Capítulo Quatro - Parte 02

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Ela olhou para cima, se perguntando se não haveria onde se sentar na estação em frente e ficar mais aquecida, e bem diante dela apareceu o carro de Alfonso, percorrendo lenta­mente a rua.

Ah, meu Deus, ele estava procurando por ela! Não podia ser. Estava tão zangada que poderia perder a calma e dizer uma besteira. Ela se encolheu tentando não ser vista, mas não tinha jeito. Ele parou o carro junto ao meio-fio, deixando o motor ligado, e a abriu a porta no meio da rua. Alguns carros buzinaram, mas ele os ignorou, correndo para ela, agachando-se na porta de modo que ele não podia ver seu rosto. No entanto, ela podia ouvi-lo, ouvir o tremor na sua voz quando ele agarrou seu braço e a sacudiu levemente.

— Onde você esteve?! Eu estava louco atrás de você!

— Deixe-me!

— Eu sinto muito, Anahí, por favor venha até o carro para conversar comigo. Deixe-me explicar.

— Não. Eu não vou com você.

— Eu lhe darei a chave do carro. Assim, não poderei diri­gir e levá-la para algum lugar aonde não queira ir. Mas, por favor, deixe-me explicar. — Ele passou a mão pelo cabelo, e a água escorreu pelos fios.

Ela olhou para Alfonso com mais atenção e viu que estava encharcado. Molhado e com frio, quase tanto quanto ela. Ele tinha saído à sua procura, não apenas dentro do carro, mas procurando por ela na chuva. Mas por quê?

— Explicar o quê? — ela perguntou. — O motivo de ter mentido para mim?

— Eu não menti. Só não lhe contei toda a verdade.

— Só não me contou a maior parte. Ou a parte mais im­portante.

— Eu lhe contei a parte que importava.

De repente um carro buzinou e freou.

— Você deixou a porta do carro aberta — ela lhe lembrou sem necessidade, mas ele não deu importância.

— Por favor, venha comigo. Vamos para algum lugar onde possa se aquecer, tomar uma bebida quente e conversar sobre isso. Vamos a algum lugar público, a um café ou algo assim. Você escolhe onde.

— Estou com a gata — ela comentou.

— Anahí, por favor — ele disse outra vez.

E, porque ele estava começando a tremer e ficando cada vez mais molhado, se isso era possível, ela cedeu.

— Está bem, mas só no carro. Não vamos a lugar nenhum. E você tem cinco minutos.

* * *

Alfonso teve de tirar o carro dali, pois estava obstruindo a passagem, mas foi só até virar a esquina, entrar no estaciona­mento do hotel e parar junto à caçamba de lixo onde estava o antigo colchão dela. Então ele desligou o motor, entre­gou-lhe a chave e se virou para ficar de frente para ela.

— Não sei por onde começar a pedir desculpas — ele disse.

— Esqueça o pedido de desculpas. Eu quero a verdade, toda ela. E pode ligar o aquecimento?

— Não sem a chave do carro.

Sem dizer nada ela lhe entregou de volta a chave e ele li­gou o motor e o aquecimento. Eles estavam tão molhados que, mesmo com a temperatura controlada ali dentro, as ja­nelas ficaram embaçadas e o carro ficou com um cheiro de cachorro molhado. A gatinha tremia. Pobre Pebbles. Anahí fazia carinho na gata; seus dedos estavam quase azuis de tanto frio, e ela precisava tirar aquelas roupas molhadas.

— Isto é loucura. Deixe-me levá-la para casa para que possa se enxugar e se alimentar. Você deve estar morrendo de fome, e está com frio, e a gata está congelado.

Ela olhou para Pebbles e algo pingou sobre ela. Poderia ter sido água do cabelo dela ou uma lágrima, e seu coração ficou apertado. Alfonso segurou seu rosto, virando-a para ele, e viu outra lá­grima escorrer pelo semblante zangado. Ele limpou a lágrima no rosto de Anahí com o polegar e, em seguida, fitou seus olhos azuis como o céu. E decepciona­dos com ele. O que o deixava triste.

— Deixe-me levá-la para casa, por favor. Não precisa fi­car. Deixarei o portão aberto, poderá sair quando quiser. Não vou machucá-la, Anahí.

— Não. Vai mentir para mim, você, sua irmã e seus amigos. Pensei que estivesse brigando com Rafael, mas você era eu verdadeiro inimigo o tempo todo. Agora você venceu, conseguiu me tirar de lá, parabéns. Como se sente roubando meu bebê? — Ela afastou a mão dele abruptamente e enxugou as lágrimas que insistiam em cair.

— Nós não...

— Ah, foi! A minha filha tinha uma herança, e agora, Alfonso, vai ser muito mais difícil. Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Eu cheguei a lhe dizer isso, mesmo assim me deixei enganar. Não acredito que tenha sido tão burra! Mas você não devia ter bloqueado a porta. Eu poderia ter voltado para lá. Ainda posso dar um jeito...

— Não. — Ele balançou a cabeça. — É perigoso demais.

E, como se para ilustrar o que ele dizia, uma folha do te­lhado voou e caiu diante deles, bem no estacionamento. O lábio dela tremeu, e Anahí virou a cabeça para o outro lado. Em seguida, o telefone tocou. Alfonso atendeu e colocou no viva-voz para ela ouvir o que Alice tinha a dizer:

— Alguma noticia?

— Eu a encontrei — ele falou para a irmã.

— Graças a Deus! Ela está bem?

— Graças a você, não.

— Ah, Poncho, desculpe-me. Eu só pensava na experiência com Cecília, estava tão preocupada que você se machucasse, sei como vocês, homens, podem ser protetores. E me perdoe por ter comentado sobre o seu caso com Catherine. Escu­te, posso falar com ela, tentar explicar...

— Acho que já falou demais por hoje — ele disse. — Não se preocupe, estou cuidando dela.

Depois de uma pequena pausa, Alice acrescentou:

— Está bem. Então, diga-lhe que eu sinto muito, está bem? E eu telefono para você amanhã.

— Faça isso. — Ele desligou e virou-se para ela. — Pre­ciso ligar para daniel. Ele também está procurando por você.

— Preocupado em ser processado?

Ele passou a mão pelos cabelos molhados e soltou um suspiro.

— Não. Está preocupado com uma mulher fragilizada, na rua em dia de tempestade, sem ter para onde ir por causa dele. — Depois ele falou com carinho — Não estávamos caçando você, Anahí. Estamos do seu lado.

— Bem, desculpe-me se não acredito em você — ela dis­se, tensa, e a raiva de Alice veio à tona novamente. — Que ousadia a dela, Alfonso! Como pôde fazer aquelas acusações contra mim? Ela nunca sequer me viu! Não me importo se é sua irmã, isso é imperdoável. Eu jamais faria um julgamen­to desses sobre alguém que não conhecesse. Quem ela pen­sa que é?!

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