Capítulo Seis - Parte 03

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— Ele lhe falou sobre Catherine?

— Não. Foi você quem disse alguma coisa sobre ela no domingo, e ontem à noite, no escritório dele, eu vi uma foto de uma mulher de cabelos louros.

— Era ela, com certeza.

— Achei que fosse. Mas quando perguntei, Poncho disse que não era ninguém.

Alice ameaçou um sorriso.

— Foi uma boa definição, mas não tenho o direito de falar sobre isso. Terá de perguntar a ele, mas não espere que ele se abra com você. Poncho nunca conversou sobre isso conosco. Perdão, estou aborrecendo você com essa história. Podemos começar de novo?

— Acho que seria uma boa idéia. — Anahí abriu um largo sorriso. — Oi, meu nome é Anahí.

Alice sorriu com olhos meigos.

— Eu sou Alice. — Ela apertou sua mão.

— Que tal um café?

***

— Já soube que você conheceu Alice.

— Hum, hum. Ela é bem agradável.

— Engraçado, ela disse o mesmo de você. Eu tinha um palpite de que vocês iam se dar bem.

— Bem, não vamos exagerar — ela disse. — Aliás, ela deixou alguns desenhos no seu escritório.

— Onde?

— Não sei. Não fui lá dentro. Estava ocupada com outras coisas.

— Ocupada?

— Sabe como é — ela desconversou.

— Entendi. Bem, vou tomar um banho. Que cheiro gosto­so na cozinha!

— Fiz um prato com chíli. Não sei se você gosta, mas não tive tempo de fazer nada mais elaborado. E, como você não disse a que horas queria comer, fiz algo que pudesse guardar, caso não quisesse.

— Onde conseguiu a carne moída? Não vai me dizer que foi até o centro de novo, não é?

— Alice me levou para fazer compras. Ela me falou so­bre uma bicicleta velha que fica na garagem da casa deles. Uma bicicleta com uma cesta acoplada, que pertencia à avó de Augusto. Enfim, ela ficou de perguntar a Augusto se ele a em­prestaria para mim. Se ele aceitar, já terei transporte.

— Uma bicicleta?

— Sim. Qual o problema?

Ele ficou horrorizado com a ideia de Anahí, grávida, andar de bicicleta pelas ruas.

— Nada de mais se você tem instinto suicida. Mas será que a bicicleta velha tem lanternas?

— Poncho, estamos no verão — ela disse rindo. — Não pre­tendo sair para um passeio noturno! Quero poder sair para fazer compras, só isso. Ande, tome logo seu banho, preciso tirar a roupa do varal.

— Como?

— Comprei uma corda de varal no supermercado. Você não tinha um.

— Mas não tenho estrutura para prendê-la.

— Eu sei. Amarrei a corda em duas árvores.

— O que há de errado com a máquina de secar? – perguntou e Anahí revirou os olhos.

— Assim é mais ecológico.

— Detesto roupa estendida no varal.

— Que bobagem. Nem vai vê-lo, ele está do outro lado da casa, aonde ninguém precisa ir. Alice gostou da ideia. Ah, eu queria lhe perguntar se podemos fazer uma horta aqui.

Ele ficou olhando para ela por um momento, depois sacu­diu a cabeça, perplexo.

— Faça como quiser — ele disse. — Mas combine com Alice e certifique-se de que ela não tem outros planos para o local em que você quer fazer isso. — Depois ele foi para o quarto, se perguntando que diabos tinha arranjado trazendo essa moça para morar com ele.

— Nossa.

— Gostou? Usei a pimenta malagueta fresca que sobrou de ontem.

— Está gostoso.

— Acha que ficou apimentado demais?

— Não, está saboroso. Deve estar bom para você. Se fos­se com Alice, ela já teria engasgado.

— Poncho, eu já vivi em muitos lugares. Mamãe e eu vivemos dois anos no México, e passei dois anos na Tailândia com Edgar. Ou se aprende a comer pimenta ou se passa fome.

— Aceita mais um pouco? — ele perguntou.

Ela não quis comer mais, não podia exagerar. Estava en­gordando rapidamente com a gravidez.

— Você está bem?

— Só um pouco empanturrada aqui dentro.

— Deve estar mesmo. — Ele olhou para a barriga de Anahí com certo carinho. — Isto estava ótimo, obrigado.

— Foi um prazer — ela disse já se levantando e pegando o prato. — Fiz uma salada de frutas.

— Tem sorvete?

— Pensei que quisesse ter uma alimentação mais saudável — ela brincou, e em seguida tirou um pote de sorvete do freezer e mostrou para ele, que riu e foi ajudá-la a levar as coisas para a mesa.

— Sua bruxa! — ele murmurou ao passar por ela.

E, como não tinha se acostumado com o tamanho da bar­riga, Anahí esbarrou nele ao se virar e perdeu o equilíbrio com o pote de salada de frutas nas mãos.

— Calma — ele disse segurando-a pelos ombros, depois pegou as coisas das mãos dela para levá-las para a mesa, mas a deixou perturbada com contato físico.

— Por que não senta e me deixa fazer isso? — ela sugeriu, incomodada com a proximidade do corpo dele naquele espa­ço pequeno. — Ou então eu vou colocando a louça na má­quina enquanto você leva a sobremesa para o jardim, onde poderemos nos sentar e apreciar a vista para o mar.

Que idéia boba. Idéia boba, romântica e absolutamente adorável.

Sentaram-se ali por horas até ela sentir frio. Ele foi bus­car um suéter — um lindo suéter de caxemira com o chei­rinho dele —, e ela se agasalhou e tomou água mineral que Alfonso trouxe. Ficaram ouvindo o barulho do mar, e Anahí fa­lou sobre outras praias que conhecera. Até que Pebbles apareceu a se acomodou no colo dela; e ela achou tudo perfeito.

Mesmo que ele não fosse seu, mesmo que ela não perten­cesse a esse lugar, que estivesse só de passagem, porque sua vida sempre fora assim.

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora