O Hospital

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Jezabel andava de um lado para o outro com uma frigideira em mãos.
— Será que eu o matei? — perguntou, fitando Patrick desacordado sobre uma das camas.
— Não seja dramática, ele apenas desmaiou — Dick tentou acalmar a mulher.
— No mínino pode vir a ter convulsões — disse Pitt, dando um sorriso.

Jezabel era uma das cozinheiras do hospital, possuía cabelos negros na altura do pescoço, usava óculos arredondados e estava um pouco acima do peso.
Dick trabalhava como eletricista e estava nos arredores do hospital quando as pessoas começaram a enlouquecer. Ele não possuía cabelos e estava com a barba bem feita.
Pitt era a mais jovem de todos presentes, adolescente problemática, tinha o cabelo curto, negro com mechas rosadas. Seus lábios estavam tingidos por um batom preto e em seu pescoço havia uma gargantilha.

O quarto em que se encontravam era um dos maiores do hospital, haviam seis camas e vários armários, assim como equipamentos médicos. As grandes janelas estavam cobertas por cortinas brancas e no canto de cada parede havia um jarro com diferentes tipos de plantas.
Patrick enfim acordou e por mais uma vez percebeu que estava deitado sobre algo solido, a diferença é que agora sua cabeça doía.
Só o que via era o teto branco do quarto, até que três figuras totalmente diferentes entraram em seu campo de visão e começaram a encara-lo.

— Será que ele vai ter seqüelas? — perguntou Jezabel.
— Quem são vocês? — Patrick se sentou, olhando as três pessoas que o encaravam.
— A pergunta é: quem é você? — retrucou Dick, cruzando os braços.
— Eu não quero ser irritante — pronunciou Pitt — mas não seria melhor parar com a apresentação idiota e começar a pensar em uma maneira de sair desse maldito hospital?
— Que seja — Dick andou até as janelas.
— Peço desculpas por te bater — pediu Jezabel.
— Então foi você, por que fez aquilo?
— Pensei que fosse um daqueles olhos cinzentos.
— Olhos cinzentos?
— Sim, os infectados lá fora, os que comem carne humana.

— Aquelas pessoas estão infectadas com o que?
— Não sabemos — quem respondeu foi Pitt.
— Só o que sabemos é que eles querem comer a carne de qualquer ser vivo que vejam pela frente e se você for mordido, irá virar um deles.
— Como isso foi acontecer?
— Não sei bem, mas foram as vitimas daquele acidente com a aeronave que fizeram isso com esse hospital. As ambulâncias começaram a chegar em massa e então os paramédicos, funcionários e civis foram atacados pelas vitimas que estavam fora de controle. Mas não parou por ai, segundos depois as pessoas atacadas também começaram a atacar outros.
— Espera, está dizendo que tem mais dessas coisas dentro do hospital?
— Que ingênuo — disse Dick — por que não vem aqui e veja por sí mesmo

Patrick levantou-se da cama e andou até uma das janelas, trocou um olhar nada amigável com Dick e em seguida arredou uma das cortinas brancas. Teve uma visão ampla da rua fora do hospital, estava tomada pelos olhos cinzentos que perambulavam de um lado para o outro.

— Meu Deus.
— E não é só ai não, exitem  centenas rodeando todo o hospital. Por isso ainda estamos aqui — explicou Dick.
— Droga, eu não posso ficar aqui, preciso saber se minha esposa está bem.
— E você mora perto daqui? — perguntou Jezabel, aproximando-se de ambos.
— Não. Moro em Lakewood.
— Existe grandes chances dessas criaturas terem chegado lá.
— Ou não — pronunciou Pitt, se juntando ao trio — o governo pode ter tomado alguma providência antes desse surto ter se espalhado. Certo?
— Talvez — respondeu Dick — isso já deve estar rodando todos os jornais do mundo. É questão de tempo até tudo voltar ao normal e eles descobrirem o que causou essa nova doença.

— Eu vi dois deles — disse Patrick — e ambos estavam sem os lábios.
— Nenhum deles tem labios, isso facilita abrirem a boca e arrancarem sua carne em porções maiores. Alguns perdem boa parte do cabelo, nariz ou orelhas. Uma nojeira que só. Passei a madrugada fugindo dessas criaturas, vendo as pessoas serem mortas na minha frente.
— O que vamos fazer? — perguntou Pitt — afinal não podemos ficar aqui a vida toda, as portas desse lugar são de vidro, eles podem quebrar e entrar a qualquer momento.
— Não seria preciso quebrar, elas não ficam trancadas, se algum deles quisesse entrar precisaria apenas empurrar — explicou Jezabel.
— Primeiro precisamos de algo que sirva como arma — falou Dick olhando para os cantos das paredes.
— Eu tenho isso — Jezabel balançou a frigideira.
— Isso não serve para nada — Pitt criticou.

— Não serve é? Pergunta ao nosso amigo ai — ela apontou para Patrick.
— Me acertou com essa frigideira?
— Sim.
— Me sinto um idiota.
— Não se sinta, essa é uma das frigideiras mais pesadas e grossas desse hospital, faz mais estrago que uma martelada.
— Mesmo que tenhamos armas, como vamos passar por todos aqueles infectados? — quis saber Pitt.
— Boa pergunta — Dick não soube responder, até onde sabia, o hospital estava rodeado por criaturas carnívoras que davam grunhidos andando de um lado para o outro.

— Um passo de cada vez — pediu Jezabel — primeiro procurem os objetos para usar como arma, vocês estão se preocupando com as criaturas lá fora e se esquecendo das que estão aqui dentro. É melhor ter algo para se proteger, no caso de nos encontrarmos com algum infectado andando por esses corredores.
— Ela tem razão — concordou Pitt.
— É, então comecem a procurar — ordenou Dick.
Patrick ficou em silêncio, olhando para o nada, como aquelas criaturas moribundas na rua. Seus pensamentos estavam todos voltados para sua esposa e seu bebê. Não devia ter a deixado, agora se arrependia amargamente.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora