Capítulo Cinco - Parte 03

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Ele sorriu.

— De forma alguma. Vamos restaurar o antigo hotel e construir o resto. Vamos transformá-lo num day spa e acade­mia, portanto, ainda será um hotel de certa maneira. Teremos diversos tipos de atividades e tratamentos de beleza, salas de massagens com fisioterapia e aromaterapia além de reiki e shiastu. Teremos piscina, sauna a vapor e sauna seca. O lu­gar é muito grande, e está sendo subaproveitado. E não exis­tem espaços como este a quilômetros de distância.

— Preenchendo um nicho?

— Exatamente. Venha até o escritório e conheça o pai de Pâmela, Paulo Cauldwell, nosso empreiteiro. Vou lhe mostrar as plantas, e depois vamos fazer compras. Como foi com o advogado?

— Foi tudo bem. Obrigada por ter nos deixado a sós e também por me apresentar a ele. Não sei se conseguirei o que quero, mas pelo menos tentei tudo o que era possível.

— Foi um prazer poder ajudá-la — ele disse, e seu sorriso provocou sensações estranhas nela. Ou então era indigestão.

Mas Anahí apostava que aquele sorriso tinha um significado.

Daniel estava ao telefone quando eles entraram, e parecia estar falando com Pâmela.

— Não vamos demorar muito. Acho que praticamente ter­minamos aqui, não é mesmo, Paulo?

Paulo sinalizou com o polegar para cima, e ele continuou:

— Ele acabou de confirmar, portanto, sairei daqui em pouco tempo. Por quê?

Ele voltou a olhar para Anahí e parecia pensativo.

— Eu não sei. Poncho pretende mostrar as plantas a Anahí e depois vai sair com ela para fazer compras. Ela perdeu todas as roupas. — Daniel fez uma pausa, e eles ouviam a voz de Pâmela do outro lado da linha protestando. — Como você? Está bem, vou pedir que esperem.

Ele desligou o telefone e olhou para eles dois.

— Pâmela vai sair com as meninas. Ela disse que vai passar aqui, pois vai trazer umas roupas para você.

— Para mim? — Anahí indagou, espantada.

— São roupas de gestante. Ela disse que é bobagem gastar dinheiro com roupas que usará por tão pouco tempo quando ela tem várias, e do seu tamanho. Já vai trazê-las aqui.

Droga. Alfonso não sabia se isso daria certo. Anahí recusou logo de cara a oferta de Alice, mas talvez com Pâmela fosse diferente.

— Isso seria ótimo, obrigada. Seria bom pegar uma peça ou duas emprestadas enquanto não compro as minhas próprias.

Emprestadas e por pouco tempo. Ela parecia desconfiar de todos eles, e Alfonso não a culpava por isso.

Interessante. Isso revelava mais um pouco dessa mulher que começava a intrigá-lo cada vez mais...

Uns dez minutos depois, Anahí já tinha sido apresentada a Paulo, visto-os planos para o complexo de lazer e tinha um enorme saco de roupas que Pâmela havia deixado lá. Anahí não a conheceu, pois Pâmela não chegou a entrar no hotel.

Que pena. Era uma chance para avaliá-la melhor, mas Daniel tinha saído para pegar a sacola quando ela telefonou dizendo que estava no estacionamento, e agora ela e Alfonso estavam a caminho de casa para experimentar as roupas.

Pouco depois, sozinha no seu apartamento, ela colocou todas as roupas sobre a cama. Calças elegantes de linho, um vestido de jérsei, calças jeans desbotadas, shorts jeans, cami­setas, jardineiras e várias batas, tudo com cheiro de roupa guardada. Bonitinhas e estariam perfeitas assim que ela lavasse para tirar o cheiro de mofo. Ela analisou as roupas, uma a uma.

O vestido tinha um corte bonito, assim como as calças e as batas, que seriam bem úteis. Havia até um sutiã. Um sutiã especial, com o suporte adequado, no entanto era grande de­mais. Jamais serviria, mesmo assim ela experimentou e, para sua surpresa, deu certinho. Não só coube, mas era confortá­vel, bonito e até sensual. Incrível.

Ela experimentou uma calça preta de linho com um top, mais uma camisa de linho por cima e se olhou no espelho. Nossa. Parecia uma mulher respeitável. Não, mais do que isso! Parecia pronta para sair na rua novamente de cabeça erguida, e depois do que viveu nos últimos meses isso foi o bastante para emocioná-la.

— Não seja estúpida — ela resmungou e pegou o vestido de jérsei.

Era lindo. Macio, leve e elegante. Ela olhou para a etique­ta e se espantou. Não era de uma loja barata, com toda a certeza. Não admirava ela ter se sentido tão bem nele.

E ela estava tão bonita vestida nele.

Havia unia sandália baixinha e, quando ela as retirou da sacola, junto veio um bilhete:

"Espero que as roupas lhe sirvam. Sinto muito por tudo o que passou nas últimas semanas. Ligue para mim depois, e poderemos tomar um café e procurar mais algumas peças. Não desperdice dinheiro com esse tipo de roupa, tenho pi­lhas delas! Pâmela."

Anahí engoliu em seco e sentou-se na cama. Um café entre amigas. Ela não fazia um programa desses havia anos, tanto tempo que nem se lembrava mais da última vez.

Alfonso bateu na porta.

— Anahí? Tudo bem com você?

— Estou bem — ela disse, secando as lágrimas e se diri­gindo até a porta para abri-la. — São lindas. Foi muita gen­tileza de Pâmela. Ela me convidou para tomar um café. O que você acha? Devo ir? E o que devo usar? Eu não a conhe­ço, não com esta roupa aqui, claro, que é arrumada demais. Tem alguma idéia?

Ela se virou e viu que ele a fitava como se ela tivesse co­metido alguma gafe terrível, e sua confiança começou a ruir.

— Hum, hum, acho melhor vestir meu jeans...

— Não! Está ótima assim. Desculpe-me, fiquei surpreso ao vê-la vestida assim. Você está... — Ele parou de falar e ficou olhando para ela por um tempo que parecia não ter fim, depois desviou o olhar. — Preciso voltar para o hotel. Se você quiser uma carona para ir a casa de Pâmela, eu posso levá-la, mas precisa ser agora. E vista alguma coisa bem in­formal, um jeans ou algo assim. Pâmela não se arruma mui­to quando tem de cuidar das crianças.

E Alfonso saiu do quarto de costas, como se o quarto estives­se em chamas. Por quê?

Ela se virou para se olhar no espelho e aí ficou claro para ela. O vestido tinha um transpasse formando um decote em V, e com o novo sutiã o peito dela ficava mais bonito. Será que estava sensual?

Nossa. Ela tirou o vestido com dedos trêmulos, experimentou a calça jeans com um top e achou que assim estava melhor. Agora só tinha de abrir a porta, procurar por Alfonso e fingir que nada tinha acontecido.

Não que tivesse entendido o que tinha acontecido, mas ela ficou abalada mesmo assim e, fosse o que fosse, não preten­dia sentir aquilo de novo.

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