Anahí não ouviu Alfonso chegar, mas sentiu sua presença e se virou quando ele se aproximou.
— Oi — ele disse. Anahí o fitou. Parecia sério, e ela abriu um sorriso tímido. O que seria isso? Uma despedida?
— Oi — ela respondeu.
— Pensei que quisesse dormir cedo.
— Não consegui. Senti necessidade de ouvir o barulho do mar.
— Quer que a deixe sozinha?
— Não. Eu estava pensando em George.
Ele se acomodou no primeiro degrau da escada e fez sinal para ela se sentar também. Ela demorou um pouco, mas acabou se sentando, e ele lhe segurou a mão.
— Sente muita falta dele, não é mesmo? Teve um ano difícil.
Ela balançou a cabeça, concordando. Difícil? Em certos momentos.
— Foi duro assistir ao sofrimento de George com a morte de Edgar e depois vê-lo morrer bem quando ele pretendia se aposentar e aproveitar seu descanso tão merecido... — Ela balançou a cabeça ao lembrar sua decepção com os filhos, a decadência física com a doença e sua morte. — Se ao menos Edgar tivesse ajudado, ou Rafael, mas foram egoístas. Nenhum dos dois se importava com ele, e ele era tão bom. Merecia filhos melhores.
— Pensei que você amasse Edgar. — Ele deu de ombros.
— Eu não sei. Talvez o tenha amado um dia, ou só me diverti com ele porque era muito chato viajar sozinha. Para ser sincera, acho que estava solitária e, se não o tivesse conhecido, teria voltado para Maastricht como havia planejado. No entanto, vim para cá e conheci George. Ele me recebeu tão bem e, pela primeira vez na vida, eu tive um pouso certo. Um lugar para chamar de casa, mesmo que fosse um hotel decadente com um anexo em ruínas e uma gata abandonada... — Anahí riu e olhou para onde a gatinha fora enterrada. — Ele foi o único pai que tive, e ele me deu um lar. E, pela primeira vez, meu primeiro bichinho de estimação. Coitadinha da Pebbles. Pelo menos ela pôde morrer aqui, sob um arbusto, no sol, sem dor. Não conheço lugar mais bonito do que este para se morrer.
— Ou para se viver? — ele disse timidamente, e ela o fitou sem ousar ter esperança. — É um lugar bonito para se viver?
— Aqui? — Ela olhou para a casa, perguntando-se o que ele estaria querendo dizer com aquilo. Não, não podia ser. Devia estar falando sobre investimentos de novo. — É uma linda propriedade para se morar, mas eu jamais poderia sustentar esta casa. Não posso gastar todo aquele dinheiro. Não sou assim, Poncho. Quando o conheci, disse que precisava sair para arranjar comida. Não estava falando em sentido literal, pois Rafael havia me dado 500 libras durante o enterro, e eu teria de fazer o dinheiro durar bastante, mas, sem energia, só poderia comer coisas que não precisassem ser cozidas, portanto, nada de macarrão. Estava enjoada de comer tanto sanduíche de atum e feijão em lata. Aquela comida chinesa foi a primeira comida quente que comi em seis semanas.
Alfonso parecia chocado. E Anahí teve vontade de abraçá-lo e consolá-lo, e dizer que agora estava tudo bem, mas ele a fitava de uma forma estranha, como se não soubesse o que dizer; então, ela se virou para olhar o mar, desejando poder lhe dizer o que estava sentindo.
— Case-se comigo — ele falou de repente, e lona o fitou, espantada.
— O quê?
— Quero que se case comigo. — ele repetiu, agora mais calmo, mais seguro. — Case-se comigo e deixe-me amá-la. Porque eu a amo sabia? Amei você desde o primeiro dia em que a vi puxando aquele colchão da caçamba. Sei que tenho sido meio devagar, mas eu pensei que você amasse Edgar, e foi Alice quem me disse que eu estava enganado.
Alice? Deus seja louvado! Ela era uma boa amiga. Ela pensou na época em que o bebê nasceu, na sua solidão e seu isolamento.
— Sério? Você me ama? Então por que ficou tão distante desde que eu tive o bebê, Alfonso? Por que não ficou comigo? Por que não me contou?
— Achei que não haveria espaço para mim junto de vocês por Elena ser filha de Edgar, me sentia um intruso.
Anahí começou a sorrir, um sorriso que iluminou seu rosto todo, e ela o fitou nos olhos.
— Ora, Alfonso! — ela falou baixinho, fazendo um carinho no seu rosto. — Ao contrário, você sempre me apoiou nos meus piores momentos. Você me salvou do teto que desabava, enterrou minha gatinha, me lavou quando Elena nasceu, trocou fraldas, cozinhou e lavou para eu não me sentir culpada...
— Você se sentiu culpada? Não queria que se sentisse assim.
— Senti-me, sim, porque achei que era minha obrigação. Se soubesse que estava fazendo por amor, eu teria apreciado cada gesto seu. — Então ela o beijou. — Peça de novo, Poncho. Peça-me para casar com você. Peça-me para viver aqui com você.
Alfonso respirou fundo, pegou sua mão, desceu alguns degraus, apoiou-se em um dos joelhos e disse, olhando nos olhos dela:
— Amo você, Anahí. E amo Elena. Fique comigo. Case comigo e viva aqui comigo, e vamos transformar esta casa enorme em um lar. Ajude-me a enchê-la de crianças, de preferência adotadas, pois não quero vê-la passar pelo sofrimento de um parto novamente, mas me ajude a formar uma família. Para sempre.
— Ah, Alfonso...
Anahí o beijou, chorando, de alegria e de amor.
— Claro que me caso com você. Adoraria viver aqui com você, nesta casa linda, não imagino um lugar mais bonito para ser o nosso lar. E vamos enchê-la de crianças. Quantas você quiser. Contanto que eu fique com você, nada mais me interessa. Mas eu quero terminar minha faculdade e quero criar a fundação em memória de George, e quando Elena crescer, vamos lhe falar do seu avô. Talvez ela consiga conhecer a avó, se eu conseguir convencê-la a voltar para a Inglaterra. Falando nisso, ela vai amar você.
— Que pena, sou comprometido — ele disse, abraçando-a. — Talvez devesse comprar uma casa para Elena, como investimento, e deixar sua mãe morar lá, que tal?
— Sem chance, ela jamais fixaria residência em um só lugar, ela é um hippie.
— Até os hippies envelhecem.
— Você quer resolver o problema de todo o mundo, não é mesmo? Amo você, Alfonso Herrera. Você é tão bom. George ia gostar de você, e a Sra. Jessop adorou você. Ela vai gostar de saber que vamos nos casar. Teremos de convidá-la para o nosso casamento. Não será nenhuma surpresa para ela.
Ele pensou na Sra. Jessop e no seu olhar de sabedoria ao dizer para ele: "Você chega lá".
— Também acho.
Ele a beijou de novo e de novo até que ouviu um choro de bebê ao longe. Ele levantou a cabeça e sorriu, sem jeito.
— Acho que vamos ter de esperar mais um pouco.
E ela sorriu.
— Não temos pressa. Temos o resto das nossas vidas.
E, de braços dados, eles percorreram o jardim de voltapara sua casa, sua filha e seu futuro.
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Lar da Paixão (ADP)
FanfictionSem dinheiro, grávida e sozinha, Anahí Puente queria se estabelecer e criar raízes. Afinal, recebera alguns golpes duros da vida. Quando Alfonso Herrera a encontrou morando na casa vazia que ele acabara de comprar, sabia que deveria ter pedido que e...