— Precisamos nos encontrar.
Daniel resmungou, e Alfonso ouviu um barulho de lençol e um gemido de Pâmela ao fundo.
— Você sabe que horas são? — Daniel perguntou.
— Cinco e meia?
— E você acha razoável telefonar a esta hora? Numa manhã de domingo?
— Conheci nossa inquilina no anexo.
— E daí? — ele perguntou depois de alguns segundos de silêncio.
— Ela está grávida.
Mais alguns minutos de silêncio.
— Precisamos nos encontrar.
— Foi o que eu falei — disse Alfonso. — Onde e quando?
— Já que está acordado, vai ser na sua casa, e você nos serve um café da manhã. Dê-me meia hora. E ligue para Augusto. Na certa ele vai mandar você para o inferno.
Não foi para o inferno que Augusto o mandou. Ele foi um pouco mais grosseiro do que isso, mas, como sua sugestão era anatomicamente impossível, Alfonso riu, desligou o telefone e foi tomar uma chuveirada. Depois encheu o forno com iguarias congeladas para esquentar enquanto fazia o café. Pouco depois, os dois chegaram.
— Espero que tenha um bom motivo para nos tirar da cama — disse Augusto ao entrar, de bermuda e camiseta, com cara de sono, cabelos desgrenhados e barba por fazer.
Daniel veio logo atrás dele.
— É bom, sim. Oi, Daniel. Desculpe tirá-los da cama tão cedo. Querem café?
— Cedo demais. Isto é cheiro de croissant?
— Isso mesmo. Podem se sentar que já trago nosso café da manhã.
Ele encheu três canecas de café e as levou para a mesinha da sala de estar, onde os dois estavam acomodados.
— Então, vamos falar sobre a inquilina grávida — disse Augusto ao degustar um marzipan. — Será que ela vai criar problema?
— Talvez. — Alfonso pegou um pain mi chocolat e se recostou no sofá. — Aparentemente, ela está grávida do outro filho de Edgar Vásquez.
Ao ouvir isto, Daniel engasgou com o croissant e pousou sua caneca de café sobre a mesa.
— O quê?!
— Disse...
— Eu ouvi. Mas nem sabia que George tinha outro filho. Quais são as implicações?
— E como obrigá-la a sair se está grávida? — Augusto quis saber.
— Acho que não podemos e não há outro filho, ele já morreu. E ela não pode ficar lá, mas eu tenho um plano.
Depois de trocarem olhares os dois fitaram Alfonso com desconfiança.
— E qual é? — perguntou Daniel.
— Precisamos tirá-la do hotel e levá-la para algum lugar mais apropriado, um lugar onde o reboco do teto não ameace cair quando chover.
— O reboco do teto caiu? — Augusto indagou.
— Caiu no colchão. Foi assim que eu a conheci, quando estava roubando um colchão da caçamba do hotel para trocar com o dela.
— E foi quando você tentou impedi-la que ela lhe contou tudo isso? — Daniel perguntou.
— Não foi bem assim.
— E foi como?
Ao narrar a história, Augusto e Daniel riram muito, imaginando Alfonso correndo do segurança com um colchão, e ele perguntou o que eles teriam feito no seu lugar. Os dois deram de ombros.
— De qualquer modo, eu a levei para comer perto da praia foi aí que soube da história dela. Se a criança for filha do irmão morto, e ela me garante que é, então ela também será herdeira da propriedade.
— Tem certeza?
— Não, mas eu acho que sim. Procurei informações na internet, e o assunto é meio confuso. O termo "nascituro" parece ter várias conotações, como já concebido e ainda não nascido, a ser concebido e para nascer no futuro, mas existe uma expressão que diz en ventre sa mère. Que quer dizer no ventre da sua mãe. Porém, não fica muito claro, e sem ver o testamento não dá para saber se a criança teria direito à herança ou não. E ainda tem outro problema, o testamento sumiu. Precisamos arranjar-lhe um bom advogado.
— Precisamos?
— Sim, precisamos — ele falou logo. — Não podemos correr o risco. Já estou imaginando os jornais: "Mulher grávida morta em desabamento. Novos proprietários se eximem de responsabilidade".
— Não sei por que você não acordou nossos advogados às cinco da manhã, de um domingo, para participar desta reunião — Daniel ironizou.
Alfonso ficou envergonhado de admitir que só não fez isso porque não tinha o telefone deles.
— Precisamos nos aconselhar, é muito importante. Temos de tirá-la de lá.
— Eu concordo — disse Augusto. — Precisamos falar com nosso advogado antes de tirá-la de lá, para não ter de pagar pensão, além dos custos judiciais de uma luta que não é nossa. Na verdade, nada disso nos diz respeito. Poderíamos simplesmente despejá-la e deixar que a Assistência Social cuidasse dela.
— Como pode pensar em fazer isso, Augusto? Ela deve estar com sete meses de gravidez.
— Existem pessoas capacitadas para cuidar de casos assim. E esse bebê não nos diz respeito.
— Isso não foi impedimento para você antes.
— Aquilo foi diferente — disse Augusto.
— Foi mesmo? Só estou preocupado em arranjar um advogado para a moça, não estou falando em casamento...
— Vamos parar com isto, rapazes — Daniel os interrompeu. — Poncho tem razão, precisamos nos aconselhar e transferir a moça para um local seguro. A presença dela no hotel é irrelevante para a pretensão dela, já que nós compramos o imóvel.
— O problema é que ela não tem um contrato de aluguel, então não podemos despejá-la — Alfonso lembrou. — E se cair mais reboco sobre ela até a segunda-feira, não sei o que será de nós.
— E o que faremos?
— Tenho uma ideia.
— Por que será que não me sinto confiante? — perguntou Augusto com ironia, e Alfonso riu.
— Nem desconfio.
— Quer nos contar? — Daniel sugeriu.
— Antes disso vou elaborar melhor e discutir com ela.
— Não acha que deveria discutir isso conosco, primeiro — perguntou Augusto —, como seus sócios e coproprietários do imóvel?
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Lar da Paixão (ADP)
FanfictionSem dinheiro, grávida e sozinha, Anahí Puente queria se estabelecer e criar raízes. Afinal, recebera alguns golpes duros da vida. Quando Alfonso Herrera a encontrou morando na casa vazia que ele acabara de comprar, sabia que deveria ter pedido que e...