Infectado

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Aeroporto de Cheyenne, Wyoming.

Robert havia acabado de embarcar em um avião rumo a Oklahoma, onde participaria de uma reunião importante envolvendo seus assuntos empresariais. Usava um terno preto para aquela ocasião, sapatos bem polidos e seus cabelos um tanto grisalhos estavam penteados para trás.
Tudo de acordo com o esperado, se não fosse a dor que tomava conta de seu calcanhar direito, onde havia sido  mordido por um cachorro próximo a entrada do aeroporto. Não estava sangrando, os dentes do animal apenas arranharam a superfície de sua pele.
A dor o incomodava e deixava-o preocupado, talvez fosse necessário uma assistência médica para saber se havia contraído alguma doença daquele animal, ou se a ferida corria o risco de infeccionar.

Não, o avião já esta se movimentando, talvez a dor passe logo.

Pensou Robert, fitando a mulher sentada a sua direita, era loira e esbanjava elegância
Logo a frente, a aeromoça explicava os procedimentos padrões dos vôos e as medidas que deveriam ser tomadas caso algo não saísse como planejado.
O que era bem raro, explicou ela, dando um belo sorriso para passar tranquilidade e confiança aos diversos passageiros.
Robert sentiu um calafrio denso percorrer todo o seu corpo, desde a ponta do dedão de seu pé até sua nuca.
Olhou para a pequena janela arredondada e o avião não tocava mais o chão, seja lá o que estivesse sentindo teria que suportar até a chegada em Oklahoma.
Passado alguns minutos, Robert sentiu uma coceira insuportável em sua cabeça, seguida de um calor infernal.

— O senhor esta bem? — perguntou a loira que estava sentada ao seu lado.
— Sinceramente, eu não sei — ele levou as mãos até a cabeça e começou a coçar, bagunçando o cabelo que havia levado vários minutos para arrumar.
— Quer que eu chame alguém?
— Não precisa.
— Mas o senhor está suando.
— Vai passar.
— Primeira vez que voa?
— Não — a coceira ficou mais intensa e o atrito entre seus dedos e o couro cabeludo estava começando a causar ardência.

Foi então que Robert parou o que estava fazendo e lentamente trouxe a mão até seu campo de visão, havia vários fios de cabelo entre seus dedos. Novamente levou a mão ate a cabeça e acariciou os cabelos, sentiu que estavam se soltando do couro cabeludo.

— Meu Deus — falou, levantando-se do seu assento e andando pelo corredor, indo em direção a um dos banheiros do luxuoso avião. Manteve uma das mãos na cabeça e seu semblante de preocupação chamou a atenção dos demais passageiros, que também notaram seu rosto encharcado de suor.

A cada passo que dava, sentia a ferida em sua perna doer intensamente, a ponto de faze-lo mancar. Abriu rápido a porta do banheiro a sua direita e adentrou, fechou e parou frente ao grande espelho do local. Abriu a torneira da pia e molhou as maos, em seguida as passou no rosto.
Começou a encarar o próprio reflexo e passou novamente as mãos na cabeça, espantou-se ao ver o chumaço de cabelo que se desprendeu.
Continuou a repetir o ato e a pia foi tomada pelos fios do cabelo de Robert.

— O que está acontecendo comigo?

Sentiu seus lábios arderem, como se tivesse acabado de morder grandes porções de pimenta, tentou abrir a boca e se apavorou ao ver que não conseguia, parecia que seus lábios pesavam mais que chumbo.
Levou a mão até a boca e posicionou dois dedos dentro dela, mexeu nos lábios para ver o que havia de errado e eles ficaram avermelhados, em seguida encheram-se de pequenos buracos, por onde escorreu um liquido vermelho.

Aquilo causou uma dor insuportável em Robert. Ele soltou um grunhido em meio ao desespero, precisava urgentemente de ajuda, virou-se para a porta, tapando a boca com a mão na tentativa de evitar o sangramento mas não adiantou muito pois sangue estava esvaindo entre seus dedos e molhando o chão.
Deu passos apressados indo em direção a porta e sentiu algo tocar sua mão ensanguentada, a retirou lentamente da boca e a afastou do rosto. Pode ver nitidamente que a carne de seus lábios agora estavam na palma de sua mão. Não conseguia acreditar no que via, era perturbador de mais para uma pessoa.

Olhou para o espelho e viu que seu rosto estava deformado, não possuía lábios, o que fazia seus dentes ficarem a mostra, sujos com seu próprio sangue. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, uma dor aguda percorreu seu cérebro, fazendo Robert cair no chão, desmaiado.
Trinta segundos depois ele abriu os olhos, que agora eram brancos como a neve, seu olhar estava perdido no nada e ele movimentou o maxilar repetidas vezes, como se estivesse comendo algo. Levantou-se do chão e foi em direção a porta, andando como um moribundo enquanto dava pequenos urros e grunhidos.

Parou frente a porta e levou a mão até a maçaneta, a girou varias vezes até conseguir abrir. Saiu de dentro do banheiro e andou lentamente pelo corredor.
Próximo a Robert, um casal discutia em voz alta, falando sobre divisões de bens e sobe a papelada do divórcio. A mulher, que estava sentada próxima ao corredor, gritava algo sobre a culpa da relação acabar não ser dela, já o homem rebatia com o mesmo argumento.

Antes que ela pudesse falar qualquer outra coisa, Robert voou em seu pescoço e lhe deu uma mordida, arrancando uma fatia de carne quente da mulher, que deu um grito de dor, atraindo a atenção dos demais passageiros. Robert usou suas mãos para puxar a mulher, que tombou e caiu no chão, em frações de segundos ele se debruçou sobre ela e abocanhou seu nariz.
Todos os que presenciaram aquela cena ficaram paralisados, assustados e sem entender o que havia levado aquele sujeito a fazer tal coisa. Mal sabiam eles que seriam as próximas vitimas.

Qualquer erro fique a vontade para o indicar.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora