Tragédia Em Englewood

608 88 20
                                    


Denver, Colorado.

Patrick e sua mulher, Alexis, estavam sentados no sofá da sala, assistindo uma telenovela.
Patrick havia completado 26 anos no dia anterior, possuía uma barba bem feita e seus cabelos castanhos estavam bagunçados. Usava um short azul de pano fino e uma blusa branca.
Alexis, um ano mais nova que seu marido, usava apenas um pijama beje e seus longos cabelos loiros estavam impecáveis. Ela passava a mão pela grande barriga arredondada, em dois meses iria dar a luz ao primeiro filho do casal.
A telenovela que assistiam foi interrompida por um noticiário local trazendo uma notícia de ultima hora.
O apresentador do jornal, Dick Crisley, olhava atentamente para a câmera e começou a falar após receber o sinal positivo de um dos membros da equipe.

"Boa noite. A alguns minutos, um avião colidiu com um prédio comercial no centro de Englewood. Ele havia saído de Wyoming no inicio dessa tarde e estava indo rumo a Oklahoma. Não se sabe o que aconteceu mas há suspeitas de que pode ter sido um ataque terrorista. Neste exato momento, civis e profissionais se unem nas ruas próximas ao acidente para tentar ajuda as vitimas, o corpo de bombeiros também esta no local e tentam a todo custo apagar as chamas causadas pelo combustível da aeronave. Em breve voltaremos com mais informações.,"

— Englewood, fica bem perto daqui — disse Patrick, levantando-se as pressas.
— Onde está indo?
— Vou verificar tudo isso e ajudar também, talvez a minha equipe esteja lá.
— Mas você está de folga hoje.
— Amor — Patrick debruçou-se e beijou Alexis — eu decidi me tornar um bombeiro para poder ajudar as pessoas em ocasiões como esta.
— Mas...
— Sem mas — Ele pousou sua mão sobre a barriga de sua esposa — já pensou quantas mães e crianças estão precisando de ajuda nesse momento? Sei que deve haver muitas equipes de resgate cuidando de tudo, mas toda ajuda é bem vinda.
— Você ouviu o que o apresentador disse? Há suspeitas de que pode ser um atentado terrorista, e se... acontecer algo com você? E se outro avião cair?
— Nossa — Patrick riu — isso não é 11 de setembro amor. Eu prometo voltar para você, só vou ir até lá ver se consigo ajudar com alguma coisa, posso até ser nomeado como o bombeiro herói da pátria.

Em poucos minutos, Patrick estava dentro de seu veículo, girando a chave na ignição. Alexis observava tudo da janela da sala, preocupada com seu marido, mas aquilo também a fazia ter orgulho dele, mesmo de folga, estava se disponibilizando a ajudar pessoas feridas. Ela pegou o celular e ligou para sua mãe enquanto olhava o carro de seu marido desaparecer rua a fora.

Não demorou muito para alguém atender.

— Alô — era uma voz masculina.
— Pai?
— Alexis?
— Sim, sou eu. Por que está com o telefone da mãe?
— Ela está tomando banho, aconteceu algo?
— Você viu o noticiário?
— Sobre o avião?
— Sim
— Acho que a essa altura todo mundo viu. Mas por que está me perguntando isso?
— O Patrick foi para lá ajudar as pessoas, pelo que vimos na reportagem, a coisa está muito feia. Deve haver feridos para toda parte.
— Acredita que foi um atentado?
— Eu não sei, mas espero que tenha sido apenas algum problema com a aeronave. Acreditar que isso foi feito por alguém me dá a certeza de que a humanidade esta mesmo perdida e sem salvação.

***

Patrick cruzava uma rua movimentada, ligou o rádio para ver se havia alguma nova informação sobre a tragédia mas não conseguiu encontrar nenhuma estação que estivesse falando sobre o assunto.
Vinte minutos depois, estava em Englewood e seguia para o centro, onde esperava encontrar alguma utilidade para suas habilidades como bombeiro.
Não gostava da ideia de deixar sua esposa sozinha, mas aquelas pessoas precisavam de ajuda, quem sabe até mesmo mulheres grávidas como Alexis.
Passado mais alguns minutos, Patrick podia ver claramente uma grande nuvem de fumaça que subia aos céus no horizonte entre os enormes prédios, agora só precisava seguir o rumo daquele céu esfumaçado para encontrar o local exato do acidente. Pisou fundo no acelerador, cada segundo perdido ali era um pedido de socorro não atendido.

Em menos de dez minutos, Patrick se encontrava na rua principal do acidente, agora só precisava seguir em linha reta. As passarelas estavam lotadas de pessoas. O que achou estranho foi que elas corriam na direção aposta do acidente.

Será que algo explodiu?

Pensou, mas daquela distância teria ouvido, caso fosse isso. Continuou seguindo e em apenas um minuto presenciou duas ambulâncias passando por ele, as pressas, certamente indo ruma ao hospital local.
Patrick se espantou ao avistar o prédio cujo o avião havia colidido, boa parte da aeronave havia adentrado no quinto andar, varrendo tudo que via pela frente.
O incêndio no prédio foi causado pelo combustível do avião que se espalhou rapidamente na batida.
A rua estava tomada por ambulâncias, viaturas e bombeiros, que banhavam o andar com litros e mais litros de agua, enquanto as equipes de resgate retiravam as vitimas de dentro do prédio, que corria risco de desabar.
Enquanto continuava a se aproximar, fitou uma das vitimas, esta se debatia sobre uma maca que era empurrada por dois paramédicos.

Viu também que pela entrada principal do prédio, um homem pegando fogo saiu andando lentamente, meio moribundo, como se nada estivesse acontecendo com seu corpo. Patrick ficou com os olhos vidrados naquilo enquanto parava o carro mas antes que pudesse sair do automóvel, tudo ficou escuro.

***

Patrick abriu os olhos, sua visão estava embaçada e ele sentia uma leve dor de cabeça. Percebeu que se encontrava deitado sobre uma superfície sólida e lentamente foi se recordando dos últimos acontecimento: estava em seu carro, olhando uma das vitimas se debater na maca, quando tudo ficou escuro. Aquilo não fazia nenhum sentido.

Sua visão finalmente voltou ao normal e ele sentou-se com dificuldades, suas costas também estavam doendo. Olhou em volta percebendo que estava sobre uma maca, num corredor de um hospital. Havia outras dezenas de macas espalhadas pelo local e algumas se encontram ensangüentadas, assim como o chão.

Se levantou da maca, olhando em todas as direções a procura de alguém que pudesse lhe dar respostas. Foi quando seus olhos ficaram fixos em uma das janelas do corredor, do lado de fora pode ver um pequeno pátio, no centro havia um chafariz bem iluminado pela luz do sol.

— Já está de dia?

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora