O Morto, O Salvador e As Esquecidas

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— Não vai esperar a chuva passar?
— Não posso, minha mulher está sozinha nisso tudo. Elá é forte mas esses demônios lá fora são mais — Patrick encarou Ammy — cuide bem dele para mim — disse, vendo a menina acariciar o cachorro.
— Eu vou — ela respondeu, meio tímida.
— Espero que você encontre sua mulher, boa sorte — disse Pitt.
— Você não vem?
— Não, vou ficar aqui.
— O que??? — Craig ficou surpreso.
— Ouviu bem, eu vou ficar aqui e vou vigiar você. Achou mesmo que eu deixaria essas meninas ficarem sozinhas com você?

— Emily, vai deixar ela ficar aqui? —  perguntou Craig rezando para a resposta ser não
— Sim, gostei dela e quanto mais gente ajudando melhor.
— Você tem certeza disso? — Patrick estava confuso.
— Tenho, eu e essas garotas temos muita coisa em comum, fomos abandonadas pelos nosso pais e eu prefiro ficar aqui do que voltar para a minha casa.
— Isso é apenas uma desculpa idiota para poder me infernizar — Craig estava indignado com a escolha de Pitt. Com ela ali o clima ficaria tenso toda vez que um cruzasse o caminho do outro.
— Não quero te infernizar, quero te matar mesmo. Vou apenas esperar você cometer um erro sequer e vou usar isso para poder explodir sua cabeça.
— Estou morrendo de medo — Craig fez uma cara sarcástica enquanto balançava as mãos.

***

— Tome cuidado, eu não confio naquele homem — disse Patrick.
— Eu vou — Pitt estendeu a mão, ambos estavam parados no corredor perto as portas principais do orfanato.
— Nôs vemos algum dia?
— Eu espero que não — ela riu.
— Digo o mesmo, você parece um daqueles pingentes de macumba que trás mal sorte. Deve ser culpa desse seu lance diabólico.
— Qualquer dia eu visito o seu bebê.
— Fique longe do meu bebê — Ambos riram.

Aliás, qual é o nome dele?
— Ainda não escolhemos, vou deixar para a última hora.
— É menino?
— Sim.
— Coloque o nome dele de Craig.
— Nem fodendo — ele apertou a mão da adolescente — se tudo isso acabar eu prometo te visitar no hospício.
— Nada como a casa da gente, não é mesmo?

— Cuide bem das meninas — Patrick ficou serio.
— Eu vou.
— Não pensei que você fosse sentimental.
— E eu não sou, mas sei lá, elas me fazem lembrar de mim mesma. Esse lance de não ter recebido o amor dos pais é algo muito marcante, você não entende.

— Não procure brigas desnecessárias.
— Não enche.
— É serio, mas fique sempre perto da sua arma.
— Não precisa se preocupar, aqui tem vários quartos, garanto que raramente irei esbarrar com aquele filho da... — Pitt foi interrompida por Patrick que usou a mão direita para tapar sua boca.
— Meu Deus, você fala muitos palavrões — ele riu.

Ambos terminaram de se despedir e Pitt pediu a Patrick que levasse com ele todas as sacolas de mantimentos que estavam no carro, ela não precisaria mais daquilo.
Patrick ficou alguns minutos imóvel dentro do veículo vendo a chuva molhar o asfalto, mas seu momento de silêncio e reflexão foi interrompido quando um infectado começou a bater em uma das janelas do carro, o assustando.

Ele  ligou o veículo e seguiu viagem pela estrada encharcada, por um lado estava ansioso para encontrar sua esposa e por outro com medo de algo ter acontecido com ela.

***

Obrigado por ficar — Emily agradeceu, enquanto ela e Pitt andavam pelo corredor onde ficavam os quartos.
— Eu não tinha muita escolha — ela sorriu — ficarei melhor aqui com vocês duas do que com a minha família.
— O seu amigo também me pareceu ser uma boa pessoa.
— Ele é, eu acho. Até que vou sentir saudades.

Elas pararam de andar.

— No final do próximo corredor, virando a esquerda tem uma escada que leva até o segundo andar, é lá que ficam os banheiros, caso precise.
— Você está aqui a muito tempo? Ou foi transferida?
— Eu cresci aqui e só o que sei é que me encontraram em uma lata de lixo.
— Mas você tem a Ammy, vocês me parecem se dar muito bem.
— E nos damos, mas diferente de mim ela chegou a um ano.
— Você matou mesmo dois infectados?
— Sim.
— E não sentiu medo?
— Não, eu não tenho medo de nada.
— Todo mundo tem medo de alguma coisa.
— Eu não, e também não sinto dor haha.
— Aham sei, tem algo que você sinta?
— Fome, quer comer alguma coisa?

Ammy continuava no refeitório, brincando com It. Antes de deixar o local, Patrick a fez prometer que não mudaria o nome do cachorro.
Craig também estava ali, olhando fixamente para a menina enquanto sua mente vagava no passado.

— Ammy — Emily chamou sua amiga, enquanto descia os degraus. Pitt vinha logo atrás.
— O que?
— Quer comer algo?
— Não, mas o it com certeza quer.
— Eu quero — disse Craig.
— Coma o que roubou da gente — Pitt esfaqueou as costas do homem com o olhar.
— Eu não roubei de vocês. Consegui aquela comida no mercado e pelo que eu saiba vocês não eram os donos dele.

— O que fez com aquela comida?
— Ele nos deu — Emily respondeu no lugar de Craig.
— Ao invés de ficar me enchendo o saco, por que não me ajuda a vasculhar os estabelecimentos aqui perto?
— Você quis dizer saquear?
— Sim, se prefere usar esse termo. Você é uma boca a mais para alimentar, a comida vai acabar alguma hora então é melhor encher a dispensa agora, antes que alguém esvazie os mercados, padarias e todo o resto.

— E pretende fazer isso hoje?
— Não com essa chuva, quem sabe amanha bem cedo. Nós temos armas então vai ser fácil caso alguma daquelas coisas nos ataque.
— Se isso for uma armadilha para me matar eu juro que você morre antes.
— Chegou tarde bonitinha, eu já estou morto — ele sorriu — e relaxe, vamos nos tornar grandes amigos, grandes amigos.
— Claro que vamos, no dia em que eu ver um dinossauro andando de patins.

***

Algumas horas se passaram desde que Patrick deixou o orfanato. Seu coração agora batia aceleradamente, ele havia acabado de chegar na rua de sua casa. Haviam alguns mortos perambulando pelas calçadas e logo foram atraídos pelo som do automóvel.
Ele parou o carro e desceu rápido, empunhando a glock, mas não deu nenhum disparo para não atrair outras criaturas.

Correu até a porta de sua casa e esta não estava trancada, ele entrou e a fechou, enquanto os infectados rastejavam indo em sua direção.
— Alexis! — gritou, fitando toda a sala vazia.
Ao chegar perto a escada avistou um rastro de sangue seco que seguia para o segundo andar.
— Não não não! — ele entrou em desespero e começou a subir degrau por degrau, nunca havia sentido tanto medo em sua vida.

Ao chegar no corredor ele viu algo que o fez cair de joelhos.
— Não, por favor, não — clamou, olhando para a entrada do pequeno banheiro que havia no segundo andar. A porta estava aberta e dali ele pode ver duas mãos esticadas para fora, embaixo delas havia mais sangue.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora