— Queria algo simples, não havia muito aqui quando comprei o terreno, nem arbustos, nem árvores, exceto por umas plantas antigas ladeando o caminho e milhares de amoreiras; e o muro de arrimo nos fundos do terreno estava caindo no precipício, então a primeira coisa que fizemos foi limpar o terreno e em seguida cercá-lo todo. O muro de arrimo foi todo remodelado, então ele ficou nivelado com o gramado. Eu pretendia plantar uma cerca viva lá embaixo, no outono, para ter mais privacidade, mas Alice não achou necessário, ela acha melhor outra planta. Há um caminho para a praia, você já viu?
— Eu tentei passar, mas estava trancado.
— Precisa ficar trancado, pois a praia é pública. Não quero ninguém cortando caminho por aqui.
— Não, nem pensar.
— Estou sempre pensando na minha segurança. Valorizo demais a minha privacidade; acha que estou errado?
— Não, claro que não. Só não estou acostumada com coisas do tipo segurança e privacidade, nunca tive um lugar só meu, então me soa estranho.
— E quando estava na universidade?
— Dividia um quarto, portanto não existia privacidade. Depois fiquei com Edgar, em albergues ou dormindo na praia. Não se tem privacidade nesses lugares.
— Imagino que não.
Ele parecia que não imaginava, e ela achou que ele devia ter tido seu próprio quarto em uma mansão a vida toda, e nunca precisou dividir seu espaço tom ninguém.
E agora tinha essa casa enorme só para ele. Por quê?
— Por que construiu esta casa tão grande?
— Não sei. Gostei do terreno. Há tempos eu queria construir uma casa como esta, e a oportunidade surgiu. E tinha de pensar na valorização dela, também, pois não vou ficar aqui a vida inteira.
— E por que não?
— Bem, porque é uma casa para uma família.
— Eu sei. Então por que a construiu? Só para você? Foi mesmo só como investimento, e como showroom? Foi o que você disse, mas não faz sentido.
— E precisa fazer?
— Não. Não precisa fazer sentido. Nada no mundo faz sentido.
Ele sorriu e voltou a falar sobre o jardim:
— Mandei replantar o gramado inteiro depois de colocar a instalação do aquecimento no subsolo, e agora quero algumas plantas nas laterais. Nada que atrapalhe a vista para o mar.
— Concordo com você. Imagino que não queira nada muito colorido. Talvez apenas algumas flores brancas, se tanto.
— Alice deu a mesma sugestão. Ela fez uns croquis, quer vê-los?
— Adoraria. — Mesmo que não simpatizasse com a moça.
Os croquis eram bem interessantes, mas era o escritório dele que a fascinava.
Era bem desarrumado e havia caixas para todo lado. Caixas de livros, documentos, todo tipo de coisa.
— Desculpe-me pela bagunça — ele disse ao entrar. — Embarquei todas as minhas coisas que estavam em Nova York, e ainda não tive tempo de arrumar.
Ele tirou uma caixa de cima de uma cadeira para que ela pudesse sentar e, quando a colocou no chão, uma foto voou e caiu sobre seu pé. Ela se abaixou e a entregou a ele, e viu como ficou tenso.
— Quem é Catherine?
— Não é ninguém — ele disse.
E o coração de Anahí ficou apertado por ele, sozinho em sua casa grande, sem um futuro à vista, rejeitado por uma moça chamada Catherine, de cabelos louros até a cintura.
Que mulher tola. Será que ela sabia o que teve e perdeu? Ou o que ele perdera por causa dela?
— Então, vamos ver esses croquis — ela disse, fingindo que estava interessada em outra coisa que não fosse aquele olhar triste e o corpo cheiroso.
Na manhã seguinte, a campainha tocou logo depois que Alfonso saiu para o hotel para mais uma reunião com Paulo Cauldwell.
Anahí estava se acostumando aos afazeres da casa, tentando descobrir como funcionava o aspirador e desistindo, quando alguém bateu à porta. Que estranho. Ela achou que, se alguém chegasse, avisaria pelo interfone do portão, mas ela ouviu a campainha da porta, e a única vez que tinha ouvido antes fora no domingo. E tinha sido Alice.
Por isso ela não se surpreendeu quando abriu a porta e viu uma mulher jovem, de longos cabelos escuros e ondulados, com ar preocupado. Mesmo que só a tivesse visto de costas, Anahí a teria reconhecido imediatamente, e o carro que estava parado ali era o mesmo que vira no domingo. Ela não se sentia pronta para enfrentar isso, mas então percebeu que nunca estaria pronta, então era melhor enfrentar logo esta situação.
Depois de um instante de silêncio, Anahí resolveu falar:
— Olá, Alice, meu nome é Anahí.
Alice levou alguns segundos para responder:
— Podemos ser civilizadas ou você quer que eu vá embora?
— Bem, isso não depende de mim, não é mesmo? — ela disse educadamente. — Esta é a casa de Poncho, e você veio trabalhar no jardim. Tem mais direito de estar aqui do que eu.
— Na verdade, eu vim falar com você.
— Então, é melhor entrar — ela disse, e depois que Alice entrou, fechou a porta. — Aceita um café?
— Não, obrigada. Eu lhe devo minhas desculpas. Não devia ter dito aquilo sem conhecê-la. Conheço bem meu marido e meu irmão, e eles são bons demais. São incapazes de ver o perigo diante de si e são muito vulneráveis quando o assunto é mulher. Sinto muito se você ouviu aquilo tudo. Não era pessoal.
— Nem poderia ser, pois você não me conhece — Anahí foi bem franca. — Não fiquei perturbada só com o que você disse, mas também pelo fato de Alfonso ter omitido a ligação com o hotel. Por isso, tudo que ele disse parecia ser mentira.
— Posso imaginar. Mas ele não iria mentir para você, Anahí. Ele não é assim. Ele pode lhe dizer tudo, pode até ser irritantemente teimoso, mas não mente nem trapaceia. Sinto muito se a magoei, de verdade, mas eu estava falando sério e vou repetir olhando para você — ela continuou,falando baixo, mas firme: — Não o magoe. Não engane, não trapaceie e não se aproveite dele, ou vai se ver comigo. Ele não merece isso.
Bem, ela foi bastante clara, pensou Anahí, e de certa forma ela admirava Alice por ter tido a coragem de dizer isso olhando-a nos olhos.
— É justo. Mas posso lhe assegurar que não tenho nenhuma intenção de enganá-lo nem de roubá-lo. Não precisa ter receio de mim.
— Ótimo. Eu adoro o meu irmão, e ele já sofreu demais. Não quero que ele passe por isso de novo.
— Refere-se à Catherine?
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Lar da Paixão (ADP)
FanficSem dinheiro, grávida e sozinha, Anahí Puente queria se estabelecer e criar raízes. Afinal, recebera alguns golpes duros da vida. Quando Alfonso Herrera a encontrou morando na casa vazia que ele acabara de comprar, sabia que deveria ter pedido que e...