Ela olhou para cima, se perguntando se não haveria onde se sentar na estação em frente e ficar mais aquecida, e bem diante dela apareceu o carro de Alfonso, percorrendo lentamente a rua.
Ah, meu Deus, ele estava procurando por ela! Não podia ser. Estava tão zangada que poderia perder a calma e dizer uma besteira. Ela se encolheu tentando não ser vista, mas não tinha jeito. Ele parou o carro junto ao meio-fio, deixando o motor ligado, e a abriu a porta no meio da rua. Alguns carros buzinaram, mas ele os ignorou, correndo para ela, agachando-se na porta de modo que ele não podia ver seu rosto. No entanto, ela podia ouvi-lo, ouvir o tremor na sua voz quando ele agarrou seu braço e a sacudiu levemente.
— Onde você esteve?! Eu estava louco atrás de você!
— Deixe-me!
— Eu sinto muito, Anahí, por favor venha até o carro para conversar comigo. Deixe-me explicar.
— Não. Eu não vou com você.
— Eu lhe darei a chave do carro. Assim, não poderei dirigir e levá-la para algum lugar aonde não queira ir. Mas, por favor, deixe-me explicar. — Ele passou a mão pelo cabelo, e a água escorreu pelos fios.
Ela olhou para Alfonso com mais atenção e viu que estava encharcado. Molhado e com frio, quase tanto quanto ela. Ele tinha saído à sua procura, não apenas dentro do carro, mas procurando por ela na chuva. Mas por quê?
— Explicar o quê? — ela perguntou. — O motivo de ter mentido para mim?
— Eu não menti. Só não lhe contei toda a verdade.
— Só não me contou a maior parte. Ou a parte mais importante.
— Eu lhe contei a parte que importava.
De repente um carro buzinou e freou.
— Você deixou a porta do carro aberta — ela lhe lembrou sem necessidade, mas ele não deu importância.
— Por favor, venha comigo. Vamos para algum lugar onde possa se aquecer, tomar uma bebida quente e conversar sobre isso. Vamos a algum lugar público, a um café ou algo assim. Você escolhe onde.
— Estou com a gata — ela comentou.
— Anahí, por favor — ele disse outra vez.
E, porque ele estava começando a tremer e ficando cada vez mais molhado, se isso era possível, ela cedeu.
— Está bem, mas só no carro. Não vamos a lugar nenhum. E você tem cinco minutos.
* * *
Alfonso teve de tirar o carro dali, pois estava obstruindo a passagem, mas foi só até virar a esquina, entrar no estacionamento do hotel e parar junto à caçamba de lixo onde estava o antigo colchão dela. Então ele desligou o motor, entregou-lhe a chave e se virou para ficar de frente para ela.
— Não sei por onde começar a pedir desculpas — ele disse.
— Esqueça o pedido de desculpas. Eu quero a verdade, toda ela. E pode ligar o aquecimento?
— Não sem a chave do carro.
Sem dizer nada ela lhe entregou de volta a chave e ele ligou o motor e o aquecimento. Eles estavam tão molhados que, mesmo com a temperatura controlada ali dentro, as janelas ficaram embaçadas e o carro ficou com um cheiro de cachorro molhado. A gatinha tremia. Pobre Pebbles. Anahí fazia carinho na gata; seus dedos estavam quase azuis de tanto frio, e ela precisava tirar aquelas roupas molhadas.
— Isto é loucura. Deixe-me levá-la para casa para que possa se enxugar e se alimentar. Você deve estar morrendo de fome, e está com frio, e a gata está congelado.
Ela olhou para Pebbles e algo pingou sobre ela. Poderia ter sido água do cabelo dela ou uma lágrima, e seu coração ficou apertado. Alfonso segurou seu rosto, virando-a para ele, e viu outra lágrima escorrer pelo semblante zangado. Ele limpou a lágrima no rosto de Anahí com o polegar e, em seguida, fitou seus olhos azuis como o céu. E decepcionados com ele. O que o deixava triste.
— Deixe-me levá-la para casa, por favor. Não precisa ficar. Deixarei o portão aberto, poderá sair quando quiser. Não vou machucá-la, Anahí.
— Não. Vai mentir para mim, você, sua irmã e seus amigos. Pensei que estivesse brigando com Rafael, mas você era eu verdadeiro inimigo o tempo todo. Agora você venceu, conseguiu me tirar de lá, parabéns. Como se sente roubando meu bebê? — Ela afastou a mão dele abruptamente e enxugou as lágrimas que insistiam em cair.
— Nós não...
— Ah, foi! A minha filha tinha uma herança, e agora, Alfonso, vai ser muito mais difícil. Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Eu cheguei a lhe dizer isso, mesmo assim me deixei enganar. Não acredito que tenha sido tão burra! Mas você não devia ter bloqueado a porta. Eu poderia ter voltado para lá. Ainda posso dar um jeito...
— Não. — Ele balançou a cabeça. — É perigoso demais.
E, como se para ilustrar o que ele dizia, uma folha do telhado voou e caiu diante deles, bem no estacionamento. O lábio dela tremeu, e Anahí virou a cabeça para o outro lado. Em seguida, o telefone tocou. Alfonso atendeu e colocou no viva-voz para ela ouvir o que Alice tinha a dizer:
— Alguma noticia?
— Eu a encontrei — ele falou para a irmã.
— Graças a Deus! Ela está bem?
— Graças a você, não.
— Ah, Poncho, desculpe-me. Eu só pensava na experiência com Cecília, estava tão preocupada que você se machucasse, sei como vocês, homens, podem ser protetores. E me perdoe por ter comentado sobre o seu caso com Catherine. Escute, posso falar com ela, tentar explicar...
— Acho que já falou demais por hoje — ele disse. — Não se preocupe, estou cuidando dela.
Depois de uma pequena pausa, Alice acrescentou:
— Está bem. Então, diga-lhe que eu sinto muito, está bem? E eu telefono para você amanhã.
— Faça isso. — Ele desligou e virou-se para ela. — Preciso ligar para daniel. Ele também está procurando por você.
— Preocupado em ser processado?
Ele passou a mão pelos cabelos molhados e soltou um suspiro.
— Não. Está preocupado com uma mulher fragilizada, na rua em dia de tempestade, sem ter para onde ir por causa dele. — Depois ele falou com carinho — Não estávamos caçando você, Anahí. Estamos do seu lado.
— Bem, desculpe-me se não acredito em você — ela disse, tensa, e a raiva de Alice veio à tona novamente. — Que ousadia a dela, Alfonso! Como pôde fazer aquelas acusações contra mim? Ela nunca sequer me viu! Não me importo se é sua irmã, isso é imperdoável. Eu jamais faria um julgamento desses sobre alguém que não conhecesse. Quem ela pensa que é?!
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Lar da Paixão (ADP)
FanficSem dinheiro, grávida e sozinha, Anahí Puente queria se estabelecer e criar raízes. Afinal, recebera alguns golpes duros da vida. Quando Alfonso Herrera a encontrou morando na casa vazia que ele acabara de comprar, sabia que deveria ter pedido que e...