Ela simulou estar batendo continência e sorriu.

— É para já.

Anahí voltou para a cozinha para limpar os vestígios deixa­dos do lanche que fez de improviso e, em seguida, colocou os filés de salmão com batatas para cozinhar, temperou a salada de rúcula e arrumou a mesa.

Pobre Alfonso. Mas ele se saiu muito bem, exatamente como Anahí imaginava assim que soube quem elas eram, e comportou-se com elegância. Ela mal podia acreditar que ele tivesse levado a sra. Jessop no colo para conhecer o andar de cima, brincando com ela e fazendo charme.

Anahí voltou para a cozinha para controlar o salmão, can­tando baixinho, e quando se virou viu Alfonso ali parado com um olhar enigmático.

— Então, que história era aquela sobre uma cascata? — ele perguntou.

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora