Capítulo Nove - Parte 01

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Aquele fim de semana foi uma amostra das semanas se­guintes. Durante o dia, Alfonso trabalhava em casa ou no hotel, e Anahí se ocupava com a casa, fazendo jantar, cuidando da roupa e, quando sobrava tempo, ela tomava um chá sentada no banco que ele colocou em frente a horta para ver os brotos de feijão crescendo nos bambus e pegar sol no rosto.

Com freqüência ele a encontrava lá, e o som dos seus pas­sos eram abafados pelo barulho da água da cascata que caía do muro ao lado e corria para debaixo dos pés dela.

Às vezes ele lhe trazia uma bebida, às vezes chegava com o pessoal e faziam churrasco, ou iam até a praia brincar com as crianças, e outras vezes ele a levava até Daniel e Pâmela, e passavam horas brincando na piscina.

Ela se tornou grande amiga de Alice e de Pâmela, que lhe davam conselhos sobre bebês, alguns úteis outros nem tanto. E vários utensílios para completar o que Alfonso já tinha comprado. Anahí não sabia se elas tinham percebido a mudan­ça no seu relacionamento com Alfonso, mas não pretendia falar nada, mesmo achando que Alice já desconfiasse.

— Você é boa para ele. — Alice disse um dia. — Eu mal posso acreditar que ele tenha mudado tanto em tão pouco tempo. Está tão à vontade...

E nada mais disse. Até aquele momento ela estava bem feliz com a intimidade que compartilhavam e torcia para continuar assim. Foi um verão maravilhoso, e ela se sentia em paz. Até o dia em que foi ao médico, e ele lhe disse que sua pressão arterial estava alta.

— Você está preocupada com alguma coisa?

Conscientemente não, ela pensou, mas o seu futuro era incerto, e isso podia estar deixando-a preocupada. Ainda ha­via a questão do teste de DNA, mas ela estava evitando pen­sar nisso.

— Talvez — Anahí afirmou. — Mas nada importante.

— Você precisa descansar.

Ela foi avisada, e não podia mais trabalhar na casa. Alfonso passou a ficar mais em casa, e ela ficava a maior parte do dia deitada no banco do jardim, brincando com a água da cascata e sentindo-se culpada por não estar fazendo nada à espera do seu bebê.

Então sua filha chegou, duas semanas depois de Alfonso ter montado o berço dela no outro quarto, encerrando seu idílio amoroso. Eram quatro horas da manhã, e o sol começava a surgir no horizonte quando Anahí sentiu a primeira contração.

Ela saiu da cama em silêncio e foi para o andar de baixo. Eles passaram a dormir no quarto dele por causa do telefone e do despertador junto à cama, mas ela ainda usava seu anti­go quarto para descansar durante o dia. Anahí foi para lá, sen­tou-se na cama, cercou-se de travesseiros e esperou o dia amanhecer.

Às cinco da manhã ela sentia um desconforto. As seis, ela andava de um lado para outro. As sete estava no carro indo para o hospital, triste por não poder dar à luz em casa.

— Você está bem?

— Estou bem — ela disse.

Bem?

Foi o dia mais aterrorizante da sua vida. Alfonso nunca chegou perto de uma mulher em trabalho de parto e não sa­bia o que fazer.

— Basta que você segure a mão dela e a lembre de respi­rar — disse Alice ao telefone quando ele entrou em pânico ao ser obrigado a sair da sala para Anahí ser examinada. — Quer que eu fique no seu lugar?

— Pode deixar. Ligarei mais tarde.

— Pode voltar, Alfonso. — disse a parteira, então ele respi­rou fundo e voltou ao quarto dela.

— Ela está com uma dilatação de sete centímetros — a parteira disse e logo completou: — Quando estiver com 10 centímetros, ela já poderá empurrar.

— Está bem, obrigado. — E ele se perguntou por que não tinha se informado sobre o parto.

Será que inconscientemente estava renegando o bebê, porque era a criança de outro homem? Um homem que Alfonso gostaria de matar, se já não estivesse morto.

Alfonso controlou sua emoção, depois segurou a mão dela, apertou e aos pouco o corpo de Anahí foi relaxando, a ela dei­xou o bebê nascer.

E quando ela nasceu, quando aquela coisinha ruidosa e escorregadia que era sua filha foi colocada sobre seu peito, coração com coração, e ele viu as mãos de Anahí a abraçarem, ele sentiu tamanho nó na garganta que quase chorou.

— Menina esperta — ele disse ao se inclinar para lhe bei­jar o rosto, espantado com o sangue e a violência do parto, e saiu cambaleando de pensar que sua irmã tinha passado por isso, e pretendia voltar a fazê-lo, ao que tudo indicava, que Pâmela tinha passado por isso, sua própria mãe, e todas as mães. — Você está bem?

Ela riu, meio nervosa.

— Estou bem. Diga "oi" para Elena.

— Elena? — Ele sorriu. — Oi, Elena, que prazer conhecê-la — ele disse, depois tocou sua mãozinha e ela imediatamente o agarrou com uma força surpreendente, e ele teve medo de machucá-la de tão pequena.

Logo o mandaram sair da sala de parto, então ele ligou para a irmã.

— Alice, ela já nasceu. Chama-se Elena — ele disse com voz embargada, e Alice começou a gritar, chamando Augusto, que veio ao telefone para lhe dar os parabéns. — Parabéns para mim? Mas o mérito é todo de Anahí. Elena não tem nada a ver comigo.

Mesmo sendo a pura verdade, isso lhe bateu fundo. De fato Elena não tinha nada a ver com ele, por mais mágica, linda e perfeita que fosse. Ela era de Anahí, e ele não podia se esquecer disso.

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