Mantimentos, Água e Alguns Mortos

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***

Patrick estava encontrando dificuldades para se livrar da horda de mortos que o seguia. As criaturas urravam e gemiam tentando alcançar a tão preciosa refeição que insistia em se distanciar.
Por onde passava ele atraía a atenção de outros infectados que perambulavam pelas ruas, estava ficando exausto e aqueles mortos pareciam possuir uma energia sem fim, o que dificultava mais as coisas.
Patrick virou uma rua a sua direita, esta possuía casas dos dois lados e havia alguns veículos espalhados pelo caminho, latas de lixo derrubadas e um poste debruçado sobre uma das residências, quase caindo sobre ela, a única coisa que impedia isso de acontecer era a fiação de luz.

Patrick sabia que precisava fazer algo urgente para se livrar daquelas coisas então usou suas últimas forças para correr até o fim da rua na intenção de dar a volta no quarteirão e assim retornar ao mercado.
Quando Patrick se aproximava da penúltima casa daquele local, viu um pequeno cachorro marrom emergir da rua a esquerda mas ele não estava sozinho, era perseguido por um grande grupo de mortos-vivos.
O cachorro passou por Patrick em disparada, mas parou de correr ao ver que daquela direção também vinham dezenas de mortos.
Patrick olhou para os duas direções, vendo que agora não haveria como concluir o plano inicial, estava cercado por mortos.

Ficou surpreso ao descobrir que as criaturas carnívoras perseguiam até os animais. O cachorro voltou a correr, mas dessa vez para a sua direita, indo em direção a uma cerca branca. Passou por debaixo dela e adentrou em uma residência que estava com a porta escancarada.
Os infectados estavam a apenas alguns metros de distância de Patrick e vinham em grande velocidade de ambos os lados. Todos deformados e esfarrapados. A única saída foi fazer o mesmo percurso que o cão.

Patrick pulou a cerca e seguiu em direção a porta da casa. O cachorro apareceu repentinamente e começou a latir para ele, como se o mandasse fugir para outro lugar.
— Vai se foder cachorro — falou, passando rápido pela porta e a fechando — você fode com meu plano e ainda quer latir pra mim.

O cão deu um último rosnado.
Patrick olhou tudo a sua volta, enquanto seus ouvidos eram perturbados pelo som das criaturas que aproximavam-se da casa.
Estava em uma  sala elegante, havia dois sofás cor de vinho de frente para uma TV luxuosa, uma escadaria levando ao segundo andar da casa e vários vasos de flores espalhados pelos cantos do lugar. A direita dessa escada Patrick avistou uma cozinha depois de um hall arredondado.

Foi até ela e começou a revirar os armários e as gavetas, a procura de algo que pudesse usar como arma. Pegou a primeira faca que encontrou pela frente e voltou até a sala após ouvir os golpes que as criaturas começaram a dar contra a porta.
Colocou a faca na cintura e correu até um dos sofás. Começou a empurra-lo na intenção de travar a porta. O cachorro vendo aquilo andou até Patrick e apoiou as duas patas dianteiras no móvel, tentando ajudar.

— Bom, toda ajuda é bem vinda, não é mesmo — enfim conseguiu travar a porta e aquilo devia servir, desde que as criaturas não encontrassem as janelas.
Patrick sentou-se no chão de frente para o sofá e o cão o imitou, ambos ficaram olhando para a porta, tentando adivinhar quanto tempo aquilo iria segurar as feras deformadas.
— O plano era outro até você aparecer e estragar tudo — Patrick passou a mão na cabeça do cachorro e o pegou no colo para ler o que havia escrito na bela coleira vermelha do cão — você é de um circo, isso explica muita coisa —  concluiu, ao ler a seguinte frase cravada na parte metálica da coleira:

Circo Fonzy, a felicidade é uma palhaçada.

Patrick ficou alguns minutos sentado, correr como um louco pelas ruas havia  o deixado exausto, mas não podia perder tempo, sua maior ambição no momento era retornar o mais rápido possível para o mercado e de lá seguir viagem para sua casa.
Ficou de pé e olhou novamente para todas as direções, buscando uma rota alternativa de fuga daquela casa. A esquerda da escada havia um corredor contendo duas portas, uma de cada lado.
Patrick andou até elas e abriu a da esquerda, revelando um cômodo escuro cheio de caixas empilhadas e alguns produtos de limpeza. Fechou a porta e abriu a da direita, este outro cômodo nada mais era que um pequeno escritório. Continha algumas estantes repletas de livros, um computador sobre uma mesa marrom no canto da parede ao lado de muita papelada.

Mas o que chamou sua atenção foi uma janela de vidro próxima a estante, ele andou até ela e teve uma ampla visão da rua que ficava atrás da casa, estava deserta, tudo que Patrick precisava para dar o fora dali. Colocou uma das penas para fora da janela mas antes de completar a fuga lembrou-se de algo.
Voltou o corpo para dentro e saiu do escritório. Segundos depois retornou até ele, mas dessa vez trazia algo debaixo do braço, era o pequeno cachorro marrom que havia atrapalhado seu plano inicial, não achava certo deixa-lo ali sabendo que a qualquer momento a porta iria seder e aquelas coisas entrariam na casa, devorando toda carne que encontrassem pela frente.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora