Capítulo Dez - Parte 02

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Agora ela saberia que opções teria. Tinha muito medo de que suas opções não incluíssem Alfonso. Desde que o bebê nasceu, apesar de toda a atenção que deu, ele não ficou com ela. Não a tocou, não a segurou e nem a beijou. Tudo bem que seu corpo ainda não tinha voltado ao normal, mas não tinha de ser tudo ou nada; ou tinha? E se ele estava se mantendo assim tão distante, só podia ser porque estava atrás de distração e, como isso ela não poderia lhe dar agora, então não interessava. Bem, ela lhe disse que não es­tava pedindo uma eternidade e, pelo visto, ele levou isso a sério.

E o testamento que até a pouco ela temia agora parecia ser a solução para uma situação impossível e dolorosa.

Anahí não esperava muito. Alguns milhares, talvez. O bas­tante para dar de entrada em uma casa; e ela poderia traba­lhar para pagar a hipoteca e dar a Elena uma vida decente. Ela só queria poder levar uma vida tranqüila com sua filha.

Eles só conseguiram se encontrar com Mike Cooper no final daquele dia. Tiveram de esperar Rafael Dawes vir de Londres. Era estranho ele estar disponível para vir tão depressa. E ao chegar ao escritório do advogado ele se surpreendeu ao ver Anahí com um bebê nos braços.

— Nasceu mesmo, não é? — ele disse como se não acre­ditasse que havia uma criança de fato. Pior para ele, pensou Alfonso, torcendo para Anahí não acei­tar suas provocações.

— Estamos em setembro, Rafael — ela disse. — Eu engravi­dei em novembro, quando Edgar esteve aqui. Não sou uma elefanta. Elena, diga "oi" para seu tio Rafael — ela fez questão de provocar.

O sujeito fechou a cara, e Alfonso teve vontade de matá-lo. Ele ainda não acreditava que a criança fosse filha do seu ir­mão, mas o teste de DNA já estava sendo feito, ao menos o de Elena. Rafael tinha se recusado a cooperar até que um juiz o obrigasse a fazê-lo. E agora, estavam todos no antigo escritório de Mike Coo­per, que segurava o documento e sorria para Anahí.

— Então este é o bebê? Olá, pequenina. Meu Deus, ela é cara do pai dela. — Depois ele retomou seu assento, pe­gou o testamento e deu uma olhada para todos os presen­tes. — Em primeiro lugar, deixem-me pedir desculpas pelo atraso em revelar o conteúdo do testamento para vo­cês. Por estar aposentado, não soube da morte do meu cliente até hoje pela manhã, quando recebi um telefonema do escritório. Então, estão todos prontos? — Ele passou a ler o testamento.

Foram muitas palavras sem nenhum sentido. Bem, para a maioria das pessoas. Mas para Anahí, que tinha estudado di­reito, era apenas linguagem jurídica. De todo modo, o documento era legal e assinado diante de testemunhas. E, como George havia prometido, o futuro de Elena estava garantido.

Mike Cooper leu o seguinte:

— "Para o meu filho Rafael, deixo a quantia de 10 mil libras esterlinas. Do saldo residual da propriedade, a administrado­ra vai manter metade para a criança ou crianças do meu filho Edgar, nascidas ou en ventre sa mère. Sem prejuízo de..."

Anahí não ouviu o resto, porque Rafael falava tão alto que aba­fava a voz de Mike. Então Mike tirou os óculos e olhou para Eafael.

— Sr. Dawes, eu apreciaria se nos deixasse conduzir isso de forma correta e formal, sem interrupções.

Depois ele seguiu a leitura do testamento, mas ela não deu mais atenção a eles, ficou apenas olhando para o seu bebê, em estado de choque.

Metade? Então ele tinha de fato deixado metade do patrimô­nio para Elena? E para Rafael somente 10 mil libras? Não que ela soubesse quanto era metade do patrimônio, mas seria certo isso? Devia ser de mais de 10 mil libras, a não ser que as dívidas de George fossem enormes. O que era perfeitamente possível. Do outro lado da sala, Rafael estava furioso, mas Anahí se li­mitou a olhar para sua filha e balançar a cabeça sem poder acreditar.

Ele cumpriu a promessa. Meu querido George, que estava sempre atrapalhado, tinha arranjado tempo, mesmo doente, para assegurar o futuro de Elena.

— Será que o dinheiro é suficiente para dar de entrada em uma casa para ela?

Mike Cooper teve de rir.

— Creio que sim, minha jovem. O hotel foi vendido por 1.750.000 libras. Logo que as dívidas e os impostos sobre a herança forem pagos, segundo Bruno Edwards, ainda vai so­brar um pouco mais de um milhão de libras, e metade disso pertence à Elena. Esse valor ficará aplicado num fundo até ela completar 18 anos. A outra metade é sua para fazer o que quiser. Então, claro que pode comprar uma casa. Uma boa casa.

— A outra metade é para mim?! Por que para mim?

— É o que está estipulado no testamento. — E ele leu mais uma vez, e desta vez ela prestou atenção.

— "Metade do meu patrimônio deixo para Anahí Portilla, pelo cuidado, pela compaixão e consideração cons­tantes comigo; e no caso de a criança não sobreviver a meu filho Edgar, então o valor total do patrimônio do espólio irá para Anahí Portilla." Ele deixou 10 mil libras para o filho, e o resto, metade para Elena aplicado num fundo e metade para você, minha jovem. E se alguma coisa acontecer a Elena, você herda a parte dela.

— Eu? — Ela se virou para fitar Alfonso, que parecia tão surpreso quanto ela.

— Só se a criança for filha de Edgar — disse Rafael. — E isso ainda terá de ser provado. Se ela não for filha de Edgar, o dinheiro virá para mim! Droga, tudo deveria vir para mim! Que diabos aquele velho estava pensando?

— Sr. Dawes! — Mike Cooper falou, indignado, levantando-se com dificuldade devido à idade, e Anahí ficou paralisada de susto. — Não vou admitir que fale neste tom no meu escri­tório! Durante o período de elaboração deste testamento, con­versei demoradamente com seu pai, e todo o tempo ele só fez elogios a Srta. Portilla, e demonstrou preocupação com seu futuro. Ela não pediu nada. Trabalhou o tempo todo sem rece­ber salário e cuidou do seu pai com o maior carinho. Quanto a você, soube que sempre foi egoísta e vingativo, desde criança. E não existe possibilidade de o dinheiro ir para você, o testamento está bem claro. Nenhuma outra criança. Se esta criança não for filha do seu irmão Edgar, não haverá outra criança, e nesse caso tudo vai para a Srta. Portilla. Tudo a que você tem direito são as 10 mil libras estipuladas no testamento.

— Vou contestar a validade desse testamento!

— Claro, você tem todo direito; porém, devo lhe informar que seu pai estava perfeitamente lúcido quando assinou este testamento, que foi elaborado com muita conversa e conside­ração. Suas chances de ganhar essa causa são mínimas, mas, se é assim que quer, é uma prerrogativa sua. No entanto, eu não deixei de lado a minha vida de aposentado para vir aqui ouvir suas besteiras.

O advogado se virou para Anahí, que continuava ali sentada em total silêncio.

— Srta. Portilla, aqui está uma cópia do testamento para você analisar. Por ter estudado de direito, tenho certeza de que vai compreender tudo, mas, caso precise de algum esclareci­mento, telefone para mim, e terei prazer em lhe ajudar. E, Sr. Dawes, aqui está sua cópia — ele disse, entregando-lhe o do­cumento sem dizer mais nada.

Rafael ficou furioso, mas lona teve de lembrar que não devia sentir pena dele.

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