Capítulo Dois - parte 03

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— Ah, meu Deus!

Anahí estava impressionada com os grandes portões de fer­ro que se abriram ao toque dele no controle remoto. Eles entraram pelo caminho da propriedade ladeado por cercas vivas dos dois lados. A cerca do lado direito continuava até os fundos do terreno, e a da esquerda fazia uma curva e se abria num amplo espaço diante da casa. Pelo menos ela achava que era uma casa, mas uma casa diferente de todas que conhecera, e mil vezes melhor.

A casa era uma grande construção em estuque branco, mais larga do que alta, com um telhado plano, projetado para fora, com uma grande porta preta à esquerda, três pequenas janelas pretas dispersas aleatoriamente em toda a extensão da parte abaulada diante dela, e uma única janela alta, à es­querda da porta, chegando quase ao telhado. Havia um pré­dio baixo, à direita, ligado à casa principal, que era a gara­gem. Com uma única porta, era sem graça. Deveria ser feia, mas não era. E, apesar de não ser boni­ta, havia uma simplicidade, uma correção que transmitia paz.

Alfonso parou o carro em frente à garagem, ao lado de uma caçamba cheia de material de construção e lixo, e ela enten­deu que a casa fora recém-construída ou reformada. Não po­dia dizer, mas logo que a porta se abrisse ela saberia.

Anahí olhou para Alfonso, que ainda não dissera uma única palavra, mas ele saiu, deu a volta e veio abrir a porta dela, e a ajudou a sair para o piso de asfalto, ela o seguiu. Ele abriu a porta e a convidou para entrar.

Anahí deu dois passos e parou para admirar a casa. A parede mais distante era de vidro. Toda de vidro, do chão ao teto, de um lado até o outro. Depois da parede de vidro havia um terraço de pedra, um gramado cuidado com esmero que mais parecia uma imensa mesa de bilhar que se juntava ao hori­zonte, que era o mar. Ela deu mais um passo à frente. Nem reparou na casa. Isso era irrelevante. O mar a chamava. O sol brilhava sobre as ondulações do mar hoje, mas ela podia imaginar as águas calmas, com ondas preguiçosas ou revoltas batendo na praia, enfim refletindo todos os gostos da natureza, cada sopro de vento e gota de chuva para alterá-lo, recarregando suas bate­rias, renovando seu espírito e enchendo sua alma. Foi im­pressionante, incrível, inspirador, e ela sentiu vontade de chorar.

Anahí adorava o mar. Sentia falta dele. Havia algo no seu sangue, algo ligado a Anahí, a ilha onde nascera? E ele tinha esta vista o tempo todo, cada vez que olhava para cima ou que abria os olhos. Era extraordinário. Homem de sorte, este. Ela finalmente desviou a atenção e olhou em volta e, en­tão, registrou a casa em si e ficou boquiaberta.

O ambiente em que estava era um enorme hall de entra­da vazio, exceto por uma escada de madeira em balanço que parecia brotar da parede à esquerda e, do lado oposto, uma pintura abstrata imensa que capturou a essência do mar.

Ela foi andando em direção ao vidro, olhando em volta, observando as paredes brancas até o teto, o piso de ardósia quase preto que continuava até o terraço. Havia uma abertu­ra no lado direito antes da parede de vidro, por onde ela pas­sou e viu uma sala ampla com grandes sofás fofos e baixos agrupados em torno de uma mesa de centro colocada sobre um tapete preto de lã. A sala era dividida de maneira que a cozinha ficava fora da vista, mas quem estivesse lá podia ver o mar. Era lindo.

Impressionante. A casa era simples, despojada, a fachada quase monástica, mas devia haver uma palavra para definir isso que ela não se lembrava. Pura. Isso. Ela era pura. Transmitia uma sensação de calma e tranqüilidade que a livrava de todo o estresse dos últimos meses, como se tudo o mais fosse irrelevante. Era incrível como uma casa podia despertar isso no momento em que se entrava nela. Ela se virou para encarar Alfonso, que esperava sua opinião.

— A casa é linda — ela disse baixinho e, para sua surpre­sa, viu que ele relaxou com sua resposta, como se sua insig­nificante opinião fizesse alguma diferença para ele, o que era um absurdo. — É impressionante. Só de ver a fachada eu já imaginava que seria linda. É como uma dessas casas moder­nistas dos anos 30 que eu vi em livros; não me pergunte, pois sou péssima com nomes, mas nossa, Alfonso! É simplesmente impressionante. Todo esse espaço, a luz. Pode sentir isso ou sou só eu que sinto? — ela acrescentou, insegura, achando que ele poderia rir dela.

Ele riu só um pouquinho.

— Achei que estava exagerando só para me agradar. Claro que me sinto lisonjeado e fico feliz que tenha gostado.

— Eu adorei. Ela é fabulosa. Quem a projetou? Adoraria conhecer o arquiteto. A casa é nova ou foi reformada recen­temente?

— É nova.

De repente ele ficou meio estranho, e algo ocorreu a ela.

— Ah, meu Deus — ela disse, espantada. — Foi você, não foi? Você a projetou e construiu?

Ele parecia tenso novamente, e ela soube que tinha acertado.

— Foi você, não é mesmo? Você projetou esta casa!

Ele fez um aceno de cabeça e esboçou um sorriso.

— Tive muita sorte em conseguir este terreno. Havia uma casa aqui, pequena e simples, num estilo parecido, mas a proprietária não conseguia mantê-la, e ela ficou bem aban­donada. Finalmente houve um incêndio e a casa teve de ser demolida. O pessoal do planejamento urbanístico exigiu que a casa nova fosse construída em consonância com a antiga, o que veio a calhar para mim. Sempre adorei a arquitetura mo­dernista e sonhava com isso havia anos, mas nunca achei que teria essa chance. Bem, não até eu ficar bem mais velho, de qualquer maneira eu tive muita sorte, estava no lugar certo, na hora certa.

Sorte? Que tal ter dinheiro?, ela pensou, e em seguida lhe veio a mente outro pensamento que a arrepiou toda.

— Nossa! Você deve ser muito rico, não é mesmo? — ela disse olhando para ele como se sua aparência fosse lhe dar alguma pista.

Nada mais óbvio do que a casa, mas o carro e as roupas cheiravam a coisa cara. Como fora estúpida.

— Você deve ser milionário, ou muito mais do que isso. Ele deu uma risada.

— Nem tanto. Tenho muitas dívidas no momento, mas tive sorte em Nova York, escolhi algumas propriedades com grande potencial, apostei em negócios que deram certo, ba­seado no que parecia ser uma fórmula de sucesso. Depois eu vendi tudo e voltei para cá, um ano atrás. — Ele parecia tenso de novo, e ela se perguntava por quê.

Ela não o questionou, conteve a curiosidade. Em vez dis­so, Anahí se concentrou na parte da fórmula de sucesso.

— Então me conte, quanto tempo demorou para construir este seu império?

— Dez anos, eu acho. Comprei meu primeiro apartamen­to aos 21 anos, que foi o começo. Mas foi só há quatro anos, em Nova York, que as coisas deslancharam mesmo. E por conhecer muita gente no ramo imobiliário eu tive oportuni­dades que normalmente não teria.

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