Capítulo Cinco - Parte 02

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Todos acharam graça e riram, tornando o clima mais ame­no entre eles. Ao serem recebidos pelo advogado, ele se inte­ressou muito pela história de Anahí.

— Então não há sinal do testamento, srta. Puente?

— Rafael não encontrou, e eu também não sei onde George o guardou.

— E George não tinha advogado?

— Não sei dizer. Havia um sujeito chamado Bruno Edwards. Talvez ele soubesse alguma coisa. Estava cuidando da venda, eu acho, mas não sei onde encontrá-lo. George não dis­cutia esses assuntos comigo.

— Conheço Bruno Edwards. Estamos fazendo negócios com ele. Se existisse um testamento, ele o teria mencionado. Conversamos sobre a sua pretensão sobre a propriedade. Vou ter mais uma conversa com ele e ver se podemos escla­recer mais as coisas. Por enquanto, imagino que esteja satis­feita de sair do hotel e poder liberar a propriedade para os meus clientes.

Ela acenou a cabeça. Tinha se esquecido de como era es­tar em acomodações apropriadas, e a noite que passou foi como um sonho. Não tinha pressa nenhuma em voltar a viver um pesadelo.

— Não era seguro lá.

— Muito pelo contrário. O telhado desabou na noite pas­sada — Daniel informou a todos. — Estive lá esta manhã. O colchão ficou soterrado debaixo de toneladas de entulho. Poncho a tirou de lá na hora certa.

Alfonso respirou fundo ao seu lado.

— Meu Deus, foi mesmo?

— Foi sim. Estamos derrubando o resto que ficou antes que aconteça alguma tragédia.

Anahí se sentiu mal. Suas mãos, instintivamente, segura­ram seu bebê, acariciando-a, com os olhos fixos em Alfonso. Ele a tocou no ombro de leve, e ela sorriu.

Não importava o que os outros pensassem, ele tinha feito a coisa certa, e ambos sabiam disso. Daniel também sabia, tan­to que ele logo tratou de fechar a porta com tábuas para im­pedir que ela voltasse. O advogado pigarreou antes de falar:

— Bem, então, acho que o próximo passo é tentar reunir informações para essa sua reivindicação.

— Acho que não precisamos todos ficar aqui para isso, não é mesmo? — disse Alfonso, e todos concordaram.

— Os senhores querem acrescentar mais alguma coisa?

— Um contrato de trabalho — disse Alfonso. — Para prote­ger Anahí e garantir seus direitos.

— Certo, farei isto também, depois lhe mostro. É só isso?

— Acho que sim — Alfonso disse. — Vamos voltar ao hotel, então, é, continuar conversando lá. Anahí, quer nos en­contrar lá quando terminar aqui? Não fica longe. Estaremos no escritório.

— Certo. Qual é a porta?

— A porta interna, junto ao segurança.

Ela sorriu.

— Diga-lhe para me deixar entrar, por favor. Não somos muito amigos.

— Deixe comigo — disse Alfonso.

— Ela é boa pessoa — Augusto teve de admitir.

— Já havia lhe dito isso — Alfonso retrucou.

— É agradável, bem articulada, culta... — Alfonso fez uma careta antes de continuar: — Alice estava com medo de que você fosse se envolver com alguma ordinária interessada no seu dinheiro.

— E no dinheiro de George Dawes também, acho que ela usou a expressão mulher perigosa.

— Ai!

— Pois é.

— Alice precisa conhecer Anahí.

— Concordo, só não sei se Anahí vai querer. Se fosse comi­go, eu não ia querer. É um milagre ela não ter ido embora para nunca mais falar com nenhum de nós.

— Talvez seja por falta de opções — Daniel sugeriu ao chegarem ao estacionamento do hotel. — Mas devo dizer que concordo com você, ela é muito simpática. Era fantástica quando trabalhava aqui. Sem ela, o hotel teria falido, porque a saúde de George era precária. Eu já estava negociando com ele antes de o filho voltar da Tailândia, e ele estava pronto para desistir. Só não vendeu antes porque tinha esperança de que um dos filhos assumisse a administração do hotel. Se eu soubesse que era ela que ocupava o anexo, teria falado diretamente com Anahí, e poderíamos ter resolvido isso há muito tempo.

— Bem, agora já sabemos. Ela já está em segurança, e talvez possamos ajudá-la — Augusto disse.

— Para começar, podia convencer a minha irmã de que ela não é uma mulher perigosa — sugeriu Alfonso secamente, e depois se dirigiu ao segurança na entrada: — A srta. Puente vem nos encontrar aqui. Por favor, não tente detê-la — ele disse e o sujeito fechou a cara.

— Srta. Puente?

— A nossa inquilina. Ela me disse que vocês não são mui­to amigos.

— Só estava fazendo meu trabalho, senhor.

Alfonso se juntou aos outros.

— Vamos entrar.

Era estranho voltar ali.

Anahí entrou pela porta lateral e foi até a recepção, no gran­de hall de entrada. O silêncio do espaço acarpetado tinha dado lugar ao barulho ensurdecedor da obra e da demolição do anexo do outro lado do estacionamento. Era um lugar familiar e ao mesmo tempo não era. Os ta­petes tinham saído, os móveis não estavam mais, exceto pelo balcão da recepção, e o local parecia uma concha, ecoando sons de perfuração e marteladas, um rádio tocando música pop brega e alguém cantando fora do tom.

Ela fechou os olhos e viu como o hotel fora um dia, com George sorrindo para ela do outro lado do velho balcão, com o sino de bronze sobre ele, e ela sentiu uma onda de pesar. Anahí apertou bem os olhos até recuperar o controle para então voltar a abri-los. Adorava aquele balcão, com suas marcas feitas ao longo dos seus 150 anos de história. Pensou em quantas pessoas tinham se hospedado ali, nas histórias que teriam para contar. E agora tudo tinha acabado. Ela passou a mão sobre ele e saiu toda empoeirada. Das cinzas às cinzas. Ela engoliu em seco e se virou para dar de cara com Alfonso a observá-la.

— Você está bem? — ele perguntou baixinho, e ela ace­nou com a cabeça.

— Depois do enterro, nunca mais vim aqui. Está tão dife­rente agora.

— E vai ficar ainda mais diferente.

Anahí já tinha se dado conta disso, ela precisava esquecer o passado.

— Então, o que planeja fazer? Vai destruí-lo e erguer um hotel moderno?

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora