Capítulo Oito - Parte 02

1.1K 69 0
                                    



No dia seguinte eles foram fazer compras para o bebê, pois era fim de semana e ele não trabalhava. Anahí achava cedo demais para comprar roupas de bebê, aos sete meses, mas ele insistiu.

— Nunca se sabe — disse Alfonso.

Então, foram até as lojas apenas para olhar. Só que acaba­ram comprando. Compraram de tudo. Um enorme carrinho de bebê, pois ela sempre quis ter um para passear pelas lojas e guardar as compras na parte de baixo; um berço para o quarto, outro carrinho para criança já maior, igual ao da filha de Alice, Carolina, e algumas roupas. Não para o bebê, porque Pâmela e Alice tinham muita roupa para emprestar, mas roupa de bai­xo para ela. Sutiãs iguais ao que Pâmela lhe emprestou e algumas calcinhas novas. Calcinhas sensuais para provocar Alfonso, ela pensou e corou de vergonha.

— Se está pensando o mesmo que eu, controle-se — ele sussurrou ao seu ouvido, e ela corou ainda mais.

— Pare com isso — ela falou baixinho, e os dois riram muito, e tiveram de sair da loja rapidamente.

Foram então para outra loja, e ela saiu de lá toda feliz com uma sacola cheia de lindas calcinhas embrulhadas em papel de seda. Anahí reclamou que era caro, mas Alfonso riu e lhe disse que era para ele. O dia foi maravilhoso. Almoçaram peixe com fritas na rua, passearam pela praia e admiraram enormes esculturas de um artista da região, feitas de conchas de moluscos.

— Acho lindo este trabalho.

— Também gosto. A maioria das pessoas detesta, acha que interfere na vista da praia, mas eu acho lindo.

Eles caminharam bastante, depois voltaram para casa. Para casa... Que engraçado, com que rapidez ela se acos­tumou a isso, pensou. As coisas do bebê só seriam entregues na semana seguinte, mas, ao saírem do carro, ele lhe entre­gou a sacola das calcinhas com um brilho nos olhos e foi o suficiente para ficarem excitados.

À noite, ele a levou para jantar fora, no mesmo restauran­te chinês onde compraram comida no dia em que se conhe­ceram, e depois se sentaram no banco e ficaram de mãos dadas, e ela ficou espantada de saber que isso tinha sido ape­nas uma semana antes. Parecia uma eternidade.

No dia seguinte Alfonso convidou a turma para um churrasco, e os dois tiveram de sair correndo para comprar uma churras­queira e montá-la antes de os convidados chegarem. E Anahí fez compras e cozinhou para todos eles. Que eram muitos.

Anahi tentou fazer uma contagem de cabeças, mas acabou se perdendo porque as crianças não paravam quietas, corren­do de um lado para o outro. Mas, para começar, tinha Alice e Augusto, claro, Pâmela e Daniel e todos os filhos. Tinha tam­bém Paulo Cauldwell, pai de Pâmela, que morava por per­to, a mãe de Daniel, Liz, que morava em um apartamento atrás da casa de Daniel e Pâmela. E ainda Agatha e André Herrera, os pais de Alice e Alfonso, que ela não conhecia. Dez adultos e sete crianças cujas idades iam dos 9 meses até 9 anos. E por ela sentir certa vergonha de ser empregada de Alfonso e também sua amante, há muito pouco tempo, e não fazer parte do grupo, ela se enfurnou na cozinha preparando a comida, enquanto as avós olhavam as crianças, os homens cuidavam do churrasco e serviam as bebidas, e Alice mos­trava o jardim interno para Pâmela.

Parecia estranho que apenas uma semana atrás ela estives­se encolhida em uma porta, na rua, fugindo de uma tempes­tade, e agora havia sol e tudo tinha mudado. Mas talvez não tivesse. Ela sentia que pertencia a ele, mas agora ela estava ali na cozinha, mais sozinha do que nunca, mesmo com a casa cheia de gente.

Não que Alice e Pâmela não fossem agradáveis, mas elas não sabiam que as coisas com Alfonso agora tinham mu­dado. No entanto, ela não sabia se tinha mudado de fato. Estava com a estranha sensação de não pertencer àquele gru­po, por isso ficou recolhida.

Então Alice e Pâmela vieram para a cozinha e começa­ram a ajudar sem ela pedir, e Pâmela se mostrou entusias­mada com a sua pequena horta. E Anahí se perguntou se não estava sendo boba. Provavelmente porque, quando todos estavam no jardim, depois de comerem, Augusto tinha se sentado perto dela para puxar conversa:

— Soube que você já viajou bastante. Conte-me por onde andou.

E finalmente ela se sentiu aceita. Anahí contou que conheceu Peru, África, Papua Nova Gui­né e Bornéu, e ele lhe falou sobre Iraque, Kosovo e Indoné­sia. Augusto lhe revelou que falava fluentemente malaio, o que lhe deu um enorme prazer, e ela tentou falar um pouco com ele. Anahí estava um pouco enferrujada, mas se divertiu ten­tando falar com ele até que notou que Alice a observava.

Droga, espero que ela não ache que estou querendo lhe roubar seu marido! Se ao menos Alfonso viesse e lhe desse um abraço, já estaria assumindo alguma coisa diante de todos, mas ele parecia estar evitando-a, e por perto só havia Liz, então ela se virou e começou a lhe perguntar sobre suas pinturas.

— Ah, é apenas uma diversão — ela deu pouca importân­cia, e Augusto pulou.

— Que mentira! — ele protestou. — Anahí, você viu a marina que está no corredor? O tríptico que está na sala de estar?

— São seus? — Anahí se espantou. — Nossa. Quem dera eu poder me divertir assim!

— Eu diria que você tem muita facilidade com línguas — Augusto falou em urdu, e ela sorriu e respondeu em suaili que ele era um exibido, o que provocou uma gargalhada.

— Que diabos vocês dois estão falando? — Alice per­guntou, perplexa.

Cuidado. Não irrite o inimigo, Anahí pensou, ainda desconfiada de Alice tê-la aceito totalmente, mas Augusto sorriu para a esposa.

— Ela é uma verdadeira lingüista — ele afirmou. — E bem fluente. E acabou de me chamar de exibido.

— Resultado de uma infância itinerante — Anahí explicou. — Ou eu aprendia o idioma ou ficaria sem falar com ninguém. Não foi tão difícil assim, sério.

— Bem, você está melhor do que eu, que tive dificuldades em aprender francês na escola — Alice admitiu, sorrindo. — Alguém quer tomar um chá?

— Pode deixar que eu faço. — Anahí disse, já querendo se levantar, mas Alice a impediu.

— De jeito nenhum. Você fica para conversar sobre polí­tica internacional e assuntos do gênero com Augusto, porque entende mais disso do que eu. Mamãe e eu faremos o chá, não é mesmo, mãe?

A sra. Herrera seguiu a filha enquanto Anahí se virava para Augusto.

— Política internacional? Sério?

— Sobre o que prefere conversar? — ele perguntou, rindo. E, como sempre foi muito curiosa, Anahí perguntou, baixinho:

— Quem foi Cecília?

Anahí logo se arrependeu de não ter controlado sua língua. Augusto ficou sério, deu um suspiro e olhou para o mar.

— Minha primeira mulher. Eu me casei com ela para sal­vá-la de uma situação insustentável, e ela morreu num aci­dente estúpido. Estava grávida, e eu terminei ficando com Carolina. Isso foi quando reencontrei Alice, depois de sete anos sem nos vermos.

— Mas você a amava há muito tempo.

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora