Capítulo Nove - Parte 02

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Ela era extraordinária. Pequena, perfeita, e tudo parecia um sonho até Alfonso le­vá-las para casa naquela noite. Para o apartamento de Anahí.

Ele trocou os lençóis, forrou o berço, colocou o carrinho no quarto com a manta. A parteira veio junto, verificou se estava tudo certo, depois disse que voltaria pela manhã. E após trazer uma bebida quen­te e acomodá-la na cama, ele se encaminhou para a porta.

— Aonde vai?

— Para o quarto ao lado. Não quero atrapalhar. Estarei bem aqui do lado se precisar de mim.

Anahí quis dizer que precisava dele agora! Você não vai me incomodar. Mas algo no rosto dele a impediu de falar.

— Obrigada. — ela disse ao vê-lo sair e encostar a porta. Ela ficou olhando para a porta que não estava fechada, só encostada. E ela queria chorar, porque não tinha dormido sem ele desde a primeira noite deles, e como sentia sua falta! Mas isso era sua culpa, ele a avisou que não servia. E fa­lava sério, caso contrário saberia que precisava dele agora.

O que era uma piada, pois Elena decidiu ficar acordada e fazer barulhos.

Anahí não sabia o que fazer. Estaria com fome? Ela não estava chorando, mas se ela a pegasse no colo será que a acordaria e teria de amamentá-la? Não tinha certeza se saberia encaixá-la no peito para amamentar, ela bem que tentou no hospital, mas agora estava enfrentando a realidade de uma mãe solteira.

Sozinha com seu bebezinho e sem nenhuma experiência. Anahí sentou-se na cama e se cercou de travesseiros. Ela sentia dor e queria muito tomar um banho. Será que poderia? Sozinha? Pois não tinha coragem de pedir ajuda a Alfonso, no meio da noite.

Anahí abriu a torneira e tirou a camisola, aquela que Pâmela lhe emprestara, a mesma que usava na noite em que Pebbles morrera. A camisola que Alfonso tirou na primeiro noite deles.

Naquela noite, Alfonso disse que ela era linda, mas ao se ver agora, com sua barriga disforme, ela quase chorou. Isto era temporário, ela se disse, logo voltaria ser ao que era antes. Se ao menos pudesse se lembrar de como ela era antes. Ela estava com um pé dentro da banheira e outro no chão quando Alfonso bateu na porta.

— Anahí, está tudo bem por aí?

— Estou bem — ela mentiu, sentindo dor ao levantar a perna. Agora só precisava se sentar. — Estou no banho. — Quase.

— Posso entrar?

Ela ia dizer que não, mas ele já tinha entrado, e veio res­mungando segurá-la pelos braços e colocá-la cuidadosamen­te dentro d'água. A água bem morna. A sensação foi muito boa.

Maravilhosa. Se ao menos Alfonso não estivesse ali, olhan­do para seu corpo balofo, ela poderia se esticar e se deleitar.

— Vou deixá-la em paz. Grite quando quiser sair.

Ele fechou a porta, e ela relaxou, aliviada. Assim estava bem melhor. Anahí fechou os olhos e se imaginou num lugar seguro, calmo e tranqüilo.

Ela se imaginou no seu jardim interno, com os pés dentro d'água e o som da cascata afastando o caos do mundo. George estava ali olhando para ela, sorrindo, com Edgar atrás dele. Edgar olhou para ela e depois foi embora. Ela deixou que fosse. Não havia como prendê-lo. Ele pre­cisava ser livre, e ela também. Maravilhosamente livre.

Ao abrir os olhos ela viu Alfonso sentado diante dela. Fi­cou surpresa, mas nem tanto. Sabia que alguém a observava. Só que achou que fosse George, mas era Alfonso. E como foi que apareceu aquela cadeira ali? Ela quis encobrir o corpo com as mãos.

— Há quanto tempo está aí?

— Uns dez minutos, eu acho. Você está na banheira há séculos. Como pegou no sono, eu não quis deixá-la sozinha. A água já deve estar fria; quer ajuda para sair?

— Ainda não me lavei. — Com isso ela esperava que ele saísse, mas não foi o que aconteceu.

Ele abriu a torneira de água quente, pegou uma toalha do armário, passou sabão e começou a esfregá-la com todo o cuidado. Passou a toalha ensaboada nas suas costas, nos bra­ços, no peito, nas pernas e até entre os dedos dos pés. Depois a enxaguou e a ajudou a sair. Com mãos fortes e seguras, ele a tirou da banheira, em­brulhou numa toalha seca e macia e a acomodou na cadeira para se secar.

— Quando terminar, me chame.

Anahí vestiu a camisola e voltou para o quarto para encon­trá-lo com Elena nos braços.

— Ela estava chorando. — ele disse baixinho.

Mas agora estava olhando fixamente para ele, com olhos arregalados, e ela sentiu um nó na garganta. Ele parecia tão à vontade, mas era natural, com tantas crianças a sua volta, já estava acostumado.

Que pena que ele não fosse conviver com Elena também. Ela sabia que isso não ia acontecer. Era apenas sua emprega­da, e ele não era homem para ela. Ele era bom, e pode ter se divertido com ela, mas foi só isso. E, logo que fizesse o teste de DNA e que Elena recebesse sua herança, ela iria embora. Ainda havia uma esperança, já que o testamento não tinha aparecido. O hotel já fora totalmente posto abaixo, e o docu­mento não foi encontrado. Sua última esperança, o escritório de George, foi destruído, e nada se achou. Nada. Não havia nada embaixo do piso ou do carpete, nada em lugar nenhum.

E, sem esse documento, talvez ela não recebesse nada de herança. Que ingenuidade a sua, estava se agarrando a uma esperança que se provou ser infundada, e talvez ficasse sem nada, pois, se tivesse mais tempo, Alfonso poderia perceber que a amava tanto quanto ela o amava.

Anahí sentiu suas pernas ficarem bambas e teve de se sentar rapidamente na beirada da cama. Ela o amava? Claro que o amava. E ela sabia disso. Apenas as palavras a tinham surpreendido. Eram tão significativas.

— Acho que ela está com fome. — ele disse, trazendo a filha até ela.

Anahí se acomodou na cama e pegou o bebê das mãos dele.

— Pode deixar que eu me arranjo, agora. — ela mentiu, ainda orgulhosa, e ele acenou e saiu do quarto.

Ela abriu a frente da camisola e encaixou Elena em seu peito. Com algumas manobras ela conseguiu fazer sua filha ma­mar, e o choro foi substituído por uma sucção ritmada que quase a fez rir em voz alta. E parou de se preocupar com o testamento, parou de pen­sar em Alfonso e ficou apreciando sua linda garotinha.

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