O Hospital

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Patrick começo a andar entre as macas a procura de algum ser vivo que pudesse ajuda-lo. Verificou os bolsos a procura de seu celular, mas se lembrou de que este estava no banco do seu carro.
Fitou um grande relógio de ponteiro no topo da parede a sua esquerda, marcava exatamente 8:45 da manhã.
A mente de Patrick entrou em uma confusão sem fim, num momento estava em seu carro, no outro acordava sobre uma maca. Pensou em Alexis, iria precisar de uma boa explicação para acalmar a fera que ela devia estar, mas antes de dar respostas a ela, ele precisava buscar respostas para sí mesmo.

Cruzou o longo corredor repleto de portas, algumas estavam trancadas e outras escancaradas, mas sem nenhum sinal de vida. Tudo aquilo era muito estranho, onde estava os pacientes e os funcionários? De quem era o sangue sobre o chão perto as macas? Todas perguntas sem respostas e isso estava deixado Patrick cada vez mais preocupado.
Virou o próximo corredor a esquerda e ficou aliviado em finalmente ver alguém, havia uma mulher a alguns metros de distância, perto a um bebedouro. Estava parada olhando para frente, sem nem se quer se mexer. Ela usava um vestido azul escuro e seus longos cabelos ruivos estavam soltos.

— Oi — disse Patrick, se aproximando as pressas — pode me ajudar? Eu ainda não vi ninguém neste hospital.

A mulher virou-se sorrateiramente. Patrick parou de andar após ter uma visão completa dela e apenas alguns passos de distância os separavam agora.
Ele ficou sem reação diante do que seus olhos presenciaram, aquela mulher não possuía lábios e seus olhos estavam completamente esbranquiçados. Ela mexeu o maxilar e em seguida deu um grunhido indo em sua direção.

— Que diabos está fazendo? — perguntou, enquanto ela esticava os braços para o agarrar. Ele a segurou pelos pulsos e firmou os pés no chão, devido a força descomunal que ela estava exercendo sobre ele. A mulher tentava a todo momento abocanhar os braços de Patrick enquanto se debatia na tentativa de se soltar para poder mastigar sua presa.

Vendo que seria impossível dialogar com aquela criatura deformada, Patrick soltou seus pulsos e disferiu um forte chute, fazendo a mulher dar três passos para trás. Mas ela voltou a vir em sua direção urrando como se nada houvesse acontecido.
Patrick começou a dar passos para trás, com seu olhar focando nos olhos brancos daquela criatura a sua frente. Seria algum tipo de doença? Se perguntou, descendo os olhos até a boca sem lábios da mulher.

Enquanto dava passos para trás, Patrick pode ver que mais alguém surgiu no fim do corredor, era um homem, usando uniforme de zelador. Ele não possuía lábios e os olhos também estavam brancos, o que levou Patrick a acreditar que realmente se tratava de algum tipo de doença.
O zelador começou a correr na direção de ambos, urrando. Patrick sem outra alternativa teve que sair as pressas procura de algum esconderijo. Ambas as criaturas se puseram a correr atrás dele.
Patrick parou perto a uma das portas escancaradas que havia visto antes, olhou para o corredor e aquelas pessoas continuavam a segui-lo com as bocas abertas demasiadamente

Adentrou rápido no pequeno quarto e fechou a porta, agora entendia o porque do hospital estar praticamente vazio. Por ali não havia quase nada, apenas uma cama, uma prateleira com alguns medicamentos e alguns produtos de limpeza no canto da parede.
Não demorou muito para que as criaturas do lado de fora começassem a dar golpes contra a porta, a procura de carne humana. Patrick olhou novamente para todos os cantos daquele cômodo, vendo se havia algum objeto que pudesse usar para se defender caso aquelas coisas entrassem. A maçaneta começou a girar, fazendo os bastimentos cardíacos de Patrick acelerar.

***

As criaturas moribundas deram passos lentos para dentro do quarto, enquanto seus olhos brancos e sem vida percorriam cada sentimento do local a procura de um ser vivo para saciar sua fome. O zelador andou, desajeitado, de um lado para o outro, mas não viu nenhum sinal do homem que havia entrado naquele quarto.
A mulher fazia o mesmo, enquanto pressionava os dentes.
Em baixo da cama, Patrick tentava não fazer nenhum barulho para não atrair a atenção daquelas coisas assustadoras que perambulavam de um lado para o outro. Dali de baixo, ele conseguia ver apenas os pés daquelas pessoas que estavam longe de desistir daquela caçada.

Patrick não queria perder tempo ali, estava preocupado com sua esposa e rezava para que aquela doença estivesse restringida apenas a aqueles dois. Não queria nem imaginar o que poderia acontecer se ela se espalhasse, seria um caos, pessoas atacando pessoas sem nenhum motivo aparente.
Deitado de bruços sobre o chão frio, Patrick começou a pensar em alguma maneira de afastar aquelas criaturas do quarto, ou então esperar uma brecha par poder sair correndo em disparada, a procura da saída do hospital. A mulher estava bem próxima da cama, parada, olhando para o nada. O zelador fez a mesma coisa, ficou imóvel perto a prateleira de medicamentos.

Saíam logo daqui seus desgraçados.

Pensou Patrick, vendo que aquilo poderia demorar mais do que imaginava. Não havia outra maneira, o jeito seria se arrastar para fora da cama sem ser notado e correr para bem longe.
Ele girou um pouco o corpo e levou lentamente a cabeça para fora, ficando bem próximo as pernas de uma das criaturas.
A esquerda havia o zelador, parado perto a prateleira, a direita a mulher, quase encostando na cama.
Patrick esquematizou todo o plano em fração de segundos: iria rastejar entre aquelas coisas sem fazer barulho e sem ser visto, isso talvez fosse possível, já que ambos os moribundas não estavam olhando para baixo.
Ficou mais alguns minutos apenas observando, pensando no quão arriscado aquilo seria. Lentamente se arrastou um pouco, retirando os ombros debaixo da cama, quase deixou seu braço direto tocar em uma das pernas da mulher.

Olhou para o zelador, que ainda estava parado com o olhar perdido no vazio, a espera de um simples barulho que pudesse dar a localização de sua presa.
Patrick arrastou-se mais um pouco, parou e fitou ambos as criaturas novamente, se certificando de que tudo estava dando certo.
Não fazia a menor ideia de qual doença aquelas pessoas contraíram, não conhecia nenhuma que fizesse um ser humano agir de tal maneira.
Se esgueirou mais alguns centímetros como um soldado que se arrasta por baixo de uma cerca em meio a guerra.

Patrick ficou apreensivo quando o zelados ameaçou se virar para a direita, se ele fizesse aquilo iria facilmente avistar o pedaço de carne que tanto procurava ao adentrar no quarto. Mas ele apenas deu um grunhido e voltou a ficar imóvel.
Patrick continuou a efetuar seu plano, havia retirado boa parte das pernas debaixo da cama, quando um barulho repentino de algo caído veio do corredor, fazendo seu coração disparar outra vez, esperando pelo pior.

A mulher se virou para a porta escancarada e em seguida o zelador fez o mesmo, mas este avistou Patrick e deu um urro, vindo em sua direção.
Patrick terminou de sair debaixo da cama e deu passo desesperados até a porta, tropeçando no chão liso. A mulher agora estava na sua frente, também andando até a porta, a procura do barulho que havia escutado.
Patrick a deu um tronco para a direita, como um zagueiro tentando tomar a bola de um atacante que esta indo em direção ao gol. A mulher foi lançada na direção da parede e acabou batendo a cabeça com força, abrindo uma lacuna perto a sua orelha.

O zelador, vendo que Patrick corria para fora do quarto, começou a fazer o mesmo, perseguindo sua vítima pelo corredor.
Patrick olhou para trás e viu que estava sendo seguido, voltou sua atenção para frente e a alguns metros havia uma outra porta aberta.
Ele então correu até ela e adentrou em um quarto parecido com o anterior, olhou para todas as direções e soube o que precisava fazer.
Escorou a porta, andou até um aparelho retangular sobre uma mesinha ao lado da cama e ficou encostado na parede perto a porta.

Em poucos segundos o zelador empurrou a porta com brutalidade e andou até o centro do quarto, olhou de um lado para o outro e antes que pudesse encontrar sua presa, Patrick veio por trás e destruir o crânio do homem usando o aparelho que segurava.
O zelador despencou no chão, imóvel como um cadáver. Patrick sentiu remorso ao ver que havia tirado a vida de um homem, mas não viu outra alternativa, não pretendia morrer agora sem nem ao menos ver seu filho nascer.
Saiu para fora do quarto e nesse mesmo instante foi golpeado no rosto por um objeto sólido e desmaiou sem sequer ver quem era o agressor.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora