Mantimentos, Água e Alguns Mortos

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Ela continuou a andar em sua direção, mexendo constantemente os dentes expostos.
— Ei — Pitt chamou a atenção de Patrick — vê se não vacila ai.
— Ela esta grávida — ele pensou em Alexis, sentiu medo de que aquilo também tivesse acontecido com sua esposa.
— Ela vai te matar se ficar parado — Pitt golpeou um dos infectados que se aproximou da garagem, era um homem de meia idade.

Patrick continuou com os olhos vidrados na barriga arredondada daquela criatura, pensava se ali dentro havia uma criança inocente que morreria caso ele a matasse.
Só foi liberto da paranóia quando a criatura avançou com os braços erguidos, agarrando seus ombros com as maos sujas de sangue e levando os dentes rapidamente até seu rosto, tentando arrancar uma fatia de carne.
Patrick em resposta deu um passo para trás e empurrou aquela coisa nojenta, mas isso não foi o suficientemente, ela voltou a avançar e dessa vez com mais brutalidade. Ele deu mais alguns passos para trás na tentativa de conter a força daquela coisa deformada.

Patrick acabou tropeçando e ela caiu sobre ele, no mesmo momento em que Pitt tentava conter um outro infectado. A mulher rosnava cada vez mais alto, a cada tentativa frustada de acertar a carne de Patrick com os dentes. Ele sabia que se fosse mordido ou arranhado iria se transformar em uma daquelas figuras de olhos brancos, por isso tentava resistir a todo custo.
Algo atravessou o crânio da mulher e saiu em seu olho direito, a matando instantâneamente. Era a barra de  ferro que Pitt segurava, ela enfim havia conseguido eliminar a criatura que a importunava.

Patrick empurrou o corpo pesado da infectada e ficou alguns segundos fitando sua barriga.
— Patrick, caralho! — Pitt gritou, mas logo se arrependeu ao ver que isso atraiu a atenção dos outros olhos cinzentos na rua — quer morrer imbecil? Pra que serve essa porra de facão?
— Ela está grávida, e se o bebê estiver vivo? E se ele não estiver infectado? — tentou se justifica, enquanto punha-se de pé.
— Era ela ou você. Não tem como um bebê continuar vivo dentro da barriga de uma dessas coisas, não mesmo.

Ambos olharam para a rua, notando a quantidade de infectados que aproximava-se da garagem.
Ouviram o som do carro ligando e aquilo foi musica para os seus ouvidos. Daniel deu partida e saiu para a rua, atropelando todos os mortos-vivos que via pela frente, abrindo uma brecha para que Pitt e Patrick entrassem no veículo.

***

— Em outras ocasiões eu iria andando — disse Daniel, enquanto distanciavam-se de sua casa.
— Andar com essas coisas por ai é suicídio — mencionou Pitt, estava sentada em um dos bancos traseiros, apenas observando os demais infectados andando pela calçada.

Por onde passavam avistavam casas com as portas escancaradas, completamente abandonada por seus respectivos donos. Também haviam alguns carros espalhados pelas ruas, alguns acidentados, outros com as portas abertas e até mesmo com algumas pessoas desfiguradas dentro.

— Eles realmente são muito lerdos — disse Pitt, olhando para um veículo, neste também havia um morto-vivo.
— Talvez, mas lá no hospital um deles abriu a porta do quarto em que eu me escondi.
— Podem ser diferentes — Falou Daniel, fazendo uma curva enquanto os moribundos do lado de fora batiam freneticamente as mãos contra o veículo.

— Diferentes ou não, espero que esse surto acabe logo. Tenho certeza que já devem estar buscando uma solução para tudo isso — disse Patrick.
— Eu não contaria com isso não —Pitt não gostou de suas próprias palavras, mas precisava levar em conta o nivel de gravidade daquilo tudo.
— Por que diz isso?

— Como você mesmo ouviu, isso está acontecendo em todos os continentes e diante de tudo isso as pessoas tendem a se esconder e proteger suas famílias. Não importa se seja um soldado, general, líder de pesquisas biológicas. Enfim, todos. Pode ter certeza que nesse momento até os presidentes estão escondidos com suas milhares de caixas de alimento.

— Mesmo assim, algum centro de pesquisas deve estar analisando uma dessas coisas e tentando descobrir como curar as pessoas que foram infectadas.
— Não tem como curar essas pessoas Patrick, elas estão mortas, sem boca, sem cabelo. A putrefação na carne delas não te diz nada não?

Patrick deu um suspiro, tendo que encarar a verdade nas palavras de Pitt. Ele começou a encarar cada olho cinzento que via pela rua, tentando encontrar pelo menos um que pudesse voltar ao normal. Mas não encontrou nenhum, todos estavam praticamente na mesma situação.

Faltavam membros, o rosto de alguns infectados encontrava-se completamente esfolado. Mesmo se houvesse a menor possibilidade de um dia voltarem a ser como antes, a aparência continuaria grotesca e nojenta.

— É no fim dessa rua — alertou Daniel, fazendo a ultima curva para a esquerda.
Nesta rua haviam cerca de oito a dez moribundos, que logo perceberam a aproximação do automóvel e começaram a andar em sua direção.
— Fiquem preparados — pediu Patrick, segurando firme o facão, dessa vez não podia exitar em matar uma daquelas coisas ou nunca mais veria sua esposa.

— Vamos ter que matar todos eles? — perguntou Pitt, temendo que aquela quantidade fosse perigosa demais.
— Eu não sei, depende de como o mercado vai estar. Podemos tentar entrar e fechar as portas.
— Vocês não precisam se arriscar por mim — disse Daniel, aproximando-se do estacionamento do mercado,
enquanto os mortos cercavam o carro aos poucos, gemendo e grunhindo.

— Já esta decidido Daniel, vamos te ajudar e ponto final. Eles são lerdos, só precisamos abrir caminho e correr deles, sem ter que enfrentar todos — Patrick falou, fitando uma das entradas do mercado, esta estava aberta, o que trazia a hipótese de que poderia haver mais infectados perambulando lá dentro.

Todos se prepararam para abrir as portas do veículo, sem terem a menor noção do perigo que iriam correr após cruzarem a entrada daquele mercado. O inimigo que os aguardava era mais cruel e impiedoso do que as criaturas que cercavam o carro.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora